quarta-feira, 23 de setembro de 2009

caixinha divina de sugestões

O Mundinho Insosso é um blog que questiona. Que não tem certezas, exceto uma: não se deve levar na bunda (sem qualquer conotação sexual). Mas quem questiona alguma coisa, em última análise, acaba sempre por questionar Deus. E se Deus tivesse uma caixinha de sugestões (a propósito, é uma coisa em que deveriam pensar) e não se escandalizem com a forma como o trato, reparem que usei letra maiúscula, eu colocaria lá esta reclamação:

Meu caro amigo,
Segundo diz a Bíblia e os homens que a escreveram (Harold Bloom afirma que foi uma mulher, mas é mentira. Se tivesse sido uma mulher a escrever a Bíblia, haveria mais descrições dos trajes de Cristo e dos apóstolos, dos enfeites de mesa da Última Ceia e o caralho-a-quatro), os homens que a escreveram, dizia eu, estiveram com atenção àquilo que o Senhor andou a fazer e dizem que se fartou de trabalhar durante seis dias, mas ao sétimo descansou. Ora bem, descansou ao sétimo dia e até hoje, que se saiba, não fez mais nada. São milhões e milhões de anos a coçar os sagrados colhões. Eles devem estar em chagas!
Mas enfim, isso não é o pior. O pior são as merdas que o Senhor deixou mal acabadas por aqui e que devia repensar. Por exemplo, os homens. Há ali coisas bem feitas: braços, pernas e mãos. Foi muito bem pensado. Desta forma, a mulher dispõe do atrativo viril básico que pode culminar na fornicação. Mas faz falta, a meu ver, mais exemplares da espécie. Porque, tal como está, com esta onda homossexual atingindo proporções alarmantes, vejo a perpetuação da espécie - espécie esta de que o Senhor tanto se orgulha - ameaçada.
Portanto, rogo em nome das mulheres que concordam com minhas sucintas explanações: não daria para reverter este processo de abichanação? Ou, quiçá, um milagre que seria capaz de transformar todos os homens-florzinhas-sensíveis em caminhoneiros que exalam testosterona? Estamos sofrendo com a escassez. Dê lá um jeitinho, vai.
Desde já agradeço vossa celestial atenção.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

no fundo do poço... e cavando

"Um escritor e a sua dor partilhavam dentadas de um texto, mordia o escritor a questão, enquanto a dor mastigava o porquê. Por quê? Porque antes de engolir, convém mastigar e digerir.
Um escritor e a sua dor cavavam fundo e incansavelmente, enterrando-se num buraco do qual não sabiam ao certo, como no passado, se conseguiriam sair."


Não sei há quanto tempo redigi isto. Séculos, talvez. Mas mais do que em qualquer outra circunstância, isto volta a fazer sentido. As personagens se modificaram, mas a situação se mimetizou, pondo em evidência aquela qualquer faceta masoquista de mim que parece sempre apreciar.
Sei de antemão que irei sofrer, mas por haver muita piada nas peças que a vida nos prega, que pincelam com cores diversas os dias enevoados e maçantes, enchendo o coração de alegria, esperança e nos dando forças para enfrentar "todos os outros dias", deixo-me levar. Quando dou por mim, já não há como esquivar da bigorna de sonhos estilhaçados em queda livre que vem de encontro à minha cabeça.
Acho que prefiro aqueles dias em que não se passa rigorosamente nada, em que o tédio se apodera de nós e o cansaço da monotonia nos vence, aos dias (quase) perfeitos. Ao menos, o nevoeiro indissipável que adoece a alma, impede que eu me iluda e caia nos mesmos erros do passado.