domingo, 30 de dezembro de 2007

sobre as velhas amizades

Amizade pra mim hoje em dia tem um conceito tão deturpado, que se eu fosse contar o porquê, metade das pessoas que lêem isso aqui cometeriam suicídio em meu nome. E como eu não quero carregar nenhuma culpa além das habituais, resolvi partir de um pressuposto mais suave.
Então, tá aí a dinâmica do edifício Juiz de Fora: cavalo vai-cavalo vem(bis), e no meio de todos eles há um em que falta uma pinta. Tá Dona Sarah, e daí? Bom, o que eu quero dizer que a dinâmica do edifício é a semelhante à da vida, aliás, a vida também é coisa mesmo muito engraçadinha.
O ciclo que a gente segue, no limiar do caos, isso de as pessoas irem e virem, como os cavalinhos do prédio, deixando marcas boas, ruins, péssimas e maravilhosas nas nossas vidas, é quase mágico ou quase trágico – ou os dois. É curioso como elas vêm e vão, como choram com você, pra você e por você ou como elas riem pra você, com você e de você.
Com o passar dos anos meu círculo de amigos reduziu-se à metade, mas não acho isso de todo ruim. Não penso em nenhum momento em mudar essa realidade. Foi uma seleção natural.
Ou nos afastamos ou brigamos com os colegas mais chegados do momento que passam ao status de conhecidos, não por carinho mas por educação ou, no meu caso, por um resquício de consideração. Não tenho muita educação sobrando, como se sabe. Hahaha!
Nos afastamos da parcela de imbecis e conhecemos outros imbecis ainda piores do que os primeiros, e temos a obrigação moral de nos afastarmos deles não só porque, teoricamente, devemos odiar imbecis mas também pra não sermos contaminados.
E daí que a gente se estrepa, bate o pé, xinga e o caralho a quatro pra no final das contas voltar aos bons e velhos amigos, aqueles de infância. Aqueles seus amigos jagodes de infância. A guria com bigode, o nerd com óculos de fundo de garrafa, a retardada maníaca com maquiagem, a vassourinha de qualquer buatchy, o gordinho zoado, mas que, bem ou mal, te aceitam como você é.
É desagradável dizer uma coisa dessas, mas há uma hierarquia no círculo de "amizades" socialmente engajadas. Os mais convenientes vão assumindo postos privilegiados e aqueles que já não satisfazem nossas necessidades, são deixados de lado até serem chutados para escanteio.
Os outros, aqueles verdadeiros amigos, perduram, e
como diz meu amigo Diego Navarro - O Bruto, mesmo nos "sumiços esporádicos" e com as milhares de histórias que ultrapassam a bizarrice, continuam cravados nas páginas das nossas vidas.
Não tem problema se moramos em bairros diferentes. Se estamos noivos. Se estamos na vida bandida. Se estamos namorando. Ou se alguns já têm até a porra de um filho. O legal é que a gente se fode todos os dias, mas continuamos por aí, cada um com seu cada um bêbado em alguma espelunca lazarenta, cada um com seu cada qual em um beco escuro e sórdido trepando loucamente. E principalmente, cada um com um pensamento sincero a respeito do outro.
Talvez deva ser por isso que eles nos chamam de más companhias. Fala sério! Más companhias não, bee. PÉSSIMAS!
Ei Nava, anda logo amigo. Let's get drunk. Let's fuck. Let's get ugly.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

dos sádicos

Havia aqui perto duas formigas. Esmaguei-as com a polpa dos dedos, demonstrando toda a minha supremacia. Uma sobreviveu, esperneou, era só patas e um corpinho trepidante e retorcido pela minha fúria. Agonizou. Sorri...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

desassossego

Daqui da minha janelinha eu vejo a rua lá fora, para além do nada que tudo isso representa. Passam casais, futuros casais, gente normal surge de vez em quando, o movimento de automóveis é alto à essa hora, e enquanto todos passam, eu continuo aqui sozinha, sozinha como tenho sido, sozinha como sempre serei.
No meu quarto absurdo e anônimo, escrevo palavras como salvação da alma e tenho em minha mão um cigarro já pela metade e na mesa do computador, um reles copo de Coca-Cola choca, um cinzeiro transbordando e um sabor agridoce por toda a boca, também como redenção.
Tenho vivido uma vida que não se vive, ouvindo o ruído vulgar do diverso pelas vidraças de casa. E pelas mesmas vidraças eu observo o mundo girar a sua engrenagem louca e complexa demais para que eu possa compreender ou sequer participar, esperando apenas pela diligência do abismo. Vendo doer na alma a doença dessa ausência de vida e espalhando por todos os cantos as minhas dores estúpidas, daqueles que vivem desassossegados, na mais profunda irrequietação do espírito.
Eu não pedi muito à vida, pedi alguma comida, um lugar só meu, um pouco de amor e paz, não exigir dos outros e não ser exigida por eles. Mas até o pouco que pedi me foi negado. Negar a esmola não por apenas negar, por não querer, mas como que, simplesmente, por preguiça de abrir a bolsa.
E já tarde, como é agora, vem a glória noturna de ser tão grande sem nada ser, o sublime repuxo que me leva à monotonia que pouco me diz sobre tudo isso.
Talvez minha voz, aparentemente tão pouca coisa, seja a encarnação de outras milhares de vozes, de outras milhares de vidas submissas como a minha com destino ao sonho inútil, à esperança sem vestígios.
Vejo-me aqui, no quarto andar da Moraes e Castro, assisto-me com sono e cansaço. A vida vã e sem beleza interpelando pela própria vida...

dinâmica labial

Ocupei pouco meus lábios nesses últimos tempos, os gastei mais falando do que com o mais interessante: beber do líquido inebriante de lábios alheios. A parte isso, devo confessar, eu gosto de lábios, dos mais variados formatos, carnudos ou não, os formatos são pretextos atrativos, assim como é a relação entre as flores e os insetos. Eu gosto de lábios, mas gosto mais dos lábios bem desenhados e medianamente fartos, onde, na parte superior, formam-se duas curvas perfeitas e simétricas, como se fossem constituir um coração e, ali, interrompidas por um declive brando.
Mas quando se pensa ter desvendado toda a poesia que se revela em contornos, a chave de todo o misticismo labial é revelada: na parte inferior, faz-se levianamente arqueado, com contornos sutis, o lábio inferior. Pois eu explico, naquele momento em que nada mais importa e não se sabe o que fazer, ou se olha nos olhos ou mira-se na magia dos lábios sendo umedecidos vagarosamente com a língua, vem uma carícia feita com a polpa do polegar de outrem nos seus, verticalmente pra baixo, deixando os lábios entreabertos e sedentos pelo perfume dos sorrisos. Eis a soberania do beijo!
O que torna um beijo gostoso não é o ato propriamente dito, mas o momento que o antecede, o bailar dos olhos cruzando-se com um desejo inconsciente e consciente de fazê-lo acontecer, que provoca uma aproximação dos corpos, que aquece por dentro do peito, uma chama que tortura e faz querer mais, quase um sadismo subjetivado, e as faces dão indícios de que vão corar, o coração entra num ritmo quase musical, os olhos ameaçam se desviar e não o fazem... Ufa!

o meu natal

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Há coisas que realmente colocam um coração a sorrir... dão força pra saber que realmente, apesar de tudo, vale à pena lutar pelo o que se acredita, pelo o que se sente. Há pessoas que, rapidamente, colocam meu coração a sorrir e, quando já me habituei com aquela satisfação, ainda que breve e pouca, elas tratam logo de colocar meu coração pra se debulhar em lágrimas. Esse mundo que dá com uma mão e tira com a outra.
O dia fica frio. Fica triste. Mas depois eu acabo por me recuperar. Lentamente. Rejunto os cacos, colando um pedacinho aqui, outro ali. Vejo no mundo outras razões pra tentar seguir, pequenas razões no quotidiano pra levantar da cama mais um dia e lutar. Lutar por um significado na minha vida. Por um rumo que decidi tomar. E só faz sentido parar de lutar por isso, quando não houver mais uma gota de esperança no mundo.
Eu sonho tanto com a minha independência, cobiçando o que tá lá fora, e acabo me esquecendo do que eu tenho aqui dentro, que vale mais do que qualquer retardado que eu beije por aí, qualquer cara gostoso que, inexplicavelmente, eu possa vir a me apaixonar.
Mesmo que eu passe dias trancada no meu quarto, eu sei que há algumas poucas pessoas que estarão me esperando ali do lado de fora para o que eu precisar. Minha mãe com um colo e um conselho todo avacalhado, meu pai debruçado na cama e jogando PS2, sempre com alguma coisa engraçada pra dizer.

Eu não sei bem o que anda se passando comigo. Essa super-carência. Esse super-vazio. Esse super-tédio. Esse super-cansaço. Talvez seja simplesmente imaturidade. Resquícios infantis. Então eu optei por me isolar de tudo e de todos, mas a verdade é que nunca imaginei que fosse me custar tanto ficar sozinha. A solidão é fodida...

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

bueller



FAKING OUT PARENTS (enganando os pais)
1. Fake a stomach cramp (finja uma dor de estômago)
2. Moan and wail (gema e resmungue)
3. Lick Palms (lamba as palmas das mãos)

Ferris ainda justifica: "É infantil e estúpido, mas... a escola também é."

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

about me

Nasci em 08 de janeiro de 1987. Foi a coisa mais importante que me aconteceu. Apesar de eu achar que não estava pronta pra botar meu olhar no mundo, insegura e relutante pra vir pro lado de cá: a bolsa estourou e eu nasci prematuramente no calorzão de janeiro depois de 5 horas de um trabalho de parto sofrido.
E o Blogger ainda pede pra que eu coloque uma descrição ali ao lado sobre quem eu sou. Ora! Quem eu sou são meus textos, as poesias que, aliás, nunca mostrei a ninguém. Não houve uma linha, uma vírgula que escrevi que não fosse uma confissão. E eu sempre quis que as minhas confissões resultassem num livro porco a la "Bruna Surfistinha", com o mais alto teor de perversidades e um baixo teor de cultura, e ainda assim fazer um puta sucesso.
É chato falar de mim. Eu prefiro as opiniões alheias. Tenho um problema sério com auto-estima, sabe? Sou do tipo que precisa de elogios o tempo todo, uma chuva de confetes incessante. Acho que pelo fato de ter nascido antes da hora, acabei me tornando complexada, deve ser por isso que as pessoas às vezes me dizem que eu sou bem modesta. Mentira! Elas não sabem de nada. Eu sou tão orgulhosa, mas tão orgulhosa, que acho que até hoje não fui capaz de escrever algo à minha altura hahaha.
Ah! Se vocês soubessem que a cada vez que escrevo, escrevo doente e só, se vocês soubessem que a minha solidão é a solidão da alma, que a minha doença está no espírito. Ah! Se vocês soubessem as tantas coisas talvez nunca mais me quisessem por perto. Mas ainda bem que vocês não querem saber sobre minha alma ou espírito infectados com a tristeza profunda do peso da existência, e talvez se esqueçam completamente do que escrevi aqui em poucos dias.
O que vocês querem são os detalhes sórdidos, creuzas, fofocas, intrigas... hahaha! Bem, acho que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente, a arte é o que me difere da tal da "Bruna Surfistinha". Deixo as fofocas pra depois.
Pensando bem, acho que devo escrever mesmo um livro.

domingo, 9 de dezembro de 2007

da descrença absoluta

Estou cansada de algumas pessoas. Extenuamente exausta da maioria das pessoas, eu diria mesmo. Eu quero férias delas. Ter o mínimo de responsabilidades e ser minimamente irresponsável com todo mundo. Quero ter motivação, algo que me faça fazer mais do que me arrastar por aí, de bar em bar.
É tédio. Sobretudo cansaço. E principalmente falta de intensidade. É engraçado sentir-me cansada exatamente por não fazer nada de edificante, viver num arco-íris preto e branco e acordar a cada dia como nasce o Sol... porque tem mesmo que ser.
E bem aqui, à deriva, nessa encruzilhada de sentimentos, momentos e pessoas que eu sou, já não há como adiar minhas avaliações, chegou a hora de pesar os prós e os contras, impulsos e deveres ou, simplesmente, mandar tudo à merda pra tentar seguir em frente.
Eu não sei se são saudades, questões existenciais ou pura falta de paciência, talvez seja apenas pressa de ser feliz. Ou um teste pra ver se agüento isso tudo sem a ajuda de ninguém, porque eu coloco o peso do mundo nas costas e o carrego estoicamente.
Eu não sei se vou conseguir continuar com isso, sorrindo com um nó na goela toda vez em que me perguntarem se está tudo bem. Eu só preciso respirar um pouco pra poder ter a certeza de que há um mundo menos amargo lá fora...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

sorrir: livre-se dessa obrigação

Blog é uma coisa pública, logo, o que eu escrevo aqui acarreta conseqüências. As críticas construtivas são sempre bem vindas, alguém lê algo, gosta ou desgosta, comenta e pronto. Mas um cara, que eu não sei de onde surgiu, cismou que tem intimidade o suficiente comigo pra meter o bedelho nas coisas que eu escrevo. Não bastando, ele também cismou que tem intimidade o suficiente para deixar recados no Orkut pra mim.
Esse cara anda implicando com o meu pessimismo, ele se sente no direito de criticar o fato de eu assumir publicamente que estou chateada com as pessoas que, obviamente, ele não conhece pra poder argumentar a favor delas. Esse gordo escroto tá cismado com a má fase da minha vida. Como se já não bastasse a quantidade de babacas que se sentem no direito de opinar sobre qualquer coisa que eu faça.
Outro dia um garoto de 16 anos veio rir no MSN porque eu jogo RPG. Dentre os seus argumentos brilhantes, havia uma articulação ainda mais sensacional: "esses caras que jogam RPG ao invés de malharem, ficarem bonitos pra pegar mulher, vivem só pra jogar". (APLAUSOS EUFÓRICOS)
Esse é o tipo de objetivo de vida que todos os surfistas de penico de Juiz de Fora devem ter em mente se quiserem comer a maior quantidade dos exemplares de vadias daqui. Esse é o tipo de gente que se mete na minha vida.
É a mesma coisa todo mesmo dia, a mesma obrigação que eu nunca entendi de ter que ser feliz, e pra piorar ainda mais, tem essa porra de RAVE, essa porra de GOOD VIBE, essa porra de P.L.U.R., essa porra de PODE CRER. E então eu tenho que contemplar a beleza que não existe nisso porque admitir que se tem problemas hoje em dia é uma heresia, um pecado sem perdão, uma monstruosidade.
Sempre achei que JF tivesse a maior concentração de idiotas por m² do universo, mas eu me enganei, outros lugares não são muito diferentes daqui, e até um gordo escroto veio do quinto dos infernos pra encher o meu saco. Eu mandei o desconhecido do Orkut ir tomar no cu, talvez eu mande o pré-adolescente no dia em que eu me cansar dele também e assim sucessivamente.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

ode ao espírito livre

O sofrimento maior, me disseram, é a solidão. Engraçado. Eu aqui sempre sofri tão-só pela multidão. Perde-se uma vida escondendo-se em máscaras. Esconder sempre do mundo o quê se vê no espelho, ignorar os gritos dos reflexos por resignação e deixar tanto de ser a ponto de, no final de tudo, já não haver como saber se algum dia foi ou pensou ser aquilo que não é. Perde-se uma vida inteira pela covardia.
O que é isso senão uma receita? A perda do equilíbrio, a resistência contra os instintos naturais, em outras palavras, o que é isso senão a “ausência de si mesmo”? Tudo isso foi chamado de moral até agora. A moral desmoralizante e falsificada, revestida nas relações humanas. Não falta nenhuma monstruosidade aí: o estímulo discreto que rasteja por debaixo das portas, nos infecta e nos impele à anulação de nós mesmos e à vivência uma vida que não é nossa.
Precedendo a libertação do meu espírito veio uma profunda insatisfação comigo mesma junto com a necessidade de olhar mais para mim e uma sensação terrível sobre quanto tempo eu já havia desperdiçado.
Envergonhei-me. Aniquilei tudo o que era parasitário e degenerativo à minha vida. Livrei-me de tudo aquilo que-não-fazia-parte-de-mim, da minha natureza. Joguei a moral e todos os seus conceitos auxiliares no primeiro latão por que passei. E esse é o lugar onde estou hoje. Isso é o que hoje sou: o faz-não, o diz-não, o ser-não, o vir-a-ser e simplesmente ser, o ser-diferente, o ser-a-diferença, a negação dos padrões, a sanguinária da sociedade, sem que haja motivo algum para sofrer por isso.
Em nenhum outro sentido a expressão “espírito livre” quis ser entendida: o espírito que se tornou livre, que voltou a tomar posse de si mesmo com o olhar terno para um futuro que não ficará apenas no pensamento!

sábado, 17 de novembro de 2007

foto do dia



i said: no, no, no

Eu não tenho muita coisa pra escrever, nem uma história engraçada pra contar, então eu resolvi fazer uma lista das 10 coisas que eu não faria de modo algum, sem estarem, necessariamente, em ordem:

1) Pegar o buquê. Não adianta, posso ser madrinha, melhor amiga dos noivos, mas eu me recuso a entrar nessa disputa. Mulherada se descabelando toda por causa do bendito buquê. Mas neeeeem morta! Sou capaz de me trancar no banheiro por 7 dias só pra não me submeter a isso.



2) Guardar salgadinho de festa na bolsa. Dispensa comentários.

3) Brigar por causa de homem. Pra quê? Me diz! Se homem é igual a biscoito: vai um e vem 18, 28, 38,..., 20.948...

4) Ir a um baile funk. Não gosto de funk, não gosto de baile. As duas coisas juntas aliadas a um povo MUITO esquisito só pode acabar em merda.

5) Assistir um desfile do carnaval de JF. De jeito nenhum! Se me oferecerem 5 mil reais pra assistir, eu pago 10 mil só pra não ter que passar perto.

6) Malhar. Tudo bem, eu realmente deveria malhar, mas é chato. Toda vez que eu vejo alguém saindo de uma academia, faço questão de acender um cigarro em protesto.

7) Ler Paulho Coelho. A literatura do Paulo Coelho é perfeita pra "Era Lula": pobre, inculta e um sucesso. Não li e não vou ler, nem por muito dinheiro, nem por todo o dinheiro do mundo.

8) Ser submissa. Não consigo, não adianta e não sei explicar.

9) Ouvir Sorriso Maroto. Primeiro porque um sorriso maroto, aquele sorriso de canto de boca do tipo "peidei no elevador", me lembra o Presidente(?) Lula, logo, me irrita e segundo porque é realmente uma bosta.

10) Ver filme dublado. Tenho pavor disso! Dublado é só desenho animado.

E tenho dito.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

burros, chatos e fofoqueiros

Eu me peguei pensando agora pouco em como eu faço parte da vida das pessoas, o que fiz pra elas se lembrarem de mim e quais as marcas que deixei nelas, embora eu nunca tenha me esforçado pra isso, sempre tentei passar despercebida, mas de algum modo, de um tempo pra cá, eu passei a preferir que, na melhor das hipóteses, eu tenha deixado um delicioso sentimento de antipatia, bem como descobri outro dia mesmo.
Acontece que disseram que eu era uma "garota antipática". Esbaldei-me! Sempre quis ser taxada como GAROTA ANTIPÁTICA, à essa altura, já com quase 21 anos, garota é um elogio e ser antipática não é lá uma das piores coisas, quem já foi chamado de estúpido, grosso e ignorante sabe muito bem que ser somente ANTIPÁTICO é quase uma virtude.
Mas a verdade é que nunca dei muita importância à isso, não pude me dar ao luxo de me preocupar com essas minúcias sócio-estéticas porque sempre estive muito ocupada com minhas crises existenciais, o que, obviamente, não me impede de achar engraçada a facilidade com que as pessoas sentam no próprio rabo e falam da vida alheia.
Esse povo dá opiniões demais. Falam, falam, falam e falam porque todo mundo se sente no direito de despejar asneiras por aí, uma necessidade de gritar pros 4 cantos do mundo qualquer estupidez que seja, sem nem ao menos se importarem se os outros querem ouvir. Essa moçada desperdiça idéias demais, como se houvesse um estoque infinito de opiniões, mas eles não sabem que essa abundância deprecia o mercado, o que eu quero dizer é: parem de falar merda!

Eu não ligo pro "falar mal", mas se for pra fazer isso, que o façam direito! Distribuir atestados de má-fé à esmo e sem uma justificativa plausível não tem lógica. Além disso, essas especulações são chatas demais, "você vai largar a faculdade?", "você perdeu um braço quando sofreu um acidente?", "você deu uma voadora no seu ex-namorado?", porra! Digam-me onde estão os escrúpulos ou que droga alucinógena é essa!
Eu explico: eu até aceito pacificamente o "falar mal", mas inventar
já é demais né? Simplesmente me é absurdo que pessoas com um Q.I. inferior ao meu metam o bedelho na minha vida, por mais controversa e polêmica que ela seja.
A partir de agora instituo que para falar de mim o indivíduo deve, no mínimo, saber cantar o hino nacional, saber diferenciar um lábaro, uma flâmula e uma bandeira, e vou além! Exigirei como prova maior de conhecimentos gerais, uma redação conceituando, definindo e descrevendo a Perestroika e a Glasnost. Talvez depois disso eu me curve perante às histórias mirabolantes e totalmente sem sentido que circulam por aí.
E se querem uma resposta pra minha indignação, eu digo que tudo isso é porque tenho convivido demais com discípulos do Bob Marley bitolados e
aprendizes de surfistas semi-alfabetizados.
Toda paciência um dia chega ao fim, por isso eu deixo um saudoso: vão
tomar no cu, cambada de gente à toa!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

dos órfãos...

Pelamor de Deus!
Alguém me dá uma família?

domingo, 11 de novembro de 2007

démodé para os pós-modernos

Assumir que se tem preconceito hoje em dia é uma coisa muito, mas muito complicada.
Essa moçada moderninha-ame-o-próximo-abaixo-o-preconceito falta te matar se você disser que não apóia qualquer minoria marginalizada pela sociedade capitalista-selvagem-cruel perto dela.
Eles se sentem no direito de te dizerem que você é antiquado, pobre de espírito, mal-amado, burro, retrógrado e por aí vai. Eles ficam totalmente sem controle. Acreditem, eu já presenciei um chilique pós-moderno.
Mas pra minha salvalção, descobri que sou livre de todo e qualquer preconceito.
Explico como tive a minha dignidade reavida em apenas 3 minutos: eu tava zanzando pelo centro ontem e vi uma garota sensibilizadíssima por causa de um cachorro mais feio do que o capeta encolhido na calçada. Deus do céu! Achei que ela fosse chorar até pelo ouvido. Engraçado que foi, me mijei de rir.
Mas mais engraçado, é claro, é o fato de um mendigo encolhido debaixo de uma marquise em dia de chuva ser completamente normal, e um cachorro encolhido debaixo da marquise ser o fim dos tempos. Mendigo é indigente e cachorro é abandonado.
Eu sei que isso tudo é porque o cachorro não fala, não duvido que a vontade do cachorro foi de dizer "sai daqui, sua garota horrorosa!". Se o mendigo não falasse, provavelmente a garota iria levá-lo pra casa.
Entre escolher um mendigo que sem muita cerimônia diria "sai daqui, sua garota horrorosa!" e um cachorro que embora tivesse vontade de dizê-lo mas não pudesse, ela convenientemente optou pelo cachorro.
Enfim, como eu articulava, descobri que sou livre de qualquer preconceito: eu odeio todas as pessoas indistintamente.
Agora eu também posso dizer que tenho um pé no mundo moderno.

sábado, 10 de novembro de 2007

minha mãe

Quando um convívio se torna insuportável?
É o que me pergunto há algum tempo. Eu começaria por alguns meses atrás, quando eu e a minha mãe perdemos totalmente o respeito uma pela outra.
Eu simplesmente não consigo entender porque a gente chegou a esse ponto, enquanto eu só quis uma mãe amiga! Eu nunca pedi nada demais, nunca fui ambiciosa e eu só queria ter uma mãe que fosse realmente mãe, não uma mãe que fingisse ser mãe, que se enganasse a ponto de acreditar que era realmente uma mãe. Enganar a si mesmo é uma arte.
Eu amava muito a minha mãe, porra!, era um amor incondicional, apesar de tudo: daquele gênio insuportável dela, das reclamações e das tantas vezes que ela cagou na retranca comigo, das tantas vezes que eu caguei na retranca com ela - e bota cagada nisso!
Eu acho que a minha mãe deve me amar, não é toda mãe que suporta uma situação dessas sem amor. É verdade: minha mãe me ama, mas toda mãe ama o filho. Se a minha mãe me ama muito, só pode ser do jeito louco e insensato dela, um amor quase obsessivo e irracional que chega a ser chato!
Eu amo a minha mãe, mas me dói todas as vezes em que eu olho pra ela, só ver imagens das coisas que ela já fez que me magoaram demais, e mesmo quando ela tá longe eu consigo ouvir a voz dela dentro da minha cabeça e isso me dá uma puta vontade de sentar no chão e chorar. Chorar pra caralho! Chorar por tudo, por ela e por mim.
Eu já amei mais a minha mãe porque eu ainda acreditava que um dia nós fôssemos nos tornar amigas de verdade, e eu só coleciono uma centena de ofensas, porradas e as brigas dela com meu pai que eu cresci separando e blá blá blá, a história é conhecida por todo mundo, ia ficar chato se eu falasse disso, eu só sei que no meio dessa minha vida barulhenta, inconstante e confusa eu ainda esperava pela maior amiga de todas. Mas esperar já me agora é uma palavra que eu cago em cima.
Eu já não me surpreendo com mais nada, já não me ofendo como antes com as ofensas dela, eu só me surpreenderia com uma morte, um câncer, opa!, eu disse que ela era o câncer da minha vida, eu disse isso mesmo sabendo que ela é a chave de toda a minha felicidade.
As chances de me aproximar dela sempre me escaparam pelos dedos, escorreram rápido demais, o que sobrou foi como uma gota de orvalho na folha, pequena e frágil, e eu sofri muito por isso, por ter estado tão perto de abrir a portinha do coração da minha mãe e ter escorregado, tropeçado, sei lá, sei que me acostumei aos tombos, aos tropeços e aos escorregões vendo sempre a portinha se fechar à minha frente.
Isso é deprimente. É triste. Mas pior do que ser triste e deprimente é saber que talvez ela nunca leia isso, e eu fico pensando todos os dias se eu não devia dizer um bjo-me-liga e sumir...
Essa última briga foi a gota d'água, o som que se ouvia aqui era o da merda batendo no ventilador. PRRRRUUUF.
Depois disso tudo, fica a pergunta latente: quando um convívio se torna insuportável?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

blá blá blá

Ontem eu resolvi marcar um tempo naquelas mesinhas isoladas do McDonald's perto do estacionamento, é o meu lugar favorito pra pensar, pra coçar e até pra fazer render alguma narrativa sobre meu cotidiano monótono.
Ao meu lado tinha um trio muito animado, na outra mesa ao lado da deles havia um casal, aliás, um casal que eu até conheço, não o suficiente pra dizer "oi amigos!", estamos longe disso, apenas sei quem eles são e vice-versa, e não nos cumprimentamos.
Quando eu vou pra lá é só pra pensar em coisas bobas, porque sempre escrevo uma idiotice qualquer depois, mas só funciona se eu não tiver o raciocínio interrompido, obviamente.
O trio saiu tagarelando qualquer bobagem, e o casal continuou se atracando e conversando as idiotices de casais.
blá blá blá
blá blá blá
blá blá blá
Eu, a minha fanta uva e meu cigarro saturados dos blá blá blá, que ecoavam por todo o perímetro fazendo a trilha sonora, como um disco antigo empoeirado que você não distingue porra nenhuma do som, e essa era a merda da minha trilha sonora!
Eles queriam se fazer audíveis, como todo bom casal que conversa esses blá blá blá.
Alguns casais gostam de platéia, mas não sou o tipo de audiência adequada, acho um saco conversa de casais fofinhos, é um blá blá blá irritantemente meloso que nem me dou ao trabalho de ouvir direito, e olha que eu adoro reparar nos assuntos - pra rir depois, é claro -, então eles se exibiam em vão.
O silêncio repentino no meio do blá blá blá siginificava beijo, e isso não rola só com eles não, é em todo lugar, com todo mundo. Se um casal conversa e repentinamente tudo pára, pode conferir: já estão embolados, prestes a engolirem um ao outro.
Os silêncios daqueles eram freqüentes, logo, eles se beijavam quase compulsivamente. Coitados! Talvez nunca tivessem visto boca, língua e dentes na vida.
Se continuassem e fossem se empolgando iam acabar nus ali mesmo e rolando pelo chão, porque casais são interessadíssimos na idéia de inovar, que significa, na maioria das vezes, fazer sexo em lugares que não sejam um quarto.
Pra falar a verdade se eles fodessem ali do meu lado mesmo, se a garota urrasse feito louca, se o garoto esguichasse 100 litros de endorfina até pela orelha, talvez eu nem desse tamanha importância, mas eu sairia fora logo porque vouyerismo nunca foi o meu forte.
blá blá blá
blá blá blá
blá blá blá
Meu estômago embrulhou legal, deu 5 loopins e então percebi que se eu ficasse ali mais 10 segundos eu ia vomitar até o meu pâncreas. Eram 20:40 e, sem hesitar, eu juntei tudo, caderno, bolsa, latinha, celular. Juntei as coisas sem erguer o olhar uma vez sequer, pra dar a entender que eu realmente não dava a mínima e não estava fazendo tipo, porque sou uma escrota indiferente às pessoas mesmo.
Só Deus sabe o que rolou lá depois que eu saí!

sábado, 3 de novembro de 2007

casual

Eu estava suada, levemente alterada, discretamente satisfeita. Acendi um cigarro e virei pro lado como quem diz "não quero papo", com o lençol cobrindo a parte das ancas - a bunda, as coxas e essas coisas -, deixando as pálpebras caírem e ele estirado bem ao meu lado, com uma das mãos apoiadas sobre o meu seio e disposto a se comunicar, porque esse é o novo discurso do homem do século XXI, ele já não vira pro lado e dorme, ele quer discutir paradigmas de butecos, contar piadinhas de salão ou mostrar ser o último romântico a ponto de discorrer por horas sobre o quão espetacular você foi, mesmo que não largue o seu peito. Por essas e outras eu digo: homens bons, são homens calados.
Não havia sido nenhuma maravilha, mas ao menos não estava só, embora a companhia não ultrapassasse o limite do que é tolerável. Burra mesmo é a mulher que pensa "antes só, do que mal acompanhada", meus instintos não só oprimem como suprimem todas essas filosofias de Orkut.
Olhei-o com apatia e descaso, concordei com tudo por pura misantropia e não sei nem ao menos sobre o quê ele falava com tanta euforia. Eu só precisava de uma .44 Magnum para apontar-lhe na testa ou para apontar pra minha testa. Os pingos pesados caíam lá fora mas eu mal podia vê-los porque as janelas estavam suadas e o quarto abafado (ver Titanic).
Ainda bem que a chuva tem lavado as imundícies das ruas, podia aproveitar e carregar pros esgotos o resto do lixo que se locomove por aí, cheio de charme latino e vomitando cantadas ridículas que, estranhamente, sempre funcionam comigo...

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

nostalgia

Há muitos anos - ou pelo menos 6 - as coisas costumavam ser bem diferentes. Se eu corria, era pra tirar o pai da forca, se jogava verde era pra colher um fruto doce e maduro, não caía de cavalo magro e sabia com quantos paus se fazia uma canoa, o quê não me impedia de, vez ou outra, embarcar numa canoa furada. Eu tinha a faca e o queijo nas mãos.
Mas isso tudo era antigamente, isto é, outrora!
Atualmente as coisas são bem diferentes. Se eu corro, é contra o tempo. Se eu jogo um verde, colho frutos podres ou azedos. Já não me lembro tão bem como é uma canoa ou quantos paus são necessários pra construí-la, embora eu só embarque em canoas furadas. Tudo foi se perdendo por aí: toda minha pureza, junto com outras coisas minhas que já estão esquecidas na memória, e de tão esquecidas já não sei se ainda as tenho ou se cheguei as ter realmente.
Viver já não foi uma sangria desatada pra mim.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

bons amigos

A pia não parava de pingar. Eu estava ali parada olhando pras minhas folhas cheias de números, tentando me concentrar. Olhava a pia, a borrachinha deve estar gasta. Eu tenho uma prova de cálculo amanhã, porra! A pia pingando com o intuito de não me deixar estudar. Eu sei Lucas, eu sei muito bem o quê você está dizendo, mas ainda não estou bêbada, isso não é dia de estar bêbada, eu tenho dias definidos pra me embriagar, você sabe!
O problema desse mundo são esses amores platônicos, essas paixões enrustidas, não correspondidas, a vida seria muito mais fácil se a gente gostasse de quem estivesse à nossa frente nos dando de presente o coração, ao invés disso, a gente vai procurar sarna pra se coçar, vai se apaixonar pelo primeiro panchorrão que usa bermudinha florida.
Sim, eu sei que você disse que eu iria me foder com aquele idiota mas eu não gostava dele mesmo, eu? Não gosto de ninguém atualmente, cê tá cansado de saber disso! Tá bom, não precisa dedicar à mim a sua psicologia barata! Oh não, desculpe-me! Não quis ser estúpida. Tudo bem, eu sou estúpida o tempo todo. Mas é muito amor desperdiçado à toa, sabe Lucas? Bom é que cê me entende. Eu sei guardar segredo porra, pode me contar, CÊ FEZ O QUÊ COM ELA?!
Aquele cara que só consegue te enxergar como um ombro amigo assexuado acaba pra mim com um gostinho de não-quero-mais de soco na alma. Será mesmo que o Lucas não percebe que eu tenho boca, língua e peito? Eu deveria avisá-lo que eu tenho outras funções mais interessantes, porque eu tô cansada de ouvir cada detalhe sórdido e sacana das aventuras amorosas dele com Paulas, Marianas, Carlas, Nathálias, Moniques, Laíses, Marcelas, essas vadias batizadas com esses nomezinhos de classe média aspirante à burguesa. Isso é que dá virar confidente!
Essas paixões são despertadas sem nenhum motivo aparente, sem explicação alguma, elas são o fruto de sentimentos negligenciados e não adianta querer controlar porque cérebro e coração nunca irão falar a mesma língua.
E eu já nem me lembro sobre o que comecei a escrever. Ah, sobre a pia pingando e a borrachinha gasta. O amor não passa de uma borrachinha gasta que não deixa a pia parar de pingar, um defeito, um vírus na matrix, aquela bosta que atravanca o bom funcionamento das coisas.
Sim, já tô falando um pouco enrolado. Não! Não me leve embora! Essa cerveja tá uma maravilha. Tá tudo sob controle. Mas ainda bem que você existe pra agüentar minhas chatices de bêbada, sabe. Eu te considero pra caralho Lucas, cê é meu irmão, cara.
Lucas! Esse desgraçado ainda vai acabar com a minha vida.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

gentalha, gentalha!

Engraçado como felicidade é uma coisa que incomoda! Engraçado como a minha alegria incomoda, mas justo a minha?, tão breve e pouca que passaria despercebida. Justo eu que ando pelos cantos chateada com alguma idiotice - ou algum idiota - e nem sempre estou tão feliz. Pra ser honesta, na maioria das vezes ou estou beirolando ou estou enfrentando uma nova crise existencial, embora a maioria das pessoas pense o contrário e por mais que, ultimamente, eu até ande de bem com a vida. Mas é aí que começa a confusão! Eu sorrio demais, sorrio quase o tempo todo, isso alfineta alguns.
Felicidade incomoda, e incomoda tanto que há quem não se agüente vendo os outros felizes! Aí sai logo soltando veneno, colocando em xeque, questionando, fofocando, inventando, basicamente: fudendo legal com a sua vida. Li outro dia que "as pessoas são exatamente do tamanho de seus atos!", gente capaz de coisas baixas e imorais é gentinha e gentinha não é lá exatamente gente, é gentalha.
Então eu fico incomodada, me irrito. Gentalha tem em todo lugar e não adianta falar "mas lá todo mundo é bacana" porque quando você menos espera a pessoa mais improvável surge das cinzas pra te azucrinar, tentar te colocar pra baixo e, por mais que você não queira se abalar, acaba se tornando parte do joguinho imundo.
Gentalha é descartável. Ela aparece na sua vida cagando com alguma coisa mas você tem que jogá-la fora. É tão descartável que se você pensasse nela, provavelmente a desprezaria, mas você não consegue nem pensar nela de verdade, pensa apenas nessa postura, ou descompostura, ridícula da gentalha.
E quando não é alguém te aborrecendo com as coisas de sempre, é alguém discutindo idiotices, não ajudando em porra nenhuma mas disposto a atrapalhar, afinal, "o importante é participar". Na faculdade você encontra esse tipo. Na minha, por exemplo, tem aos montes. Se você quer encontrar imbecis basta ingressar no ensino superior onde todo mundo sente uma necessitade vital de se mostrar maior e maduro, com aquelas opiniões retardadas, falando ao mesmo tempo, comentando e dando pitaco em todos os assuntos, até mesmo na conversa da mesa ao lado que não lhes diz respeito algum, cuspindo asneiras pra todos os lados. O pior é que essa merda toda ainda respinga em você e esse é um bom motivo pra ficar puto da vida.
A única vantagem nisso tudo é que já não me entristeço mais como antes porque não espero nada melhor dessas pessoas, não há surpresas. A minha resposta a isso é sorrir mais, fazê-los pensar porque eu ainda continuo aqui. E, graças a Deus!, que eu sou o suficientemente chata, presunçosa e persistente pra pular fora, já fiz isso outras vezes sem a ajuda de ninguém, já descartei outras pessoas em outras situações, agora não poderia ter sido diferente. Não faltam coisas legais nesse mundinho insosso pra eu fazer, então não vou morrer de tédio por isso.
Pra quem fica e pra quem acha que incomodo, deixo um recado: eu mal comecei!




[ não queria ter sido tão arrogante, mas alguns fatos não podem passar em branco ]

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

bukowski, a mulher e eu

Enquanto procurava um tema pra escrever, após revirar as vísceras dos fatos, lendo um blog mais interessante do que o meu, lembrei de uma ida ao banco frustrante.
Tudo era tão indesculpavelmente sistematizado que não sabia nem retirar a senha, foi preciso que um homem de sorriso binário (dente sim, dente não) me desse as instruções.
Tudo era confortável e de primeiro mundo e eu fiquei acanhada por ser essa matuta do interior.
Escolhi o lugar que me pareceu mais adequado, não sou do tipo exibicionista, mas também a idéia de viver no anonimato não é das melhores. Ainda estavam atendendo lá pela casa dos 200 e, como meu papelzinho indicava 311, tinha muito tempo pela frente.
Logo uma mulher sentou entre mim e a outra moça iniciando um papinho de que para ir à um lugar daqueles era preciso levar um livro e blá blá blá. Sacudi a cabeça em sinal de concordância sem esticar conversa, mas afinal, o quê ela quis dizer com “um lugar daqueles”? Que o banco é o ânus da sociedade? Um antro de perdição?
Sem dúvida alguma, sou o melhor exemplar vivo de um pára-raio de idiotas, mas mais tarde, sendo assim só mais tarde, eu viria a perceber que a tal mulher era ainda mais imbecil do que eu havia imaginado.

Para a minha salvação, lembrei que havia trazido um livrinho de bolso, que não cabe no meu bolso, do homem mais pervertido do mundo: Bukowski. Pois eu trouxe o meu e vou lê-lo, disse, pressupondo que ela iria se tocar de que bater papo sobre o governo brasileiro e o absurdo de termos que passar mais de quinze minutos na fila era a última coisa que eu queria. Veja bem, minha senhora, pelo menos temos os banquinhos!
Logo a outra garota feia, gorda e mal vestida deu a brecha (DES)necessária para iniciar a conversa mais estúpida que já ouvi na minha vida.

“Beijava com entrega, mas sem se afobar. Passei-lhe as mãos pelo corpo todo, por entre os cabelos. Fui por cima. Era quente e apertada. Comecei a meter devagar, compassadamente, não querendo acabar logo. Os olhos dela encaravam, fixos, os meus.”

Eu me divertia com as perversões escrachadas e imundas do velho Bukowski, enquanto ouvia a mulher argumentar argumentos filosóficos sobre como somos mal tratados nas instituições bancárias e emendar num assunto sobre a filha que havia nascido com o dom para a psicologia e que, desgraçadamente, conhecia a outra com quem conversava, e o clichê de que o mundo é muito pequeno, e as coincidências. No final das contas, o assunto se estendeu de tal forma que ela já falava da sua entrega de corpo e alma ao espiritismo.
Toda a conversa fiada era direcionada à mim simplesmente porque estava mal-humorada o suficiente para ter-lhe lançado um olhar cheio de ódio pelo papo de vadia antes mesmo de ela começar a articular. Senti-me péssima por ler aquilo enquanto as duas estavam tão preocupadas com elevação espiritual, ioga, família e bons costumes. Taí, esse é o típico papo de vadia mal-comida.

“Beijamos de novo. Começou a chorar baixinho. Sentia-lhe as lágrimas no rosto. Aqueles longos cabelos pretos me cobriam as costas feito mortalha. Colamos os corpos e começamos a trepar, lenta, sombria e maravilhosamente bem”

Sentia-me suja até ver brilhar à minha frente o número mágico. Levantei-me apressada e cheguei à boca do caixa sorrindo e com uma expressão ridícula de alívio, entreguei o boleto da minha faculdade e ouvi:
- Você está no banco errado!

Vagando pelo site da Folha lia reportagens sobre o caso Cisco. Segue-se então um trecho:

"24/10/2007 - 02h30

Gravação da PF sugere doação de R$ 500 mil da Cisco ao PT


A Polícia Federal interceptou conversas telefônicas durante as investigações da Operação Persona, que relatam uma "doação" de R$ 500 mil ao PT por empresários do setor de informática. O dinheiro seria para obter uma suposta vantagem numa licitação da Caixa Econômica Federal, informa nesta quarta-feira reportagem da Folha.

A PF investigou durante dois anos o suposto grupo criminoso, que apontou um prejuízo de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos entre impostos não pagos e multas. Entre os envolvidos estão Carlos Canevali, fundador da Cisco do Brasil e executivos da Mude Comércio e Serviços Ltda., acusada de ser a importadora oculta da Cisco --Francisco Gondin, José Roberto Pernomian e Fernando Grecco.

Segundo apurou a Folha, o relatório preparado pela PF informa que Grecco conversa com Pernomian, ambos da Mude, para "acertarem valores e datas do negócio de Carlinhos Carnevali com um representante do PT". Em outro momento, a polícia relata um diálogo entre Carnevali e Gondin, em que este cita negócios entre o fundador da Cisco e a Caixa."

Olha ele aí! Novamente o tão famoso e tão habitual caixa 2. Esse é o resultado da BURROcracia brasileira, da alta carga tributária etc etc etc. As doações de campanha deveriam ser monitoradas, a transparência pode e deve ser exigida pela população, a mesma população que ao invés de se preocupar com a identidade secreta do assassino da mais nova trama do horário nobre, deveria se interar e se interessar por assuntos relacionados ao país e que, obviamente, estão diretamente ligados à vida de cada um.

Pois eu já disse antes e faço questão de ressaltar: quem é petista e honesto, não pode ser inteligente. Quem é petista e inteligente, não pode ser honesto. E quem é honesto e inteligente, não pode ser petista.

Ei comunistas, Cuba os espera!

sábado, 20 de outubro de 2007

sem título

Eu cheguei em um ponto da minha vida em que eu já deveria ter tudo planejado, tudo bem definido, eu já deveria ter encontrado minha alma gêmea, deveria ter um objetivo na vida, no entanto, estou tão perdida quanto há 6 anos atrás, numa busca exaustiva para saber quem eu sou realmente.
Eu deveria ter um plano, uma meta. Mas eu não tenho nada! Não construí nada porque perdi tempo demais me lamentando por aí e sentindo pena de mim mesma, fazendo com que os outros sentissem pena de mim, mesmo que de uma forma inconsciente, prometendo secretamente que iria mudar, que iria tentar ser alguém melhor.
Eu perdi tempo demais com frustrações mínimas, insignificantes perante à vida! Eu perdi chances demais, amigos demais, momentos alegres demais. A quantidade de coisas que eu deixei passar por ser uma egoísta poderia ser arredondada pra uma vida. Uma vida de desperdícios e mais desperdícios.
A situação só não é trágica porque ainda tenho esse meu senso de humor ácido e deprimente que me motiva sair em um final de semana e encher a cara.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

família que se alimenta unida...?

Estavam todos reunidos junto à mesa esperando que o relógio badalasse à meia-noite. Muitos parentes vindos de muitos lugares com o mesmo intuito: comer até explodir e depois esquecer de você a da sua existência insignificante. Como ocorre sempre que minha família resolve se juntar, preferi que todos tivessem ido para a puta que lhes havia parido ao invés de eu ter que me sujeitar a bancar a boa anfitriã que nunca fui. Eu olhava aquelas crianças vesgas e melequentas, correndo alucinadas feito vacas hiperativas depois de aberta a porteira, e já não me ocorria mais o fato de sermos “sangue do mesmo sangue”, simplesmente porque meu orgulho não me deixava aceitar isso e, então, tive vontade de enforcar cada uma delas.
Lá pelas tantas e, como de costume, o ancião, com suas setenta e poucas primaveras, fazia a prece habitual que precedia a ceia. Era praticamente incompreensível devido à dentadura, ele dizia algo à respeito da Igreja Católica Conservadora de Direita, do esquerdismo e liberalismo político, da abertura econômica do mercado chinês e da morte da minha avó, relação que até hoje não compreendi. Enquanto ele falava, falava, falava, eu pensava cá, com meus humildes botões, em como os homens do Velho Oeste fechavam os saloons e em como deveriam ser os filhotes de pombo que eu nunca vi, demonstrando total desinteresse naquela ladainha.
Pra mim, as comemorações festivas de final de ano são um pretexto para encher a cara mais do que em qualquer outra ocasião e ter uma justificativa no mínimo plausível para as cagadas decorrentes de toda boa festa da “Família Barraco”.
À aquela altura eu estava absurdamente irritada e, não bastando, todos absurdamente fingidos e esfomeados olhando o pernil esgoelar para ser devorado como se tivéssemos voltado de uma guerra, sentada ali esbanjando desleixo, descaso e apatia, sem qualquer indício de que eu nascera em berço de ouro.
Então, após comer feito um padre obeso e fétido, com aquela batina repugnante que exala pedofilia, até o meu ânus fazer um bico de causar inveja em qualquer criança pirracenta, me levantei com a barriga pesando para baixo, flatulenta e implorando para ter um refluxo, uma reviravolta intestinal para expurgar meus dejetos, desci o lance de escadas, com alguma dificuldade, me dirigi ao meu quarto, sentindo que toda a minha existência não passava de uma excursão longa e confusa, e que, ainda assim, eu era estúpida o suficiente para persistir naquela janela. Contudo, conter-me-ei à cerveja. Embriaguemo-nos!

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

análise sentimental

Naquele momento, sentada com as pernas cruzadas infantilmente, senti uma fisgada insistente no âmago do peito que me dizia para apostar em mudanças radicais, mudanças de hábito, uma pontinha de indício que me fazia pensar que talvez eu até devesse incorporar o hábito de mudanças para não cansar a mim de mim mesma.
Examinei tudo à minha volta: o soutien jogado na cama, a bolsa aberta e um maço de cigarros amassado bem como a calça jeans com os bolsos pra fora, o meu gato esparramado, tudo uma tremenda bagunça – o quarto, a vida, o coração – as coisas espalhadas às migalhas, como tudo em minha vida, como tudo tem sido na minha vida. Os meus quase-romances de uma noite só, confissões à meus quase-amigos, minhas quase-conquistas, uma vida espalhada às migalhas por todos os cantos, numa trilha que não leva à lugar nenhum.
Esfreguei meus olhos como se fosse arrancá-los, contraí meu semblante, tive a sensação de ter despertado naquele exato momento, mesmo tendo acordado há horas, quis que tudo se colocasse no seu devido lugar sem que eu precisasse sofrer pra que isso acontecesse, sem que me doesse me desfazer de tudo, de tudo aquilo que já não me é útil, quis que desvirasse tudo do avesso - à mim e à vida - e que pusesse todo o resto em ordem – o quarto e o coração -, toda a bagunça desfeita e refeita em seus devidos lugares.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

uma janela aberta para a minha vida fantástica

De perto ninguém é normal? Sei lá, tenho minhas dúvidas. É o tipo de clichê que vivem me dizendo a respeito da minha conduta socialmente duvidosa. Já ouvi todos os tipos de axiomas de alento moral, desde "nem tudo na vida é um mar de rosas" à "pinto que acompanha pato, morre afogado", a sabedoria popular com fins consoladores. Sobre minha normalidade não há muito o que discutir, é só transferir o foco de atenção para o meu dia-a-dia conturbado, fora de uma mesa de bar entregue às fartas libações alcoólicas e as subseqüentes aventuras ácidas, e colocar uma lente de aumento bem aqui no Clã dos Barquete para constatar que de perto ninguém é tão anormal quanto a minha família.
A história de como eu me tornei o quê eu sou, esse ser asqueroso que odeio, é muito mais complexa do que aparenta, há agravantes demais, há narcóticos demais, há frustrações demais, há muita coisa a mais envolvida demais na história lamentável da minha vida. Eu poderia voltar um pouco no tempo, comentando sobre minha avó que se casou com um fazendeiro rico, moreno, alto, bonito e sensual que, ao invés de ter sido a solução de todos os seus problemas, tornou-se a fonte de todos os problemas. Ou sobre o mistério contido por detrás do meu nascimento e toda essa babosereira de cartomante, previsões apocalípticas, cortina de continhas, tarô e almofadas bordadas.
Uma sucessão de fatos que levou à concretização da profecia. É toda essa história de que você constrói o próprio destino, as escolhas que você faz durante a sua vida, as atitudes mal-avaliadas, contudo tomadas, as repulsas, os sorrisos, o tédio, as vozes. Tudo uma seqüência difusa de escolhas que culmina tristemente na morte. Você escolhe, trabalha, chora, ama, briga, almeja, adere à princípios, à alguma religião, segue a moda, se escraviza, escraviza a alma, e quer mais dinheiro, se desdobra por motivos diversos a vida toda para, simplesmente, morrer e virar restos, cinzas e nada.
Minha mãe nunca teve vocação para mãe, muito embora ela não seja de fato tão desgostosa enquanto mãe, enfim, serei concisa: para ser minha mãe ela é realmente péssima, como mãe dos outros, um primor. Talvez ela devesse ter sido mãe de outro alguém ou até mesmo de uma outra garota mais simpática, menos rude, menos amarga, mais meiga. Ela poderia ter escolhido e como todo o mundo, minha mãe tinha um destino alternativo, poderia ter feito tudo diferente e ter poupado uma vida, evitado uma vida triste e vazia.
A verdade é que tudo o que eu tenho feito não me tem trazido vantagem estratégica alguma, felicidade alguma, não tenho tirado proveito de nada, tenho me sentido cada vez mais infeliz e Deus meu!, ninguém faz idéia do tanto que tudo isso me magoa, de como eu me sinto realmente. Meu espírito anda pra lá de fatigado, cansado do mundo e sedento de outro mundo. Estou magoada comigo mesma por não ter tido ímpetos, por não ousar, por ter aceitado continuamente enxovalhos muitas vezes calada, por me ter permitido permitir o que eu não queria. Os meus silêncios têm sido terríveis e as minhas convulsões interiores têm sido lastimáveis.
De fato, eu ri sarcasticamente para a vida, se ela me prega peças e impõe obstáculos que eu não tenho vontade alguma de transpô-los, continuo rindo sarcasticamente e ela me responde mais sarcástica e sadicamente com uma centena de pedregulhos arremessados contra minha cabeça e, ainda assim, eu me mantenho estática, nutrindo uma esperança ridícula de que algum milagre divino me livre dos destroços de mim mesma.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

resignação

Havia um bom tempo que não escrevia coisa alguma, até então, não me tinha ocorrido nenhum lapso poético, e sem algo para fazer nessa tarde quente e melancólica de mais uma segunda-feira que ensaia as segundas-feiras quentes e melancólicas de verão, pus-me a ler as últimas bobagens que arrisquei registrar. Deslizei meus olhos, pensei e cheguei a uma conclusão baldada: preciso sofrer para sentir-me inspirada.
A verdade é que há algum tempo, sentada com um grande amigo a jogar conversa fora, já havia comentado sobre a minha dependência crônica da dor, por mais que tudo isso pareça ter algo a ver com sadismo, insisto em afirmar que não tem nada a ver com sadismo, assemelha-se muito mais com o meu afeto íntimo pelo sabor amargo da vida, o fato é que sofrer sempre me rendeu dúzias de narrativas sonsas sobre minhas mágoas. Aliás, tocando neste ponto, eu passei a crer, desde pouco tempo, que a felicidade coarcta minha capacidade de criação, por isso a dor se tornou o único mecanismo que domino para decodificar a vida que eu levo, o único sentimento que aguça minha percepção do abstrato.
Durante esse tempo todo, enfatizei com maestria as nuances da minha falta de escrúpulos porque sempre me senti na obrigação de tentar justificar, de alguma forma, minhas atitudes mal-avaliadas, talvez por ter me enfastiado dos rótulos que me foram impostos por gente que nem eu mesma sei quem é, essa gente incapaz de ¨ver-além-da-esquina¨ por quem eu não me importo tanto assim e vice-versa, por isso eu escrevi meus textos dirigindo-me a leitores hipotéticos, na esperança de que eles algum dia fossem me admirar e me desculpar por tudo e assim eu teria minha dignidade reavida, mas quem se importa?
Essa gente que lê meus textos contempla a minha dor, compreende a minha dor, saúda a minha dor e meia hora depois já não se lembra mais. Essa gente me diz que sou uma pessoa brilhante, surpreendente e talentosa e meia hora depois meu significado já não significa mais nada, porque ninguém se importa realmente. O meu sofrimento faz com que os outros se sintam mais vivos e corrói a mim mesma, sem que haja uma recíproca justa nessa circunstância de lucros, eu não ganho nada.
A minha dor comove e isso é bem simples, pra ser sincera, tudo isso não passa de uma ótima fachada ao meu fiasco enquanto ser humano: eu continuo errando porque futuramente alguma historinha bacana será escrita. Por hora, basta saber que não há nada definido, escreverei até onde me renderem as palavras ou até me cansar, até que alguém chegue ou até que o mundo acabe.
Quem se importa?

god save the queen

Vinte anos há pouco completados. Incrível como o tempo passa, mas aquela mesma sensação estúpida de não ter feito nada durante a minha vidinha morna e empurrada com a barriga ainda persiste. É aquela mesma sensação que eu odiava aos quinze. Uma sensação idiota que mistura angústia, esperança e solidão. Sou a pessoa mais estranha que conheci, não só pelos meus desequilíbrios emocionais, pelas minhas tentativas frustradas de fugir de todos os meus pequenos problemas enchendo o rabo de bebida, mas também por, na maioria das vezes, eu me sentir só pra caralho. Eu posso estar no meio de uma multidão e, ainda assim, conseguir me sentir só, mesmo com aquele sorriso displicente estampado à vermelhão no rosto e um copo de cerveja pregado à mão.
Até esses últimos dias eu estava muito de bem com a vida, tudo tinha um colorido radiante e eu amava até as bromélias. Logo depois eu já achava o sol amarelinho demais, o asfalto com uma consistência duvidosa e eu tive vontade de pisar em todos os gramados verdejantes pelos quais eu passei só pra sacanear e foder com quem quer que fosse. Esse meu humor inconstante é desgostoso, muito embora eu seja a rainha dos sorrisos. Engraçado como estou sempre sorrindo. Acho que às vezes eu rio até do que me soa meio sem graça pelo simples hábito de sorrir.
Eu sou daquele tipo que não sabe a hora de parar de sorrir, embora eu viva mostrando minha dentição por aí. Pensem em mim como aquele gigante magricela e desengonçado dançando salsa com um paletó de paetês dourados, sapato de duas cores e um chocalho. Estou sempre executando meu sorriso simpático na hora errada. Encerro-o antes do previsto e alguém fica constrangido ou depois do que já fora necessário e passo como uma boba alegre. Já não sei o que é pior: ser uma estraga-prazeres ou uma abobada sorridente. Tudo em mim funciona com pequenos defeitos e, não bastando, ainda sou a rainha dos sorrisos, sou a rainha dos sorrisos socialmente engajados já exausta de tanto sorrir.

a droga da desobediência

Você é uma droga de pessoa, pode parecer ilógico, mas foi minha mãe quem me disse isso. Engraçada a forma como fui criada. Eu cresci em meio à brigas, discórdias e mentiras de uma família burguesa em decadência. O que esperavam que eu fosse me tornar? Eu realmente sou uma droga de pessoa. Não me lembro de ter feito mal a quem quer que fosse, senão a um pintinho que matei na fazenda do meu falecido avô quando criança, mas a penalidade me foi imposta seguidamente do assassinato: os gansos me perseguiram e bicaram meus glúteos, fato que fez com que eu criasse um pânico astronômico por tais aves. Tirando esse episódio memorável da minha infância e um relacionado à uma cretinice que fiz a um amigo, não há nada que me recorde de imediato, aliás, eu sempre fui meio boba, apanhava de uma prima mais nova, os mais velhos não compreendiam minhas tristezas dizendo que eu chorava feito ¨manteiga derretida¨ e, ainda assim, hodiernamente eu morreria por eles, mataria por eles, seqüestraria por eles, atropelaria por eles, a verdade é que eu faria qualquer coisa por eles.
O que importa é que eu só fiquei muito interessada na questão há minutos que antecedem a esse em que escrevo, porque eu quebrei uma jarra de suco de cristal polinésio e, provavelmente, serei severamente punida por tal delito, sem contar o fato de que eu terei de trabalhar em canaviais como bóia-fria durante, no mínimo, oitenta anos para pagá-la. Sendo assim, em meio a essa digressão para colocá-los a par da situação, resolvi procurar a definição da palavra ¨droga¨ segundo a nossa ilustre amiga Ruth Rocha, e assim o fiz. Lá estava a que mais se adequou ao contexto: “Coisa de pouco valor; bagatela; nada”. Bacana. Minha mãe afirmara que eu sou nada. Tudo bem. Já ouvi coisas piores que não convém relatar aqui, no entanto, a circunstância levou-me a uma retórica para examinar a procedência da minha insignificância enquanto Homo sapiens sapiens.
Eu sou uma droga de pessoa por vários motivos. Há alguns anos, uma conhecida dissera-me que o meu maior defeito era confiar demais nas pessoas, discordo. Meu maior defeito consiste em ser uma droga de pessoa. Minha mãe não me explicou bem o porquê, eu também não procurei saber, confesso: tive medo. Coisas assim, que as próprias mães nos falam, são de causar horror. Acreditei. Habitualmente é o que se faz, você acredita na sua mãe porque ela te ama e a recíproca nem sempre é na mesma intensidade, mas ela te ama mesmo que você seja uma droga de pessoa, como eu. O segundo motivo pelo qual eu sou uma droga de pessoa é por não ser mais uma estudante de Direito, largar a faculdade quase ocasionou a Terceira Guerra Mundial aqui em casa. Minha mãe nunca superou isso.
Outro motivo que me veio agora à cabeça é a droga da minha desobediência. Eu sempre fugi um pouco dos padrões, nunca aceitei submissão e sempre fiz a linha que ¨não leva desaforo pra casa¨, muito embora isso nunca tenha me rendido frutos doces. Se alguém me dizia para não correr de meia pela casa, eu corria, e foi assim que quebrei pela primeira vez o meu nariz. Se a minha consciência me dizia para ficar em casa em um sábado à noite, eu não ficava, e foi assim que sofri um acidente de carro. Sempre desobedeci e sempre me fodi. É aquela história estúpida de que se você acha que alguma coisa pode dar errado, dará! As Leis de Murphy foram determinantes em todas as circunstâncias da minha vida. Mais recentemente, o irmão de um amigo meu afirmara que eu não possuía ¨papas na língua¨ como se isso fosse uma tremenda virtude, mas eu nunca enxerguei vantagens práticas nesse mau-hábito. Eu sou uma droga de pessoa por isso e já perdi a conta de quanta gente tomou birra de mim por eu não conseguir me calar. Eu vivo falando por aí o que devo e o que não devo, enfim, portanto, oratória seletiva nunca foi o meu forte.
Partindo do pressuposto de que uma droga-de-pessoa mata pintinhos a pauladas na infância e de que esse comportamento é indício de póstuma crueldade, inescrupulosidade e frieza, então eu prefiro ser uma droga de pessoa e aceitar que esse seja o meu destino, embora eu possua uma convicção firme e indiscutível de que o ¨destino¨ seja uma bengala para os fracos. Parece-me que devido à esse destino, as pessoas tenham que ficar sentadas e ociosas esperando que os acontecimentos batam às suas portas. Eu tenho traçado o meu próprio destino – ou pelo menos tentado -, ele não me parece muito amistoso à princípio, talvez porque eu tenha investido pouco nele ou porque talvez eu tenha brincado durante um bom tempo com ele, não sei, mas sei que esse meu destino até agora não chegou e eu o odiei por isso. Eu me odiei por isso. Eu odiei a minha vida por isso. Às vezes eu me recordo de quando eu era uma garotinha faceira que, na véspera de Natal, tentava de todas as formas me manter acordada para esperar o Papai Noel. Pois bem, destino e Papai Noel são a mesma crença idiota, e vejam se pode uma coisa dessas: eu ainda acredito em Papai Noel...!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

sobre astrologia e desperdícios

"Sente falta de algo na sua vida? Clique aqui!". Esse era o banner do site esotérico que freqüentemente visito para checar meu horóscopo. Sim!, foi a resposta e sem pensar muito fui logo clicando na esperança de encontrar qualquer coisa que fosse capaz de mudar minha vida drasticamente. Decepcionei-me: era uma lojinha virtual chamada Shopping Astral. Apostila de signos, apostila do sol nos signos, livro das conexões cósmicas e até o livro do segredo dos alquimistas estava lá com uma capa pateticamente esotérica. Tudo bem que minha vida amorosa seja lastimável, mas um mapa de relacionamento não é o quê me falta, nem um mapa de previsão anual, mapa astral, mapa vocacial, tudo em prestações suaves de R$9.90. Dêem-me apenas um mapa da mina de ouro de Salomão.
Sobre o quê falava mesmo? Ah sim, faltas. Eu poderia escrever uma lista quilométrica das coisas que faltam na minha vida, sobre todas as coisas que não consegui conquistar, sobre tudo que já tive nas mãos e desperdicei por só desperdiçar, sem remorso algum. Começando por minhas paixões, passando pela minha família burguesa decadente e pela minha faculdade até chegar aqui, no meu quarto, nessa cadeira, em mim. Desperdício é a palavra-chave, a palavra de ordem que tem regido minha curta jornada até então.
Fora da superfície aparentemente tranqüila da minha vida há o silêncio inexprimível da tristeza alvoroçada por dentro desse mundo inautêntico e de porradas que eu vivo, onde em cada história escondo uma palavra, um segredo qualquer ou um gesto que não consigo precisar, mas sei que quebraria todo o encanto, o espelho de convenções se espatifaria e toda a realidade dolorosa cairia por terra.
Mas eu não posso mudar minha dor em relação ao mundo ou em relação à vida, talvez eu só devesse aprender a amá-las...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Todos citados abaixo não merecem ter o privilégio da vida.
bejani
mc fox
faustão
galvão bueno
zagallo
dado dolabella
aécio neves
tati quebra-barraco
lula
josé dirceu
nérso da capitinga
willian bonner
eurico miranda
obina
luciana gimenez
hebe camargo
ana maria braga
e adjacentes

sexta-feira, 13 de julho de 2007

a sabedoria cósmica dos troninhos


- Manhê!, acabei!
Esgoelava pela minha mãe sentada em um troninho de plástico. Sentia o suor frio despontar na testa, o rostinho corar e formigar, todas as sensações de um misto de vergonha e medo. Pudera: não tinha destreza o suficiente para me limpar.
O engraçado é que me recordei disso após ter-me lembrado de uma reportagem no Fantástico sobre a idade ideal para para se começar a praticar esportes. De yoga para bebês à crianças de dois anos jogando tênis. Inventa-se de tudo para tirar todo o dinheiro de todo o mundo hoje em dia. Tudo em nome do bem-estar social e da baixa taxa de marginalidade, é claro. A busca utópica por seres humanos suscetíveis de perfeição.
"Quero fazer do meu filho um Guga", esse foi o pedido de um pai que procurou Batatinha, o instrutor dos pequenos prodígios e que ele, o técnico, reproduzia com veemência e orgulho. Essa foi uma das cenas mais deprimentes que já vi na TV: um jogador de tênis fracassado, cuspindo declarações de amor para crianças sem coordenação motora que, obviamente, não davam a mínima.
O fato é que o tal Batatinha ensinava tênis para crianças havia 8 anos. Há exatamente 8 anos atrás, eu praticava vôlei com o Tidinho. E há longos 17 anos atrás, eu fazia cocô em um troninho de plástico com desenhos simpáticos de girafas.
A questão que me comoveu é que, ainda, não me havia passado pela cabeça a idéia de que houvesse uma linha tênue que aproximasse o esporte, coletivo ou não, do ato de fazer cocô propriamente dito desde os primórdios da vida de um indivíduo. Explico: ambas são ações saudáveis, imprescindíveis e das duas pode-se fazer uma arte, já que a prática leva à perfeição.
Diferentemente do pai da reportagem, não quero que meu varão seja um Guga, talvez ele seja um médico, engenheiro, advogado ou, simplesmente, meu filho afine o ator de defecar e faça dele mais do que uma arte, mas um hobby.
Quem sabe ao chegar em casa, eu encontre um lindo presente de dia das mães esperando por mim no vaso sanitário. Não muito duro, não muito mole: perfeito.
Enfim, como articulava, aprender a limpar a bunda é só o começo, um grande passo na evolução.

piorando o que já era ruim

meu bem, meu mal
porto dos milagres
terra nostra
o clone
pé na jaca
belíssima
a viagem
roque santeiro
um anjo caiu do céu
rainha da sucata
salsa e merengue
eterna magia
bang-bang
vira lata
o profeta
américa
senhora do destino
cobras e lagartos
suave veneno
sinhá moça
a lua me disse
estrela guia
celebridade
começar de novo
corpo dourado
alma gêmea
perigosas peruas
por amor
como uma onda
o rei do gado
vamp
laços de família
quatro por quatro
pedra sobre pedra
deus nos acuda
tieta
renascer
fera ferida
vale tudo
sete pecados
etc

Deixada de lado um pouco a onda de filmes de presídios, favelas e nordestinos, vem agora a onda do estímulo ao sexo precoce. Naquela novela estúpida chamada "Páginas da Vida", a garota de 15 anos perdeu a virgindade e, como não poderia faltar o típico clichê, o romance pubescente se fez em cima do comportamento relativamente atrasado de um pai autoritário. Acontece que em uma família estruturada os efeitos são mínimos, nas periferias isso piora o que já era ruim.
O efeito das telenovelas na sociedade brasileira funciona como na Teoria do Caos. Uma borboleta bate asas em Tóquio e causa uma tempestade em Nova Iorque. Uma garota de 15 anos transa no horário nobre e, nove meses depois, ocorre um "baby boom" nas escolas públicas.
Esse é um dos comportamentos da mídia de massa que mais me enojam.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

desventuras amorosas

Despertei ainda grogue e com uma dor de cabeça terrível que fez com que eu desejasse evaporar da face da terra. Olhei para o lado e ele já abria um largo sorriso, foi quando me dei conta da cagada que eu havia arquitetado na noite anterior, a cagada do ano. Decidi-me a mais estúpida das criaturas e então contive-me apenas à um bom dia mal humorado que ele aceitou pacificamente. Tudo tinha cheiro de cigarro, minhas roupas, as roupas dele e principalmente meu cabelo que, à aquela hora, era um sebo só, minha calça estava imunda, com uma mancha rósea bem na altura da coxa, proveniente de algum dos drinques que eu tomara. Levantei-me logo e cheguei na janela, na esperança de que a brisa matinal purificasse meus pulmões lacerados pela nicotina em excesso, e rezei para que ele virasse uma pizza, uma daquelas pizzas adormecidas que você come quando mamãe não está em casa para oferecer um bom e digno desjejum. Sentia uma necessidade vital de tomar uma xícara de café bem forte e larguei-o ali mesmo, desnudo, indefeso, frágil e apaixonado. Deus meu! Precisava me livrar daquilo o quanto antes!
Quando já passava o café, senti um abraço na altura da cintura e aborreci-me ligeiramente, afastei-o e ele então, magoado, foi se sentar na copa, como aquele típico maridão que espera a esposa botar a refeição na mesa enquanto tira algumas ceras do ouvido com o dedo mindinho. Ao me ocorrer aquela imagem, senti uma náusea profunda, pensei que talvez eu devesse sair dali e vomitar em cima dele e nunca mais nos encontraríamos. Resolvi que deixaria meus instintos de lado, ainda que estivesse decepcionada com meu lapso de embriaguez que me propiciara uma companhia logo cedo. Servi-me e levei outra xícara para aquele folgado que tentava de todas as formas manter um diálogo que eu não queria de modo algum, escute aqui, meu bem, não tenho disposição alguma pela manhã, se você puder fechar sua boca só um pouco..., eu queria dizer mas não tinha coragem, ao contrário dele, que se comportava como se fôssemos namorados ou qualquer coisa relacionada à qualquer merda de compromisso que eu, definitivamente, não queria ter.
Após algumas goladas no café, resolvi que podia dar-lhe mais atenção, a vergonha pelo degradante já não me pesava tanto nos ombros como quando o vi ao acordar, respondi frases um pouco maiores e consegui olhá-lo nos olhos. Ele queria falar da noite anterior e em como tinha sido legal me conhecer, eu queria dizer exatamente o oposto porque, simplesmente, não podia aceitar que eu pudesse estar na companhia de alguém tão gentil, aliás, eu sempre tive um faro apurado para idiotas. Ele falava, falava, falava e vendo os seus lábios se moverem rapidamente, a única coisa que tinha vontade de fazer era jogar um pires dali mesmo de onde eu estava para quebrar-lhe alguns dentes. De fato, eu deveria ter saído correndo quando tive a chance para depois voltar arrependida, após reaver toda circunstância, e falar do tempo, ou de música, ou de poesia ou de qualquer coisa amena que não dissesse respeito a nós dois.
O meu maior problema é que saio por aí fazendo burrices sem pensar nas consequências e a maioria delas eu realizo embriagada, sem qualquer indício de bom senso, bons modos e escrúpulos, depois fico lamuriando pelos cantos, lamentando pela imbecil que sou. Faço-as feliz como uma criança que acabou de ganhar um brinquedo novo, a diferença é que crianças não ganham navalhas. Eu me dou conta de mim mesma e da situação, tento sair fora, mas é tarde demais, tarde o suficiente para eu já as ter manejado sem qualquer habilidade. Gostaria de pegar todos os meus fracassos, trancá-los em uma caixa de concreto, despachá-los para bem longe daqui e sem remetente para não correr o risco de devolução.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

divagações

Eu tenho uma mania insuportável de largar as coisas pela metade porque sou adepta da filosofia de vida que diz para nunca fazermos hoje, algo que possa ser feito amanhã. É uma postura que muito me incomoda. Eu sempre tenho idéias brilhantes, desde como foder com todo mundo até alternativas viáveis para a erradicação da miséria na África. Habitualmente, eu as deixo de lado e nunca as coloco em prática, depois fico remoendo o quê poderia ter sido. Sou a pessoa mais preguiçosa desse mundo. As minhas idéias nunca foram as mais originais, mas eu gosto de pensar que sim, de algum modo, faz com que eu me sinta melhor. (*) De qualquer forma, essas minhas idéias sempre encontram a minha indisposição no meio do caminho. Até que sou um bocado espirituosa, mas pra tomar qualquer atitude, mesmo que seja para levantar da cama, preciso estar em um estado de espírito fabuloso, portanto, a ausência de um estado de espírito propício à ação já abre prerrogativa à preguiça. Confesso que esse é o tipo da desculpa estúpida pra se dar.
(*) Quiçá a gente só precise disso mesmo, de alguma coisa boba que nos faça crer que fomos talhados para grandes feitos, que nascemos para mudar a cara do mundo, é um pensamento mesquinho que eleva a auto-estima, mas o grande problema está justamente nessa "alguma coisa que opera mudanças" que eu não sei ao certo o quê é. (**) Aos 16 anos, eu tinha a convicção de que com o coração cheio de amor eu seria capaz de alterar até o sistema solar, no entanto, 4 anos depois, me apaixono pelo menos três vezes ao ano por pelo menos três idiotas diferentes e sem que nenhuma mudança, acerca da minha falta de mudanças, aconteça. É como se todos os meus dias fossem unificados em uma constante, mesmo que todos os dias por mais que se mostrem iguais, não o são. Há muito de uma metafísica inexplicável que os faz persistirem na mesmice rotineira sem que sejam, intrinsecamente, os mesmos. Em cada dia vivido há algo novo, porque nós não somos sempre os mesmos. Salvo a circunstância, não me resta muitas perspectivas senão remoer o meu passado e pensar que ao invés de ser um "era uma vez" deveria ser um "o quê eu gostaria que tivesse sido". Mas agora é apenas um título de redação pra mim.
(**) Tem coisas que são difíceis de compreender, essa indisposição comigo mesma é uma delas. Nunca me vem à cabeça qualquer pensamento claro e prático à respeito do que pode ser feito, até mesmo do que poderia ter sido feito ou, ainda, talvez eu nem tenha parado para pensar realmente, e, por mais que eu sempre tivesse uma avaliação ponderada sobre minhas atitudes, não movi um fio de cabelo que fosse para efetuar qualquer mudança. Estou, na maioria da vezes, a favor da alternativa mais fácil, é aquele velho hábito comodista de "tampar o sol com a peneira", ainda que não costume brincar em serviço, digo isso porque estou sempre pensando em coisas demais em tempo de menos, mas quando se trata de algo que realmente possa fazer a diferença, me bate aquela velha preguiça e então me deprimo. A verdade é que tenho as soluções para todos os problemas alheios, mas quando se trata de mim mesma, a situação muda completamente. Vendo-me dessa forma, acabo sentindo um pouco de pena dessa filha da puta relapsa que sou.

dieta do carboidrato


Estávamos a poucos dias da eleição presidencial que iria ocorrer no primeiro dia do mês de Outubro do ano corrente de 2006. Lula estava ansioso: ele tinha certeza do seu triunfo no primeiro turno.
O curral eleitoral do PT justifica o voto afirmando que, desde a supremacia petista, eles têm comido arroz todo os dias. Além de arroz, eles também têm comido mais macarrão.
Excelente. Carboidrato dá uma tremenda "sustância". Foi uma fachada brilhante para a questão da fome, da má distribuição de renda, do desemprego e da educação precária. Nunca presenciei um engodo político e social mais eficaz. Mataram uma ninhada de coelhos com uma cajadada só.
Eu até poderia concordar com essa argumento se não soubesse que arroz é comida de pobre. O Lula deixou de ser pobre, logo, não come arroz, muito embora ele nunca tenha deixado seus hábitos suburbanos de lado: dá-lhe que come churrasco! E como pobre adora churrasco, tudo é um bom pretexto para o velho churrasco na laje. Ele fez da Granja do Torto a sua laje de luxo.
O povo brasileiro, além de ignorante se contenta com muito pouco. Por exemplo, se ao chegar em casa eu pudesse apreciar um delicioso salmão servido em uma bandeja de prata, com certeza ele teria o meu voto, até por uma questão de inteligência. Mas isso não acontece. Chego em casa e tenho que me contentar com uma lasanha ou, na melhor das hipóteses, com um strogonoff. O quê não impede que eu admire o Lula, porque além de ser o torneiro-mecânico mais bem sucedido da história, mostrou-se, além disso, um nutricionista com credenciais altíssimas para determinar a alimentação de milhões de pessoas.
De fato, pensa-se muito baixo por aqui. Vivemos em meio à uma guerra civil disfarçada não só pela mídia. A política é desmoralizante. O acesso à saúde é decadente. A educação então...! O povo brasileiro nutre um gosto secreto pela dor: é preciso que haja dois mandatos de um Zé da Betoneira para que uma nação inteira perceba a sua incapacidade de gerenciar o país. Foi assim com o governo FHC, agora, com tantas éguas-pocotó, tchutchucas e adjacentes à solta não poderia ter sido diferente. Lula foi reeleito. Enganando os milhões que são subalimentados por ele, que se empanturra de carne de primeira. E mesmo não tendo vencido tão facilmente como ele proclamava, eu não duvidava da sua vitória, mas isso não significa que facilitei as coisas.

terça-feira, 10 de julho de 2007

análise de cerveja I


Curiosa a forma como nossos hábitos comportamentais vão se alterando com o decorrer dos anos ou até mesmo com a tão esperada maturidade e, no meu caso, com a resistência alcoólica.
Quando era mais nova tinha, ainda, uma idéia de paixão idealizada, a hipótese de beijar pelo simples fato de beijar era desgostosa. Assim como, também naquele época, não ingeria unidades alcoólicas com tanta freqüência e ganância.
O tempo e a quantidade de cerveja ingerida, aliados à vexames, pérolas e adjacentes, nos fazem repensar nossos conceitos, pré-conceitos e toda essa chatice.
Acontece é que me peguei pensando de uma forma estúpida na última vez que sentei em um bar pra beber com amigos.
Olhava ao redor e contabilizava: esse aí depois de umas 5 latinhas eu pego, o amigo dele depois de umas 10 mas aquele ali, nem com um engradado.
Meu senso crítico de uns anos pra cá tem se resumido à minha embriaguez, partindo do pressuposto de que minha vida tem sido uma mangüaça sem fim. O que não significa um desagrado da minha parte. No entanto, a única coisa que me incomoda nisso tudo é que já não sei mais se faço as coisas sóbria ou não, e eu acho que as pessoas têm essa mesma impressão...

o começo.

Acordei há uma hora desnorteada. Não sabia onde estava. Não sabia o dia. As horas. Não sabia sequer o meu nome. Pouco a pouco, recobrei a consciência e o peso da existência voltou pesando como nunca. A vergonha da minha existência imunda voltou pesando como nunca. Acordei mais corcunda do que nunca sob os escombros da minha própria existência. De qualquer forma, sentia-me, ainda, aquela pessoa feliz e alienada que optei por ser há alguns meses. Engraçado que tudo, atualmente, remota à esse “há alguns meses atrás”, como um marcador, um divisor de águas e nem me lembro ao certo como se deu, a mudança pelo o quê me consta foi gradual, à prestação, como fascículos semanais em uma banca de jornal.
Mas agradeço à essa mudança, por culpa dela, resolvi criar essa porcaria de blog.
Eis, pois, o meu pleito!
:)