quarta-feira, 31 de outubro de 2007

nostalgia

Há muitos anos - ou pelo menos 6 - as coisas costumavam ser bem diferentes. Se eu corria, era pra tirar o pai da forca, se jogava verde era pra colher um fruto doce e maduro, não caía de cavalo magro e sabia com quantos paus se fazia uma canoa, o quê não me impedia de, vez ou outra, embarcar numa canoa furada. Eu tinha a faca e o queijo nas mãos.
Mas isso tudo era antigamente, isto é, outrora!
Atualmente as coisas são bem diferentes. Se eu corro, é contra o tempo. Se eu jogo um verde, colho frutos podres ou azedos. Já não me lembro tão bem como é uma canoa ou quantos paus são necessários pra construí-la, embora eu só embarque em canoas furadas. Tudo foi se perdendo por aí: toda minha pureza, junto com outras coisas minhas que já estão esquecidas na memória, e de tão esquecidas já não sei se ainda as tenho ou se cheguei as ter realmente.
Viver já não foi uma sangria desatada pra mim.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

bons amigos

A pia não parava de pingar. Eu estava ali parada olhando pras minhas folhas cheias de números, tentando me concentrar. Olhava a pia, a borrachinha deve estar gasta. Eu tenho uma prova de cálculo amanhã, porra! A pia pingando com o intuito de não me deixar estudar. Eu sei Lucas, eu sei muito bem o quê você está dizendo, mas ainda não estou bêbada, isso não é dia de estar bêbada, eu tenho dias definidos pra me embriagar, você sabe!
O problema desse mundo são esses amores platônicos, essas paixões enrustidas, não correspondidas, a vida seria muito mais fácil se a gente gostasse de quem estivesse à nossa frente nos dando de presente o coração, ao invés disso, a gente vai procurar sarna pra se coçar, vai se apaixonar pelo primeiro panchorrão que usa bermudinha florida.
Sim, eu sei que você disse que eu iria me foder com aquele idiota mas eu não gostava dele mesmo, eu? Não gosto de ninguém atualmente, cê tá cansado de saber disso! Tá bom, não precisa dedicar à mim a sua psicologia barata! Oh não, desculpe-me! Não quis ser estúpida. Tudo bem, eu sou estúpida o tempo todo. Mas é muito amor desperdiçado à toa, sabe Lucas? Bom é que cê me entende. Eu sei guardar segredo porra, pode me contar, CÊ FEZ O QUÊ COM ELA?!
Aquele cara que só consegue te enxergar como um ombro amigo assexuado acaba pra mim com um gostinho de não-quero-mais de soco na alma. Será mesmo que o Lucas não percebe que eu tenho boca, língua e peito? Eu deveria avisá-lo que eu tenho outras funções mais interessantes, porque eu tô cansada de ouvir cada detalhe sórdido e sacana das aventuras amorosas dele com Paulas, Marianas, Carlas, Nathálias, Moniques, Laíses, Marcelas, essas vadias batizadas com esses nomezinhos de classe média aspirante à burguesa. Isso é que dá virar confidente!
Essas paixões são despertadas sem nenhum motivo aparente, sem explicação alguma, elas são o fruto de sentimentos negligenciados e não adianta querer controlar porque cérebro e coração nunca irão falar a mesma língua.
E eu já nem me lembro sobre o que comecei a escrever. Ah, sobre a pia pingando e a borrachinha gasta. O amor não passa de uma borrachinha gasta que não deixa a pia parar de pingar, um defeito, um vírus na matrix, aquela bosta que atravanca o bom funcionamento das coisas.
Sim, já tô falando um pouco enrolado. Não! Não me leve embora! Essa cerveja tá uma maravilha. Tá tudo sob controle. Mas ainda bem que você existe pra agüentar minhas chatices de bêbada, sabe. Eu te considero pra caralho Lucas, cê é meu irmão, cara.
Lucas! Esse desgraçado ainda vai acabar com a minha vida.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

gentalha, gentalha!

Engraçado como felicidade é uma coisa que incomoda! Engraçado como a minha alegria incomoda, mas justo a minha?, tão breve e pouca que passaria despercebida. Justo eu que ando pelos cantos chateada com alguma idiotice - ou algum idiota - e nem sempre estou tão feliz. Pra ser honesta, na maioria das vezes ou estou beirolando ou estou enfrentando uma nova crise existencial, embora a maioria das pessoas pense o contrário e por mais que, ultimamente, eu até ande de bem com a vida. Mas é aí que começa a confusão! Eu sorrio demais, sorrio quase o tempo todo, isso alfineta alguns.
Felicidade incomoda, e incomoda tanto que há quem não se agüente vendo os outros felizes! Aí sai logo soltando veneno, colocando em xeque, questionando, fofocando, inventando, basicamente: fudendo legal com a sua vida. Li outro dia que "as pessoas são exatamente do tamanho de seus atos!", gente capaz de coisas baixas e imorais é gentinha e gentinha não é lá exatamente gente, é gentalha.
Então eu fico incomodada, me irrito. Gentalha tem em todo lugar e não adianta falar "mas lá todo mundo é bacana" porque quando você menos espera a pessoa mais improvável surge das cinzas pra te azucrinar, tentar te colocar pra baixo e, por mais que você não queira se abalar, acaba se tornando parte do joguinho imundo.
Gentalha é descartável. Ela aparece na sua vida cagando com alguma coisa mas você tem que jogá-la fora. É tão descartável que se você pensasse nela, provavelmente a desprezaria, mas você não consegue nem pensar nela de verdade, pensa apenas nessa postura, ou descompostura, ridícula da gentalha.
E quando não é alguém te aborrecendo com as coisas de sempre, é alguém discutindo idiotices, não ajudando em porra nenhuma mas disposto a atrapalhar, afinal, "o importante é participar". Na faculdade você encontra esse tipo. Na minha, por exemplo, tem aos montes. Se você quer encontrar imbecis basta ingressar no ensino superior onde todo mundo sente uma necessitade vital de se mostrar maior e maduro, com aquelas opiniões retardadas, falando ao mesmo tempo, comentando e dando pitaco em todos os assuntos, até mesmo na conversa da mesa ao lado que não lhes diz respeito algum, cuspindo asneiras pra todos os lados. O pior é que essa merda toda ainda respinga em você e esse é um bom motivo pra ficar puto da vida.
A única vantagem nisso tudo é que já não me entristeço mais como antes porque não espero nada melhor dessas pessoas, não há surpresas. A minha resposta a isso é sorrir mais, fazê-los pensar porque eu ainda continuo aqui. E, graças a Deus!, que eu sou o suficientemente chata, presunçosa e persistente pra pular fora, já fiz isso outras vezes sem a ajuda de ninguém, já descartei outras pessoas em outras situações, agora não poderia ter sido diferente. Não faltam coisas legais nesse mundinho insosso pra eu fazer, então não vou morrer de tédio por isso.
Pra quem fica e pra quem acha que incomodo, deixo um recado: eu mal comecei!




[ não queria ter sido tão arrogante, mas alguns fatos não podem passar em branco ]

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

bukowski, a mulher e eu

Enquanto procurava um tema pra escrever, após revirar as vísceras dos fatos, lendo um blog mais interessante do que o meu, lembrei de uma ida ao banco frustrante.
Tudo era tão indesculpavelmente sistematizado que não sabia nem retirar a senha, foi preciso que um homem de sorriso binário (dente sim, dente não) me desse as instruções.
Tudo era confortável e de primeiro mundo e eu fiquei acanhada por ser essa matuta do interior.
Escolhi o lugar que me pareceu mais adequado, não sou do tipo exibicionista, mas também a idéia de viver no anonimato não é das melhores. Ainda estavam atendendo lá pela casa dos 200 e, como meu papelzinho indicava 311, tinha muito tempo pela frente.
Logo uma mulher sentou entre mim e a outra moça iniciando um papinho de que para ir à um lugar daqueles era preciso levar um livro e blá blá blá. Sacudi a cabeça em sinal de concordância sem esticar conversa, mas afinal, o quê ela quis dizer com “um lugar daqueles”? Que o banco é o ânus da sociedade? Um antro de perdição?
Sem dúvida alguma, sou o melhor exemplar vivo de um pára-raio de idiotas, mas mais tarde, sendo assim só mais tarde, eu viria a perceber que a tal mulher era ainda mais imbecil do que eu havia imaginado.

Para a minha salvação, lembrei que havia trazido um livrinho de bolso, que não cabe no meu bolso, do homem mais pervertido do mundo: Bukowski. Pois eu trouxe o meu e vou lê-lo, disse, pressupondo que ela iria se tocar de que bater papo sobre o governo brasileiro e o absurdo de termos que passar mais de quinze minutos na fila era a última coisa que eu queria. Veja bem, minha senhora, pelo menos temos os banquinhos!
Logo a outra garota feia, gorda e mal vestida deu a brecha (DES)necessária para iniciar a conversa mais estúpida que já ouvi na minha vida.

“Beijava com entrega, mas sem se afobar. Passei-lhe as mãos pelo corpo todo, por entre os cabelos. Fui por cima. Era quente e apertada. Comecei a meter devagar, compassadamente, não querendo acabar logo. Os olhos dela encaravam, fixos, os meus.”

Eu me divertia com as perversões escrachadas e imundas do velho Bukowski, enquanto ouvia a mulher argumentar argumentos filosóficos sobre como somos mal tratados nas instituições bancárias e emendar num assunto sobre a filha que havia nascido com o dom para a psicologia e que, desgraçadamente, conhecia a outra com quem conversava, e o clichê de que o mundo é muito pequeno, e as coincidências. No final das contas, o assunto se estendeu de tal forma que ela já falava da sua entrega de corpo e alma ao espiritismo.
Toda a conversa fiada era direcionada à mim simplesmente porque estava mal-humorada o suficiente para ter-lhe lançado um olhar cheio de ódio pelo papo de vadia antes mesmo de ela começar a articular. Senti-me péssima por ler aquilo enquanto as duas estavam tão preocupadas com elevação espiritual, ioga, família e bons costumes. Taí, esse é o típico papo de vadia mal-comida.

“Beijamos de novo. Começou a chorar baixinho. Sentia-lhe as lágrimas no rosto. Aqueles longos cabelos pretos me cobriam as costas feito mortalha. Colamos os corpos e começamos a trepar, lenta, sombria e maravilhosamente bem”

Sentia-me suja até ver brilhar à minha frente o número mágico. Levantei-me apressada e cheguei à boca do caixa sorrindo e com uma expressão ridícula de alívio, entreguei o boleto da minha faculdade e ouvi:
- Você está no banco errado!

Vagando pelo site da Folha lia reportagens sobre o caso Cisco. Segue-se então um trecho:

"24/10/2007 - 02h30

Gravação da PF sugere doação de R$ 500 mil da Cisco ao PT


A Polícia Federal interceptou conversas telefônicas durante as investigações da Operação Persona, que relatam uma "doação" de R$ 500 mil ao PT por empresários do setor de informática. O dinheiro seria para obter uma suposta vantagem numa licitação da Caixa Econômica Federal, informa nesta quarta-feira reportagem da Folha.

A PF investigou durante dois anos o suposto grupo criminoso, que apontou um prejuízo de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos entre impostos não pagos e multas. Entre os envolvidos estão Carlos Canevali, fundador da Cisco do Brasil e executivos da Mude Comércio e Serviços Ltda., acusada de ser a importadora oculta da Cisco --Francisco Gondin, José Roberto Pernomian e Fernando Grecco.

Segundo apurou a Folha, o relatório preparado pela PF informa que Grecco conversa com Pernomian, ambos da Mude, para "acertarem valores e datas do negócio de Carlinhos Carnevali com um representante do PT". Em outro momento, a polícia relata um diálogo entre Carnevali e Gondin, em que este cita negócios entre o fundador da Cisco e a Caixa."

Olha ele aí! Novamente o tão famoso e tão habitual caixa 2. Esse é o resultado da BURROcracia brasileira, da alta carga tributária etc etc etc. As doações de campanha deveriam ser monitoradas, a transparência pode e deve ser exigida pela população, a mesma população que ao invés de se preocupar com a identidade secreta do assassino da mais nova trama do horário nobre, deveria se interar e se interessar por assuntos relacionados ao país e que, obviamente, estão diretamente ligados à vida de cada um.

Pois eu já disse antes e faço questão de ressaltar: quem é petista e honesto, não pode ser inteligente. Quem é petista e inteligente, não pode ser honesto. E quem é honesto e inteligente, não pode ser petista.

Ei comunistas, Cuba os espera!

sábado, 20 de outubro de 2007

sem título

Eu cheguei em um ponto da minha vida em que eu já deveria ter tudo planejado, tudo bem definido, eu já deveria ter encontrado minha alma gêmea, deveria ter um objetivo na vida, no entanto, estou tão perdida quanto há 6 anos atrás, numa busca exaustiva para saber quem eu sou realmente.
Eu deveria ter um plano, uma meta. Mas eu não tenho nada! Não construí nada porque perdi tempo demais me lamentando por aí e sentindo pena de mim mesma, fazendo com que os outros sentissem pena de mim, mesmo que de uma forma inconsciente, prometendo secretamente que iria mudar, que iria tentar ser alguém melhor.
Eu perdi tempo demais com frustrações mínimas, insignificantes perante à vida! Eu perdi chances demais, amigos demais, momentos alegres demais. A quantidade de coisas que eu deixei passar por ser uma egoísta poderia ser arredondada pra uma vida. Uma vida de desperdícios e mais desperdícios.
A situação só não é trágica porque ainda tenho esse meu senso de humor ácido e deprimente que me motiva sair em um final de semana e encher a cara.