quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

alguma preguiça de viver

Anda fazendo calor. Tanto calor que chega a fazer frio. Quente como os fiapos do tempo que há muito se passou e frio como o tempo que eu vivo agora.
Estou só. Longe da vida que todo mundo vive, distante das certezas efêmeras. Estou só porque sempre fui assim. Faz parte de mim, da minha natureza.
Mas confesso que ando cansada dessa gaiola, desse viver desengonçado cujo único objetivo é sobreviver a só mais um dia. Falta-me tanto!
Não se pode ser feliz. Pelo menos perfeitamente feliz. É algo utópico (a perfeição é inalcançável). Mas então por que me sinto triste? Por que o mundo de sempre, as caras de sempre, as piadas de sempre, as diversões de sempre pouco mais me conseguem arrancar sorrisos aeróbicos e descontentes? Tédio ou cansaço de viver? Talvez um, ou outro. Talvez ambos. Provavelmente nenhum...
Há vontade tão em mim de ser mais alta. De não me contentar com a terra se eu posso ter o céu. De me soltar de outras regras e de outras amarras e dar um grito do Ipiranga. Conhecer um admirável mundo novo que pode estar ao virar da esquina e no qual eu nunca entrei. Por medo? Por ignorância? Provavelmente por ambos...
E já não tenho tanta força pra remar contra a maré. Eu só tenho seguido o curso. Navegando pra onde quer que vá. Porque assim é a felicidade, não um porto, mas uma viagem. A minha embarcação parte ao meio-dia. Não há despedidas. Não há lágrimas. E ninguém sabe explicar a partida. Eu sou a tripulação perdida de sonhos que o vento escondeu.
Pode até ser que o meu destino traga a minha ilha. Solitária como não poderia deixar de ser. Mas minha. E também o querer fazer algo de diferente. Algo que deixasse a minha marca. Algo que mudasse as coisas, as mentalidades, que fizesse daqui um mundo melhor. Algo que fizesse me sentir um pouco mais útil do que um monte de esterco solitário.
E então as mesmas caras voltariam a fazer sentido, as piadas seriam piadas de novo, as diversões fariam de novo divertir. Porque essas não mudaram. Fui eu que mudei.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

ação

Às vezes é preciso dar um passo atrás pra poder dar dois pra frente. As coisas nunca deram muito resultado. Sou muito orgulhosa. Tudo sempre foi intenso demais e pouco natural. Mas não quero alguém pela metade. Quero alguém por inteiro. Sem medos, sem pressões, sem mais responsabilidades.
Disseram-me que o tempo é o melhor conselheiro, o remédio pra todos os males. Mas que bobagem! O tempo não muda os fatos. O tempo não cura as feridas abertas. O tempo só desloca o foco da nossa atenção.
Há certos momentos essenciais na vida que pedem ação, poder de decisão e, porque não, personalidade forte. Deixar tudo na expectativa e não arriscar, normalmente, é sinônimo de fracasso. E às vezes, algumas coisas até têm tudo pra dar certo. Às vezes só falta aquele pequeno grande passo pra mudar tudo. Um olhar. Uma dança. Uma SMS. Sei lá. Arriscar, porra!
Não arriscar nem sempre é próprio apenas dos fracos. É próprio de quem não sabe ao certo o que quer. Sinônimo de fraqueza é desistir do que desejamos. Não saber o que se quer é muito mais complexo. Vai além do indefinível.
Deve ser isso o que chamam de maturidade. Tomar decisões e enfrentá-las. Agarrar todas as oportunidades que a vida oferece com unhas, dentes e, sobretudo, com equilíbrio. Saber dentro da gente o que queremos, quando queremos e quem queremos.
Curioso é notar que tantas vezes eu já soube o que eu queria. Já tive a mais profunda certeza dos meus sentimentos e ações. E também fui fraca, mais do que uma vez, por desistir do que eu desejava. Mas não me lembro, pelo menos tão esmagadoramente, de não saber absolutamente nada sobre o que queria, de não ter traçado objetivos e metas.
Pelo menos agora.
Não me sinto mais devastada sobre essa realidade. Sinto-me apenas realista. Tenho que procurar me encontrar. E a pressa nunca foi a melhor amiga de uma busca bem feita. Mas também tenho urgência de viver. E neste dilema, nesta dicotomia entre a procura de uma identidade e a necessidade de viver, eu deixo as chances escaparem por entre os dedos.
Porque tudo pode ser pouco mais do que uma fuga à realidade, uma forma de me esconder do mundo e dos problemas que eu tenho que enfrentar, das decisões que já não posso adiar. Ou então seja um simples medo do fracasso, porque talvez bem no fundo eu até já saiba o que eu quero.
(Ou quem eu quero).
E só não tenha tido a coragem ou a maturidade necessária pra alcançar esse objetivo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

idiotice não tem limites

E não tem mesmo!
Nem sequer a mesquinhez e a necessidade de auto-afirmação a qualquer custo. Felizmente, a amizade tem. Embora pra mim houvesse muito tempo que não. O meu encontro com o fim foi como reencontrar alguém depois de muito tempo: um encontro caloroso. Já tava na hora de ficar esperta, né dona Sarah!
Eu não tô nem um pouco a fim de ser espezinhada e tampouco me digno a ser motivo de divertimento de pessoas que não têm absolutamente nada na cabeça e, por isso mas não só por isso, não merecem uma palavra minha.
Eu tenho mais o que fazer. Tenho mais vida. Tenho mais anseios. Tenho outros amigos e, sobretudo, não me limito à uma existência retardada e miserável, não me restrinjo à uma mentalidade provinciana, tacanha e retrógrada.
Esses tipinhos carregam consigo um sentimento tão pretensioso de superioridade e de super-importância que me dão uma vontade incontrolável de gargalhar da ignorância deles. As Últimas Bolachas do Pacote. Tenho pena dessas pessoas que nunca serão nada mas serão sempre a mesma coisa.
Elas podiam até ser melhores, mas não. É difícil se olhar no espelho. Elas apenas continuam optando pela forma mais fácil de viver: a vazia. Optam pela mediocridade, pela afirmação por meio de idiotices, querendo ter graça sem serem engraçadas, lutam pra se destacarem e traem os amigos. Opa! Amigos? Isso não se faz aos amigos.
Seria inveja ou um modo parvo e estúpido de viver e estar na vida? Não sei. Foda-se! Mas sei que não faço parte disso (graças a Deus!) e também não estou aberta à desculpas e segundas chances. Já não é a primeira vez que fodem comigo.
Por que não? Por valores. Por princípios. Por tudo o que o "Não" apregoa e que faz tão sentido para o "Sim". Pelo significado disso tudo que elas desconhecem, porque são pessoas muito burras mesmo.
Também porque mais do que um atentado à minha amizade, foi uma falta de respeito e educação. Mas é evidente que essas coisas eu não poderia esperar dessa gente mesmo.
E assim elas continuarão. Miseráveis, mentalmente vulneráveis, com os seus joguinhos, as suas putas, os seus garanhões, as suas intrigas e as suas merdices.
Eu também posso ser miserável, mas tentarei pelo menos ser sempre honesta.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

poetas: way of life

Sempre gostei de ler, mais ainda de escrever. Escrever é uma das coisas que mais gosto de fazer. Nesse mundo parelelo da escrita não há tabus e não há pudores, resumindo, não há vãos na escada. Eu posso ser uma clériga sofrida ou uma pacata vilã, sem qualquer restrição ou preconceito. O único limite é a minha criatividade, ou melhor, o grau do ângulo por onde eu examino os fatos.
Tudo bem, nunca encontrei a perfeição, mas também não deixei de a ambicionar e, principalmente, de ser exigente quanto a isso. Encontrei uma função menos massante e mais sensata pra a minha autocrítica, afinal. O que não significa que quero ser uma Vencida na Vida, sentar e dizer "isso é o máximo que consigo fazer", porque eu sinto que não escrevo somente pra mim, sinto que isso é muito mais do que isso. E se alguma coisa no mundo ainda faz sentido pra mim, essa coisa é escrever.
E 2007 foi estranho, um ano denso, conturbado, que me fez sentar e dizer "não consigo ir além disso". Um ano de merda que se arrastou junto comigo pelos cantos e pelos bares, resmungando, reclamando e rosnando por dentro; por fora, via-se só a minha carcaça histérica, paranóica e sorridente. A vida passou bem à minha frente mas eu estava embriagada demais pra perceber. Quando me dei conta disso, já era 1º de janeiro e logo depois, estava exatamente aqui: estúpida outra vez.
Mas eu quero mais do que essa bosta de vida vazia, quero pileques e algo mais do que somente pileques, quero mais do que quase-romances fracassados. Eu quero superação. Quero, acima de tudo, tudo viver e tudo sentir. Sentir o mundo como Vinícius de Moraes sentiu, ser uma "bendita vagabunda" ou, quiçá, uma "vagabunda iluminada", e nas experiências trágicas do amor e da vida ousar sonhar como Camões sonhou e, se não for pedir demais, descobrir-me como pessoa.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

pretérito perfeito... futuro?

Meu velho forte, tão sempre seguro e intransponível, desmoronou. Caiu por terra por já estar desgastado pelos embates e batalhas que travei ali. O meu mundinho se esfumaçou. E sinto-me magoada, principalmente desiludida. Mas é pela minha ausência de coragem, pela minha ausência de dignidade ou qualquer indício de amor-próprio.
Simplesmente me falta aquela força pra ser feliz e, não bastando, sou uma âncora, tudo o que faço é arrastar o resto do mundo pra baixo junto comigo. Talvez seja por isso que tenho feito de tudo pra afastar as pessoas de quem eu gosto.
Agarro-me mais uma vez ao que é certo pra mim e ao que eu tenho como adquirido, vendo a vida afogada na amargura. E se calhar, considero as pessoas como "adquiridas" também. Falta-me dignidade e sobra-me egoísmo.
Eu sei que a felicidade é como tudo na vida, efêmera. Tudo que foi perfeito, por mais que incite sentimentos nostálgicos, não volta mais. E não vale à pena ficar agarrada a isso, aos fiapos do tempo, se quando o meu presente está congestionado. É melhor guardá-los na memória com carinho. Mas é preciso ter culhões pra cortar as amarras e seguir em frente, ainda que aos trancos e barrancos.
Vendo-me aqui, tão covarde, me escondendo do mundo e da vida, tentando reconstruir a minha muralha de sonhos medíocres, ao mesmo passo em que fantasio bobeiras e vejo tudo se foder ao meu redor, não consigo nem sentir pena de mim mesma, porque me irrito.
Hodiernamente, tudo o que tenho de concreto é o que sinto. Mas por hora, acho que me contento apenas acreditando que outros momentos virão, com outras pessoas, noutros ciclos, com tamanha felicidade e perfeição, se possível.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

serpentinas, confetes e alegorias de carnaval

Neste último domingo gordo, aconteceu o desfile da Unidos das Escórias Neurastênicas. Na avenida, Sarah anti-pop estandarte requebrando ao som do Samba Triste dos Pobres Diabos. Imperdível eu diria se não fosse deprimente.
Talvez tivesse sido mais emocionante se tivessem organizado uma passeata com vaias. É sempre legal vaiar as escórias da sociedade. Não percam as oportunidades. Vaiem! As vaias não foram organizadas, o que não quer dizer que elas não possam ser algum dia.
Amarelaram. E mais uma vez! É o que tem ocorrido desde quando já nem me lembro mais, talvez desde quando eu resolvi colocar a minha cara à tapas por puro prazer.
O engraçado é que na minha frente as pessoas me chamam de "líder", pelas costas eu sou "mal-comida". Mas é tudo sempre pelas costas. Tudo sempre foi pelas costas.
Antigamente, eu até combatia, nada muito significativo. Agora eu apoio tudo o quê dizem ao meu respeito. Se dizem que sou idiota, eu concordo. Se dizem que sou uma vadia, eu concordo. Concordar é diferente de acreditar. Mas eu posso ser tudo que desejarem que eu seja. Sou adepta do menor aborrecimento.
Não entendo o "falar pelas costas" quando eu sequer contrario, afinal, as pessoas têm sempre razão. Acredito nisso piamente. Todo mundo é cheio de razões pra qualquer coisa. Respeito as idéias, respeito as críticas, respeito as razões. Respeito tudo, enfim. Realmente, as pessoas têm sempre razão. Mas razões particulares, é claro.
Caso não saibam, eu sou uma ótima avaliadora de caráter. O meu, por exemplo, é péssimo. Essa é a comprovação, a absurda comprovação do quanto as pessoas estão certas ao meu respeito. Além de uma grande filha da puta, eu sou realmente mal-comida.