sábado, 25 de abril de 2009

por aqui está tudo péssimo

Sinto-me como se estivesse afogando na aspereza da minha própria vida. E por mais que eu bata os pés e os braços, há um repuxo que impede que eu volte à superfície, até mesmo porque eu já não tinha forças antes mesmo de ter sido jogada ao mar. E essa foi somente mais uma das centenas de crueldades praticadas contra os desajustados desse mundão de meu Deus. Para mim não houve botes, salva-vidas viris ou sequer uma bóia, houve apenas pessoas que me disseram que seria legal fazer tudo o que eu fiz, falar tudo o que falei e no momento em que a chapa esquentou elas racharam fora. Fugiram de mim, do meu ridículo, da minha dor e do meu desespero.
Engraçado que àquela altura eu já estava dada como vencida, era um cão sarnento na sarjeta que aguardava pacientemente para o derradeiro final, para morrer com alguma dignidade ou digna de alguma pena, mais cedo ou mais tarde eu jogaria uma toalinha branca, pediria arrego, não sei, mas a única certeza que tenho é que me afundar ainda mais na merda não passou de uma puta de uma maldade de quem, talvez por insegurança, necessite exercitar sobre os outros a ilusão prazerosa do poder.
Padecer no meu sossego me foi negado, não como uma pessoa que nega a esmola por preguiça de abrir a bolsa, mas como aquela que dá a corda para o outro se enforcar simplesmente para se sentir menos louco. Eu, a desajustada, e as tantas almas gêmeas da alma minha servimos como bodes expiatórios, como consolos de pessoas ainda mais tristes, mais solitárias e ainda mais erradas do que nós e que tentam tampar o sol com a paneira o tempo todo para não entrarem em colapso ao examinarem suas vidas de fachada, vazias e estúpidas.
E, entendam, não há inocência alguma nesses atos. Esta é a gota mais amarga que alguém que tenha o mínimo de consciência de mundo pode vir a provar, principalmente se este alguém estiver acostumado a enxergar na própria consciência uma espécie de carta de nobreza dos seus atos.
Ê vidinha escrota. Por aqui está tudo péssimo. E não há indícios de melhora. Que bosta.

sábado, 18 de abril de 2009

sobre publicar ou não minhas poesias

tédio. diz:
elas têm q ter um destino mais digno, sei lá se é digno o q eu quero dizer
tédio. diz:
só queria q eu e as minhas idéias não morrêssemos no esquecimento, nesse anonimato q me estrangula
tédio. diz:
entende?
tédio. diz:
acho q deve ser só por isso q escrevo, recebo tantas críticas, tantos rótulos, q sinto necessidade de ser reconhecida por alguma coisa boa
tédio. diz:
é como se eu dissesse nas entrelinhas: "oi, não sou apenas uma bêbada e drogada ok? sei fazer coisas boas tbm"
tédio. diz:
eu não culpo as pessoas por elas me verem assim, eu colho o q eu plantei, só q às vezes dói
tédio. diz:
e dói pra caralho!

terça-feira, 7 de abril de 2009

querido e estimado...

...sr. Dinheiro, escrevo para lamentar a sua ausência aterradora, principalmente nos últimos tempos. Desde que você partiu, sem deixar vestígios ou um bilhetinho sem vergonha sequer, tenho andado ao Deus-dará, à mercê do mundo débil de classe média. Além disso, estou entregue a pior sorte de privações gastronômicas de que se tem notícias. Veja bem, Sr. Dinheiro, minha flora intestinal é sensível e anda aos papéis devido ao excesso de genéricos de Danoninho e Hot Pocket. E para piorar o que já não estava bom, tive que passar a assistir novelas. Como pode notar, estou sofrendo!
Todas as vezes em que passo pela porta do banco, penso que talvez eu devesse dar uma passada lá para conferir se você deixou alguma mensagem no caixa eletrônico, anunciando seu regresso triunfal e que as suas intenções são honrosas e dignas, e que é mais do que de "extremo bom tom" que reatemos nossas estreitas relações de recíproca prestação de serviços.
Sr. Dinheiro, sem você eu não posso sequer existir. Seria minha a culpa por você não corresponder meu amor? Sou pegajosa demais? Estou sempre requerendo atenção demais? É minha a responsabilidade de conquistar seu afeto e não decepcioná-lo. Muito embora eu admita nunca ter feito o seu tipo, não tenho boa visão das circunstâncias como um todo e por isso deixei enormes oportunidades escorrerem pelos meus dedos. Realmente eu devo me culpar não só por isso, mas por tudo isso.
Querido, eu te amo verdadeiramente e para sempre. Por você estou disposta a sacrificar meu tempo, minha energia e meus poucos, porém funcionais, neurônios. Mesmo que eu passe dias em frente ao computador, digitando linhas e linhas, e que isto culmine em dores nas costas, nas vistas e abomináveis enxaquecas. Não arredo este meu traseiro branco daqui por nada neste mundo, estou me preparando para qualquer eventual possibilidade que pintar, para agarrá-la com unhas e dentes, e nunca mais soltá-la. Só há uma única coisa que não posso sacrificar: a minha personalidade, você não pode nem ao menos cogitar desejar que eu me torne algo que não sou e em que não acredito, meus princípios hão de ser mantidos até o derradeiro grand finalle. Conto com a sua compreensão e espero, veementemente, que demonstre tolerância para com a sua única e fiel admiradora.
Volte para mim!


Garota Materialista.

sábado, 4 de abril de 2009

flertando com o fiasco


Hoje é sábado, o que, evidentemente, não faz muita diferença, hoje é um sábado como todos os outros, pelo menos ao longo desses últimos meses, através do quais tenho me arrastado mediocremente pelos cantos da casa, com um pavor inexprimível de gente e com uma lata de cerveja fodida na mão. Não há motivos, não há sequer inspiração, quiçá tenha perdido o talento, juntamente com outras coisas e pessoas que se desvaneceram nas curvas do trajeto sinuoso da minha vida como uma neblina matinal.
Não, seus dramáticos, isto definitivamente não é depressão. Não é nada que se possa dizer sintomático, como uma doença que se manifesta em perturbações no organismo, é apenas um "estar de saco cheio", absoluto e inexpugnável, de mim e dos outros, e também dos estorvamentos provenientes destas malditas obrigações sociais que não fazem sentido nenhum pra mim. É um "estar de saco cheio" do ter que ser psicoticamente feliz, psicoticamente simpático, psicoticamente disposto, psicoticamente onipresente. E no entanto, a única coisa que me deixaria verdadeiramente saciada, seria estar psicoticamente entorpecida.
É mais fácil e é mais cômodo, principalmente para quem passou vinte e dois anos vivendo uma fraude, uma mentira deslavada em que me era agradável viver. Eu disse viver? Eu não vivi. Aliás, eu não vivo. Estou aqui, com uma certidão de nascimento simplesmente para constar que eu existo. Sou mais um número, um dado de alguma estatística, uma brasileira que não desiste nunca de tudo sempre desistir, e quando eu tento de verdade, me apego à idéia de que chegarei a algum lugar, alguém nota aquela cordinha agarrada à minha bunda e me puxa para baixo.
Haha. São vinte e dois anos de uma vida mal vivida. De amizades não cultivadas. De fodas mal tiradas. Tudo isso comigo na garupa de uma roda gigante que gira enlouquecida num universo lisérgico visto através de um prisma, e do qual eu recordo vagamente, porque eu também brinquei de fingir que não me importava, estive ocupada demais, entretida demais, empolagadinha demais com meu parque de diversões distorcido para perceber qualquer indício de qualquer besteira. Pelo menos, àquela época eu costumava julgar ser tudo uma tremenda besteira, família, estudo, amigos caretas, filantropia, era tudo uma chatice.
Hodiernamente, essas coisas continuam enchendo a minha paciência, família, estudos, amigos caretas, filantropia, mas todas essas bobagens agora me são necessárias, talvez pelo simples fato de não as ter e então as desejar e precisar delas como preciso do ar - habitualmente, eu sou assim mesmo -, ou então porque um belo dia acordei do meu coma induzido e reconheci nestas idiotices o caminho para fora deste poço em direção à luz, ou qualquer coisa assim. Não sei, só sei que não as tenho mais, pelo menos por inteiro, são uns pedacinhos aqui e outros ali mas que já não são compatíveis, são como cargas de sinais iguais que se repelem.
Desta cagada, a que fiz questão de resumir minha frágil existência, restaram-me somente as cervejas, as quais tomo por só tomar como nunca outrora, vendo-as como minhas companheiras insubstituíveis, fiéis e sinceras, que disfarçam a insalubridade de dias decorridos no marasmo. Não tenho amigos verdadeiros porque eles não existem mais. Não tenho distrações porque as putas das distrações já não me distraem mais. Não tenho romances porque meus breves relacionamentos não fecundam a paixão. Mas ao menos tenho estas cervejas geladas, as rainhas da minha vida miserável.