terça-feira, 22 de janeiro de 2008

sociabilidade

Você é um ser sociável?
Ensinaram-nos na escola a fabulosa arte de conviver em sociedade e o mais importante: a usar o papel-higiênico. Aprendemos a sorrir amigavelmente para salafrários, a dizer "por favor", "obrigado" e "licença", aprendemos a suportar com alguma classe todos os estereótipos desprezíveis que existem por aí: das pessoas burras ao marido vigarista da sua tia. Eles nos disseram que temos até os nossos direitos civis e constitucionais assegurados.
Mas como tudo tem o seu revés, as pessoas burras começaram a dar opiniões demais e encheu. A minha mãe começou a brigar demais e encheu. O centro da cidade começou a ficar cheio demais, com todo mundo trombando em mim e encheu. A superbalada só tinha croquete de queijo e encheu. O marido vigarista da minha tia começou a roubar demais e encheu. E pra piorar, descobri que os meus democráticos direitos civis resumem-se a não poder voltar tarde pra casa pra não ser molestada.
Cadê a minha bolha?
Na ausência de uma, resolvi reeducar a minha sociabilidade. Concluí que mandar pessoas burras à merda resolve tudo em 3 segundos. Que responder às provocações da minha mãe não ajuda, mas liberta a alma. Que "licença" não move corpos do meu caminho e que atropelar as pessoas na calçada é que faz surtir efeito. Que vomitar o croquete de queijo na roupa do garçom salva meu organismo e futuras gerações. Que ofender publicamente o marido vigarista da minha tia cala a boca dele por um bom tempo. E que direitos civis assegurados pela Lei são para os fracos, que bom mesmo são planos indecorosos de aniquilação em massa.
Viva la revolución!

férias = decadência mental

Andei pensando em como eu aproveito os meus dias, é idiota pensar nisso quando se está de férias. Acordo às duas da tarde e passo o restante do tempo sem fazer nada de útil. É decadente!
Engraçado que uma pessoa tão desleixada intelectualmente como eu possa, à essa altura do campeonato, sentir falta da faculdade e de toda a chateação que ela implica na minha vida. Eu vivo reclamando que preciso de férias, mas eu ODEIO férias, porque me sobra muito tempo pra pensar e, conseqüentemente, sofrer, já que não me resta outra escolha senão me ocupar com todos aqueles velhos hábitos depressivos.
Eu fico sentada numa cadeira com um cigarrinho na mão, olhando o mundo, vendo-o como um reflexo avariado no espelho e botando defeito em tudo. Leio os existencialistas, escuto Radiohead, fumo compulsivamente, escrevo esporadicamente porque tenho bloqueios criativos e ainda arrumo tempo pra dar corda pras retardadices da destrambelhada da minha mãe.
Eu tenho que estar sempre ocupada demais. Ir a um bar, à aula, dar uma estudada, ir à aula, ir a um bar, ficar puta com o Vasco, deixar de dar aquela estudada, tirar uma nota baixa, voltar pro bar pra afogar as mágoas, infartar por causa do Vasco, matar algumas aulas. As coisas de sempre. Muda um detalhe ali, outro aqui, mas no final das contas, são as mesmas bostas todo mesmo dia.
Esse é o problema: quando eu me toco e resolvo mudar, dá errado. Eu aposto no 13 preto e só dá 7 vermelho e quando eu crio a tal da coragem para apostar no 7 vermelho, dá 23 verde-fluorescente. É um jogo desgraçado de azar que por mais que eu tente fugir disso, simplesmente não consigo.
Então vem aquela vozinha ¨olha Sarah, não dá! Erga a bandeira branca, peça penico, conforme-se, vá tomar uma cerveja no Brasil Chopp a R$3,40, beijar uns ninfos-bebês de bermuda florida e falar de novela¨.
Mas ainda assim eu continuo me envolvendo com pessoas inferiores à mim pra que eu possa ter algo do qual eu possa reclamar. Ou então com pessoas que tenham tantos problemas emocionais quanto eu, pra que eu possa absorvê-los e torná-los meus.
A verdade, é que essa maratona de atividades me faz esquecer que eu não me permito amar, e vivendo essa vidinha bitolada eu fico sem tempo pra pensar nisso. Mas é claro que isso não passa de uma justificativa imbecil pra minha auto-suficiência em relações humanas. É triste. Hahaha!
Credo! Nunca pensei que diria uma coisa dessas, mas eu preciso voltar a estudar, e rápido!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

o otimismo de uma cínica

Eu tento me entender. Juro que tento. Venho colocando os fatos em preto-e-branco, expurgando as minhas vísceras e dando-as de presente pra todos numa bandeja de prata. Mas há algo que tá atravancando o bom entendimento das coisas. O que ontem me era tão certo, hoje me faz suscitar dúvidas.
Tenho olhado pra aquelas coisas incertas e observado que, acerca da minha vida, tudo que soava estranho foi, na verdade, de alguma forma muito intenso e especial. Enquanto aquelas que eram seguras já não me atraem e não causam nenhuma curiosidade. Não há mais cumplicidade, química. Minhas verdades insólitas transfiguradas em apatia e descrença.
Nunca tive a pretensão de erigir-me como novo ídolo, exemplo de conduta, rainha da ética, até mesmo porque, eu descartei tudo isso do meu cotidiano. E é só vir aqui pra perceber que eu realmente não vivo. E nunca negligenciei nenhuma espécie de depoimento sobre mim mesma, porque eu sou assim e assado, e acima de tudo, não me confundam!
Quiçá seja apenas uma perversão publicitária tudo isso. Ou ainda, eu tenha tido a misericórdia de me olhar com menos crítica e mais descompromisso. Uma mostra frágil de indício de vida inteligente por aqui ao abrir mão da minha auto-defesa.
Eu levo uma vida sob a chuva. Uma chuva chata que não molha, mas que adoece. Onde meus personagens correm sob a chuva. São atropelados pela chuva. A chuva repercute todas as minhas estações, afinal. O que muda, vez ou outra, é a forma como as pessoas que passam pela minha vida reconhecem coisas tão alheias e ao mesmo tempo tão íntimas.
E então, depois de algum tempo convivendo comigo, elas passam a ter a sensação de caminhar em uma cidade fantasma, onde tudo range e é arrepiado. E a esses olhos doentes e incapazes de ver além-da-esquina, eu não passo de uma voz rouca, amargurada e irritante, que incita verdades insuportáveis.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

fernando pessoa - aniversário

"No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos!.."


(15/10/1929)

Parabéns pra mim néam!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

gato por lebre

As pessoas nunca entenderam a minha relação com a bebida. Desde os meus 14 anos elas me vêem sentar em um bar e ingerir uma quantidade de álcool suficiente pra embebedar um time de futebol e fumar 3 maços de cigarro numa boa. Alguns pensam que é por causa dos meus pais, porque eles se embriagavam por aí e davam espetáculos que fazem a Amy Winehouse parecer uma lady.
Não tem nada a ver. Eu gosto de beber. Gosto, preferencialmente, de beber muito. Acho que gosto de beber mais do que meus pais. Eu não sei sentar num bar e tomar 3 cervejas civilizadamente. Eu sento e tomo 12 com a sensação de que deveria ter ido além. Beber socialmente pra mim significa beber em sociedade. Mas não posso culpar meus pais pelas minhas fraquezas. Eles fizeram o melhor, pagaram escola, pagam a faculdade e continuam me dando de tudo, mesmo que eu cague na retranca.
A raiz disso está nas sementes que eu plantei, no meu culto à melancolia, no meu gênio azedo, nos caminhos errados que escolhi. Essa vida desregrada que optei por levar é alucinante, meio charmosa e meio desesperada, mas me faz escrever, então eu vejo que não sou uma completa inútil inconseqüente, a sensação de "desimportância" fica mais amena, o mundo fica menos pesado.
Eu já acordo pensando "Mas que puta merda! Pra agüentar mais um dia enfastiante, só tomando umas cervejas". Porque me é difícil acordar pra mesma vida chata e frustrada que deixei pra trás ao dormir. É ruim lembrar que existem pessoas maldosas e que vão tentar me machucar mais e que não importa o fato de eu ser legal, porque elas não sabem disso e não fazem a mínima questão de saber.
Ainda adolescente, descobri a maconha e achei a coisa mais sensacional do mundo. Substituí. Adotei como minha nova válvula de escape da vida. Mas depois de um tempo aquela merda passou a me deixar num clima ainda mais fodido, porque a mentalidade da maconha anula as pessoas. Enquanto a idéia do álcool tem muito mais a ver com "Oi! Eu sou a Sarah, simpática, extrovertida e feliz! Por isso eu vou roubar um cavalete agora!". Com o álcool você dá vexames mas ao menos você não vira uma goiaba.
Eu alternei a bebida com a erva, mas acabei voltando ao começo e ficando só com a bebida. Sabe, se você tem inclinações por vícios, você acaba trocando um veneno pelo outro.
Sobre a minha relação com o álcool, eu digo que ela é muito intensa, íntima e perigosa. É uma relação de amor e ódio, que alternam noites maravilhosas, divertidíssimas e incríveis, e momentos péssimos que me causam problemas sérios.
E se me perguntam se eu não tenho medo de me expor sobre isso, a resposta é não! Pra falar a verdade, eu nunca dei importância a essas pessoas bitoladas que se preocupam demais com as aparências, eu ignoro completamente. Quem tá na chuva é pra se molhar. Eu só não aceito que elas fodam ainda mais com a minha vida porque eu não sigo a maioria dos padrões.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

o primeiro post do ano

Sintam o drama do primeirão de janeiro. Ressaca filha da puta. A primeira ressaca do ano. A primeira de muitas.

°PROJETO ENCURTANDO A VIDA ADOIDADO°

Metas para 2oo8:
- bater recordes
- reduzir a expectativa de vida

Se joga, bee!


The look of satisfaction:

(Lembrando que eu NÃO MISTURO e que eu não queria beijar a garrafa, ok?)