quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

língua portuguesing

Aqui no Brasil, as crianças andam todas a darem porrading. Não é novidade nas escolas, a diferença é que o chapading e o insulting agora são coisas de estrangeirismo. Já não se arranca olhos, já não se xinga os deliciosos palavrões, já não se cospe uns nos outros, já não se intimida os mais fracos, já não se deixa ninguém de lado, já não se goza com esta ou aquela característica. Agora, pratica-se o bullying!
O conceito define "comportamentos de natureza agressiva, entre pares, com a intenção de provocar dano", coisa que sempre houve em todas as escolas do país. A questão é que agora tivemos mais um atropeling na nossa língua e por isso o bullying veio para ficar. Não o conceiting, mas a palavring!
Por isso, não posso deixar de concordar com todas as
sátirings

P.S. – Não retira valor nenhum ao estudo, nem ao fato de os jovens andarem cada vez mais violentos. Seriam os efeitos do
Playstationing, do interneting, dos filmings, etcing?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

mais um pouco de nada sobre mim agora

Os últimos tempos têm sido loucos, que amálgama de sentimentos! Parece que voltei aos 13 anos quando tudo o que vemos, sentimos e fazemos é desordenado e, sobretudo, intenso! Passar da dor profunda que senti, ainda sinto e continuarei a sentir até voltar a me convencer que a vida vale à pena para a alegria de outro tipo de sentimentos, ao orgulho do que tenho feito, o empenho que tenho em realizar uma coisa só minha e pra mim.
Há uma enorme vontade em mim de conhecer e conviver com pessoas novas e de aprofundar as boas amizades antigas. E a vida, então, vai se revelando em uma peleta de cores e mostrando o quão bela e cruel sabe ser, refletindo raios de luz por entre a escuridão das pequenas tragédias que se abatem sobre nós.
Dou por mim a questionar sempre sobre o que realmente somos. Poeiras despreocupadas que voam ao sabor do livre arbítrio de uma entidade superior qualquer. Ou, ainda mais assustador, que tudo se deve à ocasionalidade, às leis da probabilidade. As mesmas que se aplicam quando lançamos um dado ou uma moeda ao ar são as mesmas que intervém na nossa vida.
Mas do que essa merda toda interessa afinal? Daqui por 100 anos seremos pouco mais que pó biodegradável, conseguindo assim servir mais o ambiente mortos do que vivos...
É muito confuso, eu sei. Mas é assim mesmo que me sinto.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

sobre pessoas mentalmente limitadinhas

Essa noite começou como tantas outras de tantos outros tempos, uma mão no teclado e outra no copo de cuba libre, esta apenas abandonada para, periodicamente, levar o cigarro à boca. Serra é que vá para a casa do caralho com a lei anti-fumo, meu cigarro, sim, é que é das coisas mais bonitas que me fazem agarrar a vida com as duas mãos (quer dizer, com uma, já que a outra está sempre preocupada a me embriagar).
Em meio ao álcool, ao recadinho sem vergonha de um débil mental, à frustração de ter uma mentalidade incompreendida pelos ignorantes de plantão, nutri a esperança ridícula de que se fosse descortinada a aversão à sinceridade real pelas pessoas pouco dotadas de inteligência, raciocínio e cultura.
Percebi que há a má influência literária dos últimos anos. Publica-se de tudo, - Dan Brown, Paulo Coelho, Stephenie Meyer, até poemas moderninhos, caralho -, agora lição de honestidade que é bom, nada. Editores, seus bostas, vamos por mãos à obra.
Contrariamente ao que seria de esperar, porém, ao cabo de alguns minutos, um ser humano dotado de um cérebro funcional, acaba por se aborrecer. Fiz a mim própria a pergunta de costume: o que é que me incomoda? Ignorância? Ignorância disfarçada de status? Ignorância intelectual? Ignorância cultural? Senti que me incomodavam profundamente todos os tipos de obscurantismo.
A burrice alheia se reflete na vida de uma pessoa lúcida e crítica como um por de sol infeliz ou como um disparo que falha por um triz ou como perder sem nem sequer mexer um músculo. É como uma luta inglória contra mil gigantes, como uma alma destinada ao fracasso, é como saber que as coisas importantes são tudo menos o que fazemos. É como cada minuto ser uma vida e cada sonho uma epopéia e cada aspiração uma causa perdida. Ou, só pra contrariar os super felizes sem inteligência e senso crítico, é como a vida ser um lugar fodido.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

sonho mau

Era um quarto que se podia devorar em 5 passos. Cinzento de vontade e bafiento de desânimo. Estava muito calor e o chão rangia a castanho esquecido. Sentei no colchão de molas tristes, que me arranhavam a dignidade, e pensei na saudade. Sobretudo, na saudade que tinha de não sentir saudade, pois era essa a primeira carta que caía do meu castelo de sonhos instáveis.
Olhei para a rota de desleixo e chorei. Chorei pela vontade. Senti toda a solidão do mundo de dentro daquele quarto e olhei a paisagem da janela. Era de dia e estava sol, mas os meus olhos só viam escuridão. As paredes aproximavam-se no adensar do desalento e percebi que tinha que sair. Algumas roupas gastas mais tarde, cheirava a cidade no seu interior e caminhava na razão do pensamento.
Segui os caminhos da infância e aproximei todo o resto ao olhar. A cidade corria ao ritmo dos afoitos e o calor encolhia vaidades. Observei todos e cada um, e pensei com inveja onde iriam com tanta certeza, com tanta vontade de lá chegar.
No canto mais fresco da marquise, um monte de merda que não identifiquei escondia um corpo. Dormia de sujidade e esquecimento. Aproximei-me e toquei no que parecia ser um ombro debaixo de roupa velha. Reagindo ao toque, o corpo virou-se e fixou o horror de espanto: era a minha cara que ali estava, debaixo de muito cabelo e imundície!

Acordei transpirando e esticando o fino lençol que já não se via de tanto esticar. Sentei-me na cama de molas ainda tristes e olhei ao redor. Havia voltado sem nunca ter saído.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

uma nota de decepção

Mais um castelo que se desmoronou. Irremediavelmente? Por pouco tempo? Não sei. E sinto-me magoada. Não, não me sinto magoada. O que há em mim é sobretudo desilusão, por pensar que conhecia os outros e julgar que nunca alguém seria capaz de chegar a este ponto crítico de falta de caráter e hombridade.
Estou profundamente decepcionada. Com a falta de coragem das pessoas, coragem pra serem sinceras umas com as outras, mas principalmente pela falta de coragem para entenderem e lutarem pelo o que elas sentem e acreditam.
Falta-lhes dignidade. Sobra-lhes egoísmo. A mim falta olho crítico e me sobra compaixão, e são essas coisas que, combinadas entre si e em regra geral, nos fazem sentir assim da forma como estou agora... as malditas expectativas que se elevam sem uma justificativa racional.
E custa ver que ninguém vale a merda que caga, que as palavras não passam de dissimulações. Custa saber que acreditamos no que havíamos jurado não acreditar mais, por termos nos deixado levar pelo que prometemos resistir. E o pior de tudo é saber que estamos essencialmente desiludidos conosco pela nossa cegueira.
Não sei como reagir a isso. A única coisa que tenho como certa, é tudo o que sinto. E isso, sinceramente, não ajuda mesmo em nada...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

más escolhas

Uma das referências da minha vida, para o bem e mais ainda para o mal, morou lá pelas bandas do Rio de Janeiro em 1800 e qualquer coisa, era alcoólatra e morreu tuberculoso aos 20 anos. Tomei-o para mim e fiz dessa relação intangível no espaço e no tempo, algo que se aproxima de uma relação entre pai & filha.
Filiação que, evidentemente, foi equívoca desde o princípio, quer pelo fato de o meu temperamento já manifestar uma forte objeção às coisas extremamente felizes, como também pelo fato de eu ter crescido em um ambiente familiar conturbado, barulhento, instável e fodido.
Minha realidade me é ácida, as visões que povoam a minha mente parecem compensar, pelo menos em grande parte, a ausência de realizações. Pedaços de céu sonhados aqui ao lado: na minha cama desarrumada, com os lençóis revirados e alimentados pelo excesso de álcool e drogas, temperados com o cheiro deprimente e enfastiante de sono no ar.
Invoco aspirações felizes e criações ideais a meu bel-prazer, desfrutando sob todas as formas, buscando qualquer ventura que me acalente. A maioria delas sonhadas em um estado lastimável de entorpecimento.
Estou me esvaindo em devaneios. Vivo uma vidinha patética esgotada em ilusões. Não poderia eu, nova e intacta, ter escolhido como pior referencial, de vida e conduta, um sujeitinho mais decadente do que o tal Álvarez...

domingo, 1 de novembro de 2009

a garota mais triste que já segurou um martíni

Àquela hora só conseguia manter apenas um olho aberto e mesmo esse só me fornecia imagens desfocadas. Entre a neblina da embriaguez, parecia ver tudo num tom castanho-claro-brilhante. Algumas indagações mentais mais tarde, percebi que tinha a cabeça sobre o balcão. Estava de volta ao bar. Decidida a combater a inércia, abri o outro olho.
Agora via tudo em tom claro-torrado-com-oscilações, olhava através da taça de martíni. Numa tristeza irônica e sorridente, pensei que não houvesse mais meios de descer na escala da humilhação - ainda bem que estava encostada ao balcão! - e chamei a mim todos os sentidos necessários à operação de levantar a cabeça: equilíbrio, orientação, força e força de vontade. Cinco minutos depois a ação revestia-se de sucesso. Embora um bocado vacilante, a cabeça se encontrava na verticalidade possível.
Sobre o balcão estavam oito copos cuidadosamente alinhados. Em comum tinham apenas o fato de estarem vazios. O nono, que ainda continha líquido, estava próximo de mim por dois motivos: primeiro, era o único ao alcance da mão sem ter que esticar o braço; segundo, eu já havia olhado através dele e por isso conhecia seu interior como ninguém. Tomei um gole pequeno porque aquilo tinha que durar.
Vou ao mesmo bar todos os dias, sento-me no mesmo lugar todos os dias, à mesma hora de todos os dias eu me encosto ao balcão. Todos os dias narro um fato diferente, todos os dias trago um fardo diferente, todos os dias lamento por uma desgraça diferente. Que merda de rotina.
Cada carta da insegurança social aumenta-me as pulsações do desespero e a sede! Não fosse a minha escassa liquidez ($) a quantidade líquida aumentaria. Por aqui devem pensar que sou sovina, mas se eles soubessem que não tenho muitos putos nos bolsos da calça imunda, talvez tivessem a bondade superior de me oferecerem mais doses.
Entretida com meus pensamentos tão pouco sóbrios, nem reparei nos acontecimentos seguintes. - Mais uma tacinha, por favor.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

troco meu cérebro por um coração

Talvez o maior problema da minha vida não seja saber o que eu quero ou não, se desisto ou arrisco, se perco ou ganho. Mas talvez seja, sim, a importância exacerbada que dou à todas essas questões.
Pensar é preciso, não pensar é suicídio. Abrir minha mente e aceitar tudo o que chega não pode ser saudável nem correto, mas pensar demais é nocivo. Enfim, serei concisa: racionalizar.
Não compreendo essa minha permanente e persistente vontade de desejar que tudo tenha uma explicação, um significado. De ter que pensar e analisar tudo o que faço, tudo o que me fazem, tudo o que sinto ou deixo de sentir. O cérebro não se pode sobrepor ao coração.
Talvez seja esse meu maior erro, entre tantos outros que estraçalham meu peito diariamente. Tenho que me libertar das amarras da razão que me prendem a um universo sem cores e sem sabor e que, desgraçadamente, tira meu apetite pela vida. Apenas dessa maneira poderei sentir a empiricidade de cada momento, acreditando na sua unicidade.
Preciso seguir as pegadas que aquela voz dentro de mim me diz pra seguir, independentemente do que o mundo, as regras e as pessoas pequenas dizem ser certo ou errado. E assim, quiçá, eu encontre as respostas que procuro...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

um grande abraço de 2 metros com bigode

Viera de longe com uma mala recheada de boas intenções na mão. Trazia no olhar aquela tranquilidade que lhe era própria, misturada com a estranheza da vida polvilhada por um ar de espanto quase inocente. As palavras que saíam da sua boca eram acordes de uma melodia que me era bastante familiar.
Demorou alguns anos para chegar, mas não tardou a ocasião. Também não se fez ladrão, nem criou confusão. Apenas veio. Sincero, sem merdas e, sobretudo, franco de amizade. Soube a pouco o tempo e a partilha.
A geografia da vida não permitiu outros tantos, mas criou linhas. Linhas de respeito e admiração, linhas de orgulho e até algumas de pequenas mágoas, que se desfizeram sem que se notasse. O comboio do regresso levou a mala menos cheia de confusões, mas carregada de momentos. Foram intensos. Na estação, ficou a saudade.
Obrigada por ter vindo!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

caixinha divina de sugestões

O Mundinho Insosso é um blog que questiona. Que não tem certezas, exceto uma: não se deve levar na bunda (sem qualquer conotação sexual). Mas quem questiona alguma coisa, em última análise, acaba sempre por questionar Deus. E se Deus tivesse uma caixinha de sugestões (a propósito, é uma coisa em que deveriam pensar) e não se escandalizem com a forma como o trato, reparem que usei letra maiúscula, eu colocaria lá esta reclamação:

Meu caro amigo,
Segundo diz a Bíblia e os homens que a escreveram (Harold Bloom afirma que foi uma mulher, mas é mentira. Se tivesse sido uma mulher a escrever a Bíblia, haveria mais descrições dos trajes de Cristo e dos apóstolos, dos enfeites de mesa da Última Ceia e o caralho-a-quatro), os homens que a escreveram, dizia eu, estiveram com atenção àquilo que o Senhor andou a fazer e dizem que se fartou de trabalhar durante seis dias, mas ao sétimo descansou. Ora bem, descansou ao sétimo dia e até hoje, que se saiba, não fez mais nada. São milhões e milhões de anos a coçar os sagrados colhões. Eles devem estar em chagas!
Mas enfim, isso não é o pior. O pior são as merdas que o Senhor deixou mal acabadas por aqui e que devia repensar. Por exemplo, os homens. Há ali coisas bem feitas: braços, pernas e mãos. Foi muito bem pensado. Desta forma, a mulher dispõe do atrativo viril básico que pode culminar na fornicação. Mas faz falta, a meu ver, mais exemplares da espécie. Porque, tal como está, com esta onda homossexual atingindo proporções alarmantes, vejo a perpetuação da espécie - espécie esta de que o Senhor tanto se orgulha - ameaçada.
Portanto, rogo em nome das mulheres que concordam com minhas sucintas explanações: não daria para reverter este processo de abichanação? Ou, quiçá, um milagre que seria capaz de transformar todos os homens-florzinhas-sensíveis em caminhoneiros que exalam testosterona? Estamos sofrendo com a escassez. Dê lá um jeitinho, vai.
Desde já agradeço vossa celestial atenção.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

no fundo do poço... e cavando

"Um escritor e a sua dor partilhavam dentadas de um texto, mordia o escritor a questão, enquanto a dor mastigava o porquê. Por quê? Porque antes de engolir, convém mastigar e digerir.
Um escritor e a sua dor cavavam fundo e incansavelmente, enterrando-se num buraco do qual não sabiam ao certo, como no passado, se conseguiriam sair."


Não sei há quanto tempo redigi isto. Séculos, talvez. Mas mais do que em qualquer outra circunstância, isto volta a fazer sentido. As personagens se modificaram, mas a situação se mimetizou, pondo em evidência aquela qualquer faceta masoquista de mim que parece sempre apreciar.
Sei de antemão que irei sofrer, mas por haver muita piada nas peças que a vida nos prega, que pincelam com cores diversas os dias enevoados e maçantes, enchendo o coração de alegria, esperança e nos dando forças para enfrentar "todos os outros dias", deixo-me levar. Quando dou por mim, já não há como esquivar da bigorna de sonhos estilhaçados em queda livre que vem de encontro à minha cabeça.
Acho que prefiro aqueles dias em que não se passa rigorosamente nada, em que o tédio se apodera de nós e o cansaço da monotonia nos vence, aos dias (quase) perfeitos. Ao menos, o nevoeiro indissipável que adoece a alma, impede que eu me iluda e caia nos mesmos erros do passado.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

tanto tempo já se passou...

...e eu nem me dei conta disso. Muitas coisas mudaram e tantas coisas ficaram na mesma. Não, fui eu que mudei, já não sou a mesma Sarah de outros anos. Muita água correu por debaixo da ponte escangalhada da minha vida, muitas coisas e pessoas passaram e muitas ficaram por passar. Erros repetidos, erros aprendidos, aventuras falhas e uma amarga centena de oportunidades desperdiçadas, juntamente com outros projetos que não foram bem sucedidos e que reforçaram o sumiço gradual e impiedoso da paixão inicial que eu nutria.
Tanto tempo já se passou e não sei dizer se sou uma pessoa melhor do que a de outros anos, talvez esteja um pouco mais pessimista, muito embora, eu ainda adore estar viva, isso não há como negar, mas da maneira que tem sido recorrente, eu diria que é uma paixão não correspondida, ou então sou eu que ando tendo dias bastante maus.
Curiosamente, mudei tanto, mudaram-me tanto e, ainda assim, a minha vida continua a mesma sucata de uns 6 anos atrás. Mas não deixarei de sorrir - nem quero! -, meu sorriso tem sido minha única arma contra o derradeiro fracasso, meu sorriso tem sido a mola que me impulsiona pra frente, mesmo quando tudo quer dar para trás. Porque apesar de as coisas todas parecerem conjuradas para correr mal, quando Deus despeja sua fúria sobre mim e as forças do destino conspiram para que eu seja desfavorecida, o sorriso me faz estar mais perto daquilo que realmente tem importância: a possibilidade de um dia ser feliz.
E quem pensa que é essa alegria babaca e exagerada que eu quero, está amplamente enganado. A felicidade despropositada transforma as ações sublimes em gestos afetados e ridículos, dilui o sentido das emoções, deixando-as sem consistência. E eu não estou disposta a perder a premissa da honestidade, que é o pilar que sustenta os meus sentimentos...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ecoburrice

Esta onda ecológica dos últimos tempos é algo que me irrita profundamente. Ter o mínimo de zelo pelo lugar onde habitamos é maravilhoso e não traz mal algum ao mundo ou às pessoas, não fosse a chatíssima circunstância deste ecologismo maníaco persistir em um ritmo alucinante sobre o mais variado e estupidificante gênero de coisas.
O bombardeio é em tempo integral, desde as já míticas propagandas televisivas até os anúncios que oferecem pornografia suja e gratuita na internet. O problema não está na iniciativa, aposto minhas pregas que a intenção de quem dissemina esta causa é das mais elevadas, o problema consiste na abundância de informações sem que haja tempo para digerir os fatos e, evidentemente, formar opiniões sensatas.
Em função desta oferta ilimitada de verdades invioláveis e, especialmente, do cronograma apertado para conseguir mais combatentes do caos ecológico do planeta, surgem os ecoburros que defendem com unhas e dentes qualquer coisa que se diga pró-ambientalista, sem nem ao menos terem ideia do que estão fazendo ou dizendo.
Vegetarianos que não sabem que o consumo de carne proporcionou o aumento da expectativa de vida da raça humana; ativistas contra testes em animais que se esquecem de onde vêm os remédios e as vacinas; imbecis que dizem ser contra os transgênicos mas que nunca souberam que a insulina e a vacina contra meningite o são; fanáticos contra o desmatamento da Amazônia que não se importam em desperdiçar papel.
A lista é absurdamente extensa. E são estes retardados que não possuem um filtro eficiente de informações ou uma inteligência mínima, que preenchem os espaços vazios do mundo com opiniões estúpidas. Cuidar de onde se vive é nobre, desde que se dispa de hipocrisias travestidas de convenções e moldes usados para se encaixar em qualquer grupo social. É desagradável dizer isto, mas ser ecologicamente correto virou um tipo de ostentação social moderna. Isto é o que eu chamo de decadência de valores...

sábado, 18 de julho de 2009

vou-me embora pra... lá

Extenuei-me e quero sair daqui, não sei ainda pra onde eu vou, mas sei que vou ou que, ao menos, deveria ir, porque quero ser mais do sou, do que tenho sido, do que me tornei, do que almejo ser, do que me forçam ser e, sobretudo, ser mais do sou sem deixar de ser o que sou, mesmo que eu não seja nada.
Há algo lá longe que me chama, que me fascina, que me seduz. Muitos dirão que Lá não há nada de especial, que não passa de um mísero ponto na imensidão do mundo. Mas eu vejo nessa latitude desconhecida um pouco de tudo o que sou. Como se esse ponto travestido de uma entidade incógnita me tivesse criado e moldado à sua imagem e semelhança.
É o meu refúgio, a minha aldeia secreta. Só Lá me faz esquecer os problemas quando olho o horizonte, quando aprendo um pouco mais com a gente rude e trabalhadora, quando consigo ver o céu estrelado, por cima dos prédios, a acalentar os meus sonhos.
E por mais que me digam para não fugir, porque aqui é a minha terra, não é nesse universo apático em que me sinto bem. Distante dessa cidade horrorosa, recheada de pessoas mesquinhas e presunçosas, há olhos que reluzem mais do que as mais cintilantes constelações e há sorrisos sinceros que têm uma luz tão própria, tão radiante e tão pura que parecem vir da própria alma.
É lá que me revejo, é para lá que regresso quando o resto do mundo parece me voltar as costas e é lá que me reconforta como só algo muito especial consegue fazer. Só Lá é que consigo me sentir um pouco mais... EU.

terça-feira, 7 de julho de 2009

discorrendo por nada

Quando a doçura do meu sono fora violentada pela urgência do novo dia que se impunha, com o inegável fato de que já eram horas de levantar, senti-me sufocada pela circunstância de estar viva e de ser obrigada a existir por mais 24 horas. Há dias em que não sinto vontade de ser.
Meus pés se atropelaram e tropecei na claridade intrusa, caí de cara no chão da realidade que presumia o novo, que de novidade nada tinha. A rotininha aborrecedora constituída de pormenores azedos que, se tomados como um todo, não fazem a menor diferença, porque embora a mesmice diária se difira em detalhes, em suma mantem-se a mesma.
Abri os olhos com dificuldade, devido à quantidade excessiva de remelas, e reparei que o pijama que me abrigava sorria despreocupado das memórias que o conduziam à avenida das consternações, olhando ao redor como um atento expectador de um circo de aberrações, com questionamentos discretos sobre a veracidade daquela atmosfera surreal de que dispunha para entreter-se por um pequeno momento, fazendo-se, assim, algo enorme na terra de diminutas convicções.
Na minha cabeça, comiam quatro atitudes: a dúvida, a certeza, a confiança e a suspeita. Discutiam entre si, entre garfadas gulosas e gargalhadas histéricas, os planos para o futuro e brindavam ébrias às memórias do que depois será, sem considerar o que sempre seria.
E no jardim da minha vida, mangueiras regavam as sementes que plantei numa fúria molhada de arrependimentos. Via afogarem-se as plantações da vida e as suas questões. Ninguém desligava as torneiras e a inutilidade das ações insistia e se repetia em litros de desperdício. Há dias em que não vale à pena ser...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

banana's land

Já faz um ano que a Era Euvírus, com a sua lógica ditatorial "eu quero, eu posso, eu mando", foi pro brejo, tudo mudou, mas o essencial ainda permanece o mesmo. Não creio que o Eurico fará parte do "hall dos grandes vascaínos", muito embora tenham feito um documentário sobre ele chamado "A locomotiva". E bem, pode ser um sinal contrário à minha expectativa.
No âmbito nacional a história se repete. Sarney & família não deixam nada a desejar ao ex-presidente do Vasco: roubos, assassinatos de sonhos e esperanças, manipulação de fatos e distorção da realidade em proveito próprio. José Sarney e Euvírus são irmãos gêmeos separados após o parto. Cada qual deu a sua contribuição de mau caratismo nos respectivos campos de atuação. Infelizmente, ambos continuam por aí, enchendo o saco e provocando muita azia e enxaqueca.
Se, daqui a alguns anos, resolverem fazer um documentário sobre José Sarney, esse dinossauro assaltante da política brasileira, eu não me espantarei, principalmente se o colocarem como destaque no carro alegórico em que se transformou o "hall dos grandes brasileiros".
Para eternizar o momento teríamos Sarney juntamente com Lula, Delfim Netto, Renan Calheiros, José Dirceu, Dilma Rousseff e adjacentes, retratados numa pintura, bem como "A última ceia", pregada a um altar para cerimônias de culto à imoralidade.
Ao centro, veríamos Lula fantasiado de Jesus de Nazaré -seu maior fetiche histórico-, acompanhado de seus discípulos, confraternizando em um banquete de arrasar em alguma sala secreta no castelo do Edmar Moreira, bebendo o néctar do dinheiro dos cofres públicos e repartindo pedaços de pão do mensalão...
Como diria Mainardi, "o Bananão continuará sendo o Bananão", não só no que diz respeito à política, mas também ao futebol. Nada é sério nesse país, nem ao menos a filha da puta da paixão nacional.

[ Delfim Netto é conselheiro político de Lula, metido em cachorradas desde quando nem me lembro mais! Aqui está uma matéria referente ao Relatório Saraiva, feito na época do Governo Militar. E Aqui outro artigo interessante sobre o caso.
Aqui há uma prévia da falação sem limites de Euvírus Miranda e sua corja.
E, finalmente, Aqui há a vergonhosa notícia da absolvissão de Edmar Moreira e Aqui, a não menos humilhante notificação do apoio do Presidente ao Ladrão Sarney ]

sexta-feira, 26 de junho de 2009

perda total no dia dos abandonados

Quem lê meu blog sabe que, sobre algumas questões, não faço nada além de ser eu mesma: passar mensagens de paz, de elegância e sublinhar que a vida tem mais graça se nos devotarmos a escrachar qualquer coisa e fazer faxina nos tabus. E no que concerne a limpeza, o Mundinho Insosso é como uma daquelas equipes de criadas de hotel que trocam até as toalhas limpas, desinfectam, sanitam e no fim deixam um bombom.

A verdade é que este seria um assunto para ocupar todo o espaço do blog, mas as lembranças de que disponho são tão diminutas quanto o pintinho de um japonês que acabou de sair da água gelada, portanto, na tentativa de descortinar minha noitada insana e de fazê-los entender o quão grave foi o episódio, devo ressaltar que sou estúpida o suficiente para preferir meus excessos a curtir a vida com alguma classe e comedimento. Ou seja, não me recordo de porra nenhuma.

Fica pra próxima bjs

quarta-feira, 24 de junho de 2009

um mimimi

Não gosto das eventuais distâncias, mas suporto todas. Não gosto das ausências idiotas e despropositadas, mas as aceito com escandalosa sujeição. Não gosto de desculpas esfarrapadas, mas esforço-me para entender os motivos. Não gosto e, sobretudo, não consigo compreender, a minha capacidade nipônica de me meter em projetos que, desde a sua concepção, já estão fadados ao fracasso. Vejo a plaquinha indicando "fiasco" e continuo indo em frente, mesmo que esteja nadando na merda à altura das orelhas.
O pior de tudo é não saber controlar meus impulsos bestiais, principalmente aqueles relacionados à oratória, sofro com a minha inata inocência e analfabetismo na matéria de discernimento diligente do caráter alheio. Cego-me para os perigos que espreitam em toda esquina, atrás de cada lata de lixo, camuflados à sombra de um poste com a lâmpada queimada, escondidos atrás de figurinhas que nos cativam para depois nos darem apunhaladas com palavras intoxicadas de maldade.
Realmente sinto saudades de uma época em que nem ao menos vivi, e a única coisa que me faz acreditar nela como um lugar distante desse mundo horroroso, é o sabor açucarado que se polvilha na minha língua ao imaginá-la. No entanto, sei que remoer isso não vale nada, não serve para absolutamente nada. Sei também que tudo aquilo que, em outro tempo, em outras circunstâncias - quiçá noutra vida! -, teria feito o mundo conspirar a meu favor no intento divino de transfigurar o cocô mole em uma escultura celestial, neste momento, infelizmente, não pode e não quer ser mais do que nada... o que é uma pena.

sábado, 20 de junho de 2009

singularidades de nosso belo idioma

Há em cada brasileiro um genial inventor de alcunhas. A criação de epítetos depreciativos ou simplesmente galhofeiros é parte importante do exercício da brasilidade. Ao longo da vida fui reunindo algumas alcunhas curiosas que só um povo fornicador é que usa para manifestar a grande quantidade de fodas que pratica.
Então acerco-me de uma dúvida que, embora premente, não há razão alguma de ser: por que é que dos povos latinos, os brasileiros são os que menos se gabam de seus feitos sexuais? Será que, salvo as exceções, somos latinos apenas na acepção do termo?
Os brasileiros em geral alardeiam bem menos, mas têm a prova da sua competência sexual na ponta da língua. Basta-nos atentar às expressões que fazem nosso idioma, tal como "a dar com o pau".
- Nunca vi a praia tão cheia, tinha gente a dar com o pau. Na verdade, o que o popular veraneante quer dizer é que havia tanta gente na praia como a quantidade de fodas que dá. Pelo contrário, nunca se ouve dizer "este ano não tem chovido nada, maneiras que há água a dar com o pau".
Como esta expressão, existem várias. Infelizmente, fatores como o politicamente incorreto, a novela brasileira e a Sandy, contribuíram para que muitas das coloridas imagens sobrevivam apenas no léxico de nossos anciãos. Que foda.

domingo, 7 de junho de 2009

deboche universal

Nasci de uma vontade bem estúpida da vida, em uma dessas circunstâncias que os pais mais orgulhosos afirmam ser abençoadas, sob a aurora de um acontecimento que se disse grandioso simplesmente pelo fato de não o ser, afinal, eu era apenas mais uma pessoa que nascia, mais uma pessoa que entrava aos trancos e barrancos na roda louca da vida.
E o tempo, mais precisamente por 17 anos, arou aqui sementes de esperança enquanto manifestei a vontade de avançar e àquela época senti os abraços da compreensão. Deram-me, de mãos beijadas, a direção que deveria seguir, como e quando chegar, tudo para não ir sozinha e, sobretudo, para não permitir que o receio tomasse conta de mim.
Bati à porta do sonho. Expliquei-lhe minhas razões, ao meu ver irrefutáveis, do porque deveria entrar e deixei meu currículo, apresentei minha candidatura. Aguardei na expectativa de realizações e até esbocei projetos e fiz planos. E após meses de uma espera dolorosa, recebi um memorando que se resumia a um "Sinto muito Sra. Sarah, mas no momento não necessitamos de alguém com este perfil".
Desde aquele dia percebi que o mar não chegaria nunca à minha praia, a praia deserta da minha vida. Que coisa babaca é esse mundo...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

divagação acerca da vida

Tenho lutado intermitantemente contra essa certeza vazia de que estou no mundo por causa de nada e simplesmente porque tenho que estar, porque nasci. Admito que essa seja a asserção mais pragmática diante da falta de resposta para as coisas, e é justamente a sensação de impossibilidade que me fez interromper as ações mecânicas diárias de estar viva, à volta dela está tudo o que eu não consigo explicar, todo o universo abstrato que pulsa por dentro e por fora, com anseio de se desmistificar de uma vez por todas.
A minha vida talvez se possa justificar através de um leque infinito das possíveis sensações que se possa ter: espirituais, poéticas, estéticas... mas seja lá o que quero sentir, ainda não consigo demonstrar a verdadeira razão de estar aqui, senão pela definição básica de vida - a biológica -, que consiste em garantir a subsistência de um corpo animado, certo? Mais coisa, menos coisa...
No entanto, tenho a idéia de que qualquer um que possua consciência de si mereça ser ressarcido pelos seus empenhos. Deve ser por isso que os mais crédulos descansam a cabeça na maravilhosa possibilidade de colher frutos doces depois de uma vida limpa, sem pecados ou como queiram caracterizar. Mas não será essa uma ótima opção? Acreditar em alguma coisa - qualquer coisa -, que nos tranquilize? Crer no que nos faça sentir bem? Um direito é, certamente. De qualquer forma, o fim soa mais ameno do que aquela outra dedução de que se morremos foi porque, obviamente, estávamos vivos.
E no que concerne a minha fraca maneira de concluir existências, posso assertar que: vivemos acompanhados mas morremos sozinhos. Se os ressarcimentos nos são dados por outras pessoas, então não há recompensa por morrer. A recompensa é estar vivo com e para alguém, os ressarcimentos são tidos por aqui e por enquanto.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

digressão matinal

Sobre a mesa do computador estavam as duas xícaras borradas de um café já tomado. Não tinha certeza se estavam ali desde ontem ou há semanas, e tampouco se lembrava se tomara as duas ou se o fizera acompanhada, a certeza era uma só: naquele momento estava sozinha. Voltava a se sentir fria e a paisagem era cinzenta de novo. Era o resultado final de outrora, agora se repetindo pela milésima vez.
Tentou extrair dos seus sonhos, que já não sabia se eram sonhos realmente, alguma força capaz de induzi-la ao próximo passo, mas a perna da motivação se tornara manca de tanto esperar por nada. Decidiu que seria bom tomar um banho, para lavar a cara amassada e a alma coberta de lama, num cubículo compartilhado no corredor e que alguém, ironicamente, chamava de banheiro.
Percebendo o recado que o destino lhe mandava, levou aquele corpo e a dona que o habitava para a rua que, mesmo gelada, era melhor do que aquele jardim de inverno solitário. Saiu em busca de esperança, mas a sua jornada exaustiva só lhe rendeu festas de cinismo, abraços de má vontade, sorrisos amarelos de babaquice e dentes mal lavados. A verdade no fundo estava longe da podridão da superfície. E os círculos fechados eram os mesmos e fediam como sempre. Nada era o que via e o que via não era: a vidinha aparente seguia as suas curvas sinuosas de humor banal onde arrancaram dentes na boca da vergonha.
Caminhava na tentativa de se lembrar quem fora quando um choque de coincidência bateu na sua cara. A imensidão perdia-se de vista e o seu queixo caía na incompreensão dos sentidos. Desde aquela altura que não parava de descer escadas na vida, ela descera tanto que em dois tempos passara do tudo ao nada. Já nem nome tinha, pelo menos não se lembrava ou não queria se lembrar...

Às vezes a tensão de um sorriso forjado é tanta, que os palhaços flamejam de amargura e por dentro se corroem de horror.
Essa capa inunda os espaços em que nos movemos e estampam porcamente as fotografias em que todos sorriem, como
as de uma revista de fofoca.
Podem estar com milhões de problemas, mal pagos e fodidos, mas naquele segundo de flash ninguém quer ficar mal, por isso vivem de esboçar sorrisos em tons de felicidade inventada...

sábado, 9 de maio de 2009

rio de janeiro

A minha vida sempre se pautou por baixos e baixos, facilmente perceptíveis quando se repara no meu caminhar desengonçado e vacilante, na postura curva decorrente do peso de tantos fardos ou até mesmo pelas queixas frequentes de dor, a cabeça constantemente mazelada, como se a consciência exercesse uma força poderosa contra meu crânio, numa espécie de manifestação pela desobediência excessiva do corpo e que, também por isso, a deixa sempre em débito com alguma coisa.
Mas esta quinta-feira foi um dia diferente dos dias habituais, não havia peso, não havia tédio, arrependimentos ou sequer cansaço e toda a cidade se revelava em novidades. Eu estava bem e me sentia melhor ainda porque sabia que estava entre os meus. O pretexto do Oasis, coberto com uma manta de expectativas coloridas - supridas, aliás -, se transfigurou em muita cerveja, muita caipirinha, nascer do sol, Bebel Gilberto, estranhos, porre matinal, sacadas geniais, gargalhadas e fotos de celular.
Por onde andamos, olhamos e também fomos olhados. Estávamos cheios da nossa parceria e espantosa cumplicidade e a Avenida não era grande o suficiente para comportar ou ignorar o nosso contentamento. Apertados pela maldita circunstância do tempo, seguimos o trajeto de ida mas carregado de pena da volta.
Distante daqui fui um mundo todo e o mundo todo me sorriu, e eu sorri de volta exprimindo afinidade e, mesmo dentro da palidez desanimadora em que consiste a efemeridade destes momentos, pude eternizar um pequeno trecho de vida e um pequeno traço de humanidade no meu coração e nos corações de pessoas que possivelmente nunca mais irei ver.
Fui tudo, sendo nada, fiz da puta da vida, esta incógnita muitas vezes tão amarga, um pedacinho doce e suave na lembrança. E me apaixonei. Apaixonei-me por tudo isso como se fosse por alguém físico, sorrindo um sorriso luminoso que pareceu uma vela clareando um porão escuro. E não querendo ser egoísta na minha felicidade, ainda que breve, ainda que pouca, ainda que passageira, resolvi que deveria compartilhar este pedaço de bolo de alegria.
Pensando bem, não havia meios para ser diferente... eu estava em ótima companhia!

terça-feira, 5 de maio de 2009

colisão de egos, feitios etc

Há quem pense muito. Eu, por exemplo, penso demais sobre coisas demais em tempo de menos. E neste pensar desenfreado acabamos atravessando o trajeto de idéias frontais de outras pessoas que, ainda, não cogitávamos saber que existiam.
E assim como em qualquer encontro de convicções, há a inevitabilidade de um acidente, porque existe um limiar conflitante entre o pensar de cada um, onde persiste esta vontade de provar um ponto de vista, aliada ao inchaço de autoconfiança e à egoísta ilusão de que se é detentor absoluto da razão.
São como dois automóveis seguindo em sentidos contrários em uma pista de mão única e que estão prestes a colidir. Ouvem-se estrondos provenientes destes duelos de titãs. E depois do choque violento, há de se contabilizar as perdas - mortos, feridos, orgulhos -, e limpar a sujeira que ficou pelo caminho.
São estes os acidentes trágicos das situações familiares, dos mal-entendidos e das relações que já não conseguem se sustentar. E como numa morte qualquer, a única certeza que nos resta é de que aquele encontro não tornará acontecer...

domingo, 3 de maio de 2009

sobre sentir medo

Engraçado como eu estou sempre com medo. É aquele pavor indizível de possibilidades remotas e absurdas, teorizando e relativizando e fugindo de coisas que, intimamente, eu sei que nunca irão acontecer. Sudorese. Calafrios. Iminência de desmaios, infartos e aneurismas. Tudo por sentir medo e nada além. Sou uma covarde - sempre o fui, não nego -, e desde quando a vida começou para mim, as lembranças de que mais me envergonho são aquelas em que não fui capaz de mover um fio de cabelo porque tive receio do fracasso, não quis vacilar feio, tomar no cu com força e ficar por aí para sacudir a poeira e dar a volta por cima. Tive medo de fracassar na maioria das vezes, especialmente diante dos olhos alheios.
Aliás, os olhos alheios sempre foram para mim como aqueles monstros vindos diretamente de um livro de histórias horripilantes, deformados, absurdamente maus e tão frios que assustariam até o mais desumano dos humanos. Os olhos alheios são assim mesmo: eles te despem vorazmente com a fome de um estuprador, te fodem com a veemência de um ator de filme pornô e são tão sádicos quanto um serial killer, porque quanto mais você esperneia, reluta, grita e resiste, maior é o prazer que sentem. Eles te expõem a uma situação degradante insuportável e a única coisa que lateja nas idéias é a vontade de sumir, um querer tão profundo que rasga a pele e dilacera a alma como se mil espadas estivessem atravessando o corpo simultaneamente, mas a impotência diante da circunstância te impede de fazer qualquer coisa porque te acondicionaram em uma camisa de força tamanho P infantil.
E bem amigos, a minha situação é um pouco mais complicada, vejam, eu não ando muito em forma, tenho gordurinhas localizadas estrategicamente e preciso me depilar. Portanto, ser fodida com uma platéia observando é a última coisa que tenho em mente. Talvez depois de uma dieta rigorosa, depois de abandonar a vida boêmia, depois de me depilar, depois de fazer escova progressiva, depois que estiver com a alma limpa e a consciência absolvida das culpas, depois que tiver minha dignidade reavida... talvez depois de tudo isto feito eu fique animadinha e tope fazer uma orgia homérica em praça pública, digna de um memorando louvável nos Anais da Foda.
Mas é somente um "talvez", seus bostas. Não há nada prometido.

sábado, 25 de abril de 2009

por aqui está tudo péssimo

Sinto-me como se estivesse afogando na aspereza da minha própria vida. E por mais que eu bata os pés e os braços, há um repuxo que impede que eu volte à superfície, até mesmo porque eu já não tinha forças antes mesmo de ter sido jogada ao mar. E essa foi somente mais uma das centenas de crueldades praticadas contra os desajustados desse mundão de meu Deus. Para mim não houve botes, salva-vidas viris ou sequer uma bóia, houve apenas pessoas que me disseram que seria legal fazer tudo o que eu fiz, falar tudo o que falei e no momento em que a chapa esquentou elas racharam fora. Fugiram de mim, do meu ridículo, da minha dor e do meu desespero.
Engraçado que àquela altura eu já estava dada como vencida, era um cão sarnento na sarjeta que aguardava pacientemente para o derradeiro final, para morrer com alguma dignidade ou digna de alguma pena, mais cedo ou mais tarde eu jogaria uma toalinha branca, pediria arrego, não sei, mas a única certeza que tenho é que me afundar ainda mais na merda não passou de uma puta de uma maldade de quem, talvez por insegurança, necessite exercitar sobre os outros a ilusão prazerosa do poder.
Padecer no meu sossego me foi negado, não como uma pessoa que nega a esmola por preguiça de abrir a bolsa, mas como aquela que dá a corda para o outro se enforcar simplesmente para se sentir menos louco. Eu, a desajustada, e as tantas almas gêmeas da alma minha servimos como bodes expiatórios, como consolos de pessoas ainda mais tristes, mais solitárias e ainda mais erradas do que nós e que tentam tampar o sol com a paneira o tempo todo para não entrarem em colapso ao examinarem suas vidas de fachada, vazias e estúpidas.
E, entendam, não há inocência alguma nesses atos. Esta é a gota mais amarga que alguém que tenha o mínimo de consciência de mundo pode vir a provar, principalmente se este alguém estiver acostumado a enxergar na própria consciência uma espécie de carta de nobreza dos seus atos.
Ê vidinha escrota. Por aqui está tudo péssimo. E não há indícios de melhora. Que bosta.

sábado, 18 de abril de 2009

sobre publicar ou não minhas poesias

tédio. diz:
elas têm q ter um destino mais digno, sei lá se é digno o q eu quero dizer
tédio. diz:
só queria q eu e as minhas idéias não morrêssemos no esquecimento, nesse anonimato q me estrangula
tédio. diz:
entende?
tédio. diz:
acho q deve ser só por isso q escrevo, recebo tantas críticas, tantos rótulos, q sinto necessidade de ser reconhecida por alguma coisa boa
tédio. diz:
é como se eu dissesse nas entrelinhas: "oi, não sou apenas uma bêbada e drogada ok? sei fazer coisas boas tbm"
tédio. diz:
eu não culpo as pessoas por elas me verem assim, eu colho o q eu plantei, só q às vezes dói
tédio. diz:
e dói pra caralho!

terça-feira, 7 de abril de 2009

querido e estimado...

...sr. Dinheiro, escrevo para lamentar a sua ausência aterradora, principalmente nos últimos tempos. Desde que você partiu, sem deixar vestígios ou um bilhetinho sem vergonha sequer, tenho andado ao Deus-dará, à mercê do mundo débil de classe média. Além disso, estou entregue a pior sorte de privações gastronômicas de que se tem notícias. Veja bem, Sr. Dinheiro, minha flora intestinal é sensível e anda aos papéis devido ao excesso de genéricos de Danoninho e Hot Pocket. E para piorar o que já não estava bom, tive que passar a assistir novelas. Como pode notar, estou sofrendo!
Todas as vezes em que passo pela porta do banco, penso que talvez eu devesse dar uma passada lá para conferir se você deixou alguma mensagem no caixa eletrônico, anunciando seu regresso triunfal e que as suas intenções são honrosas e dignas, e que é mais do que de "extremo bom tom" que reatemos nossas estreitas relações de recíproca prestação de serviços.
Sr. Dinheiro, sem você eu não posso sequer existir. Seria minha a culpa por você não corresponder meu amor? Sou pegajosa demais? Estou sempre requerendo atenção demais? É minha a responsabilidade de conquistar seu afeto e não decepcioná-lo. Muito embora eu admita nunca ter feito o seu tipo, não tenho boa visão das circunstâncias como um todo e por isso deixei enormes oportunidades escorrerem pelos meus dedos. Realmente eu devo me culpar não só por isso, mas por tudo isso.
Querido, eu te amo verdadeiramente e para sempre. Por você estou disposta a sacrificar meu tempo, minha energia e meus poucos, porém funcionais, neurônios. Mesmo que eu passe dias em frente ao computador, digitando linhas e linhas, e que isto culmine em dores nas costas, nas vistas e abomináveis enxaquecas. Não arredo este meu traseiro branco daqui por nada neste mundo, estou me preparando para qualquer eventual possibilidade que pintar, para agarrá-la com unhas e dentes, e nunca mais soltá-la. Só há uma única coisa que não posso sacrificar: a minha personalidade, você não pode nem ao menos cogitar desejar que eu me torne algo que não sou e em que não acredito, meus princípios hão de ser mantidos até o derradeiro grand finalle. Conto com a sua compreensão e espero, veementemente, que demonstre tolerância para com a sua única e fiel admiradora.
Volte para mim!


Garota Materialista.

sábado, 4 de abril de 2009

flertando com o fiasco


Hoje é sábado, o que, evidentemente, não faz muita diferença, hoje é um sábado como todos os outros, pelo menos ao longo desses últimos meses, através do quais tenho me arrastado mediocremente pelos cantos da casa, com um pavor inexprimível de gente e com uma lata de cerveja fodida na mão. Não há motivos, não há sequer inspiração, quiçá tenha perdido o talento, juntamente com outras coisas e pessoas que se desvaneceram nas curvas do trajeto sinuoso da minha vida como uma neblina matinal.
Não, seus dramáticos, isto definitivamente não é depressão. Não é nada que se possa dizer sintomático, como uma doença que se manifesta em perturbações no organismo, é apenas um "estar de saco cheio", absoluto e inexpugnável, de mim e dos outros, e também dos estorvamentos provenientes destas malditas obrigações sociais que não fazem sentido nenhum pra mim. É um "estar de saco cheio" do ter que ser psicoticamente feliz, psicoticamente simpático, psicoticamente disposto, psicoticamente onipresente. E no entanto, a única coisa que me deixaria verdadeiramente saciada, seria estar psicoticamente entorpecida.
É mais fácil e é mais cômodo, principalmente para quem passou vinte e dois anos vivendo uma fraude, uma mentira deslavada em que me era agradável viver. Eu disse viver? Eu não vivi. Aliás, eu não vivo. Estou aqui, com uma certidão de nascimento simplesmente para constar que eu existo. Sou mais um número, um dado de alguma estatística, uma brasileira que não desiste nunca de tudo sempre desistir, e quando eu tento de verdade, me apego à idéia de que chegarei a algum lugar, alguém nota aquela cordinha agarrada à minha bunda e me puxa para baixo.
Haha. São vinte e dois anos de uma vida mal vivida. De amizades não cultivadas. De fodas mal tiradas. Tudo isso comigo na garupa de uma roda gigante que gira enlouquecida num universo lisérgico visto através de um prisma, e do qual eu recordo vagamente, porque eu também brinquei de fingir que não me importava, estive ocupada demais, entretida demais, empolagadinha demais com meu parque de diversões distorcido para perceber qualquer indício de qualquer besteira. Pelo menos, àquela época eu costumava julgar ser tudo uma tremenda besteira, família, estudo, amigos caretas, filantropia, era tudo uma chatice.
Hodiernamente, essas coisas continuam enchendo a minha paciência, família, estudos, amigos caretas, filantropia, mas todas essas bobagens agora me são necessárias, talvez pelo simples fato de não as ter e então as desejar e precisar delas como preciso do ar - habitualmente, eu sou assim mesmo -, ou então porque um belo dia acordei do meu coma induzido e reconheci nestas idiotices o caminho para fora deste poço em direção à luz, ou qualquer coisa assim. Não sei, só sei que não as tenho mais, pelo menos por inteiro, são uns pedacinhos aqui e outros ali mas que já não são compatíveis, são como cargas de sinais iguais que se repelem.
Desta cagada, a que fiz questão de resumir minha frágil existência, restaram-me somente as cervejas, as quais tomo por só tomar como nunca outrora, vendo-as como minhas companheiras insubstituíveis, fiéis e sinceras, que disfarçam a insalubridade de dias decorridos no marasmo. Não tenho amigos verdadeiros porque eles não existem mais. Não tenho distrações porque as putas das distrações já não me distraem mais. Não tenho romances porque meus breves relacionamentos não fecundam a paixão. Mas ao menos tenho estas cervejas geladas, as rainhas da minha vida miserável.

quinta-feira, 19 de março de 2009

pretérito

Houve um tempo em que acreditei em contos de fada, que idealizei histórias que pareciam ter saído de livros, com amores impossíveis capazes de transpor quaisquer barreiras. Eram verdades invioláveis. Também houve um tempo em que acreditei nas pessoas, na pureza dos seus corações e das tantas qualidades que elas podem ter quando querem. E já houve um tempo em que acreditei em mim, em que achava que conseguiria mudar o mundo e as mentalidades. Acreditei que seria sempre a mesma: apaixonada, dedicada, empenhada.
Falhei em tudo.
Desiludi-me com o mundo, com as pessoas e, sobretudo, comigo mesma.
Não há contos de fada. Há somente mentiras, traições, desejos, dissimulações e paixões estéreis e superficiais que apenas consolam o nosso medo esmagador da solidão. E descobri que o mundo era absurdamente feio. Que aquelas pessoas capazes de coisas tão maravilhosas eram responsáveis por monstruosidades. Que sorrisos podem ser tão ocos quanto palavras de circunstância. Desencantei-me com tudo que vejo.
Deixei de crer na perfeição das coisas que outrora julguei existir por aí escondidas. Deixei de me iludir com tudo o que antes julgava essencial.
No fundo conheci a realidade das coisas.
Vi que as coisas más são mais do que as boas. Que os valores são hipocrisias que disfarçam crises de consciência. Que há boas pessoas, que ainda acreditam ou querem acreditar mas que são esmagadas pela opressão desta sociedade descrente e decadente.
Mas aquele sentimento esmagador, que nos faz acreditar que há coincidências tão fortes que não se podem dever à simples aleatoriedade do universo, que nos levam a pensar que há algo superior a nós que vai escrevendo por linhas tortas o nosso caminho e que há mesmo momentos e pessoas perfeitas. E este é um bom motivo para acreditar que ainda há coisas pelas quais vale a pena continuar a forçar a corrente.