sexta-feira, 20 de julho de 2007

sobre astrologia e desperdícios

"Sente falta de algo na sua vida? Clique aqui!". Esse era o banner do site esotérico que freqüentemente visito para checar meu horóscopo. Sim!, foi a resposta e sem pensar muito fui logo clicando na esperança de encontrar qualquer coisa que fosse capaz de mudar minha vida drasticamente. Decepcionei-me: era uma lojinha virtual chamada Shopping Astral. Apostila de signos, apostila do sol nos signos, livro das conexões cósmicas e até o livro do segredo dos alquimistas estava lá com uma capa pateticamente esotérica. Tudo bem que minha vida amorosa seja lastimável, mas um mapa de relacionamento não é o quê me falta, nem um mapa de previsão anual, mapa astral, mapa vocacial, tudo em prestações suaves de R$9.90. Dêem-me apenas um mapa da mina de ouro de Salomão.
Sobre o quê falava mesmo? Ah sim, faltas. Eu poderia escrever uma lista quilométrica das coisas que faltam na minha vida, sobre todas as coisas que não consegui conquistar, sobre tudo que já tive nas mãos e desperdicei por só desperdiçar, sem remorso algum. Começando por minhas paixões, passando pela minha família burguesa decadente e pela minha faculdade até chegar aqui, no meu quarto, nessa cadeira, em mim. Desperdício é a palavra-chave, a palavra de ordem que tem regido minha curta jornada até então.
Fora da superfície aparentemente tranqüila da minha vida há o silêncio inexprimível da tristeza alvoroçada por dentro desse mundo inautêntico e de porradas que eu vivo, onde em cada história escondo uma palavra, um segredo qualquer ou um gesto que não consigo precisar, mas sei que quebraria todo o encanto, o espelho de convenções se espatifaria e toda a realidade dolorosa cairia por terra.
Mas eu não posso mudar minha dor em relação ao mundo ou em relação à vida, talvez eu só devesse aprender a amá-las...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Todos citados abaixo não merecem ter o privilégio da vida.
bejani
mc fox
faustão
galvão bueno
zagallo
dado dolabella
aécio neves
tati quebra-barraco
lula
josé dirceu
nérso da capitinga
willian bonner
eurico miranda
obina
luciana gimenez
hebe camargo
ana maria braga
e adjacentes

sexta-feira, 13 de julho de 2007

a sabedoria cósmica dos troninhos


- Manhê!, acabei!
Esgoelava pela minha mãe sentada em um troninho de plástico. Sentia o suor frio despontar na testa, o rostinho corar e formigar, todas as sensações de um misto de vergonha e medo. Pudera: não tinha destreza o suficiente para me limpar.
O engraçado é que me recordei disso após ter-me lembrado de uma reportagem no Fantástico sobre a idade ideal para para se começar a praticar esportes. De yoga para bebês à crianças de dois anos jogando tênis. Inventa-se de tudo para tirar todo o dinheiro de todo o mundo hoje em dia. Tudo em nome do bem-estar social e da baixa taxa de marginalidade, é claro. A busca utópica por seres humanos suscetíveis de perfeição.
"Quero fazer do meu filho um Guga", esse foi o pedido de um pai que procurou Batatinha, o instrutor dos pequenos prodígios e que ele, o técnico, reproduzia com veemência e orgulho. Essa foi uma das cenas mais deprimentes que já vi na TV: um jogador de tênis fracassado, cuspindo declarações de amor para crianças sem coordenação motora que, obviamente, não davam a mínima.
O fato é que o tal Batatinha ensinava tênis para crianças havia 8 anos. Há exatamente 8 anos atrás, eu praticava vôlei com o Tidinho. E há longos 17 anos atrás, eu fazia cocô em um troninho de plástico com desenhos simpáticos de girafas.
A questão que me comoveu é que, ainda, não me havia passado pela cabeça a idéia de que houvesse uma linha tênue que aproximasse o esporte, coletivo ou não, do ato de fazer cocô propriamente dito desde os primórdios da vida de um indivíduo. Explico: ambas são ações saudáveis, imprescindíveis e das duas pode-se fazer uma arte, já que a prática leva à perfeição.
Diferentemente do pai da reportagem, não quero que meu varão seja um Guga, talvez ele seja um médico, engenheiro, advogado ou, simplesmente, meu filho afine o ator de defecar e faça dele mais do que uma arte, mas um hobby.
Quem sabe ao chegar em casa, eu encontre um lindo presente de dia das mães esperando por mim no vaso sanitário. Não muito duro, não muito mole: perfeito.
Enfim, como articulava, aprender a limpar a bunda é só o começo, um grande passo na evolução.

piorando o que já era ruim

meu bem, meu mal
porto dos milagres
terra nostra
o clone
pé na jaca
belíssima
a viagem
roque santeiro
um anjo caiu do céu
rainha da sucata
salsa e merengue
eterna magia
bang-bang
vira lata
o profeta
américa
senhora do destino
cobras e lagartos
suave veneno
sinhá moça
a lua me disse
estrela guia
celebridade
começar de novo
corpo dourado
alma gêmea
perigosas peruas
por amor
como uma onda
o rei do gado
vamp
laços de família
quatro por quatro
pedra sobre pedra
deus nos acuda
tieta
renascer
fera ferida
vale tudo
sete pecados
etc

Deixada de lado um pouco a onda de filmes de presídios, favelas e nordestinos, vem agora a onda do estímulo ao sexo precoce. Naquela novela estúpida chamada "Páginas da Vida", a garota de 15 anos perdeu a virgindade e, como não poderia faltar o típico clichê, o romance pubescente se fez em cima do comportamento relativamente atrasado de um pai autoritário. Acontece que em uma família estruturada os efeitos são mínimos, nas periferias isso piora o que já era ruim.
O efeito das telenovelas na sociedade brasileira funciona como na Teoria do Caos. Uma borboleta bate asas em Tóquio e causa uma tempestade em Nova Iorque. Uma garota de 15 anos transa no horário nobre e, nove meses depois, ocorre um "baby boom" nas escolas públicas.
Esse é um dos comportamentos da mídia de massa que mais me enojam.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

desventuras amorosas

Despertei ainda grogue e com uma dor de cabeça terrível que fez com que eu desejasse evaporar da face da terra. Olhei para o lado e ele já abria um largo sorriso, foi quando me dei conta da cagada que eu havia arquitetado na noite anterior, a cagada do ano. Decidi-me a mais estúpida das criaturas e então contive-me apenas à um bom dia mal humorado que ele aceitou pacificamente. Tudo tinha cheiro de cigarro, minhas roupas, as roupas dele e principalmente meu cabelo que, à aquela hora, era um sebo só, minha calça estava imunda, com uma mancha rósea bem na altura da coxa, proveniente de algum dos drinques que eu tomara. Levantei-me logo e cheguei na janela, na esperança de que a brisa matinal purificasse meus pulmões lacerados pela nicotina em excesso, e rezei para que ele virasse uma pizza, uma daquelas pizzas adormecidas que você come quando mamãe não está em casa para oferecer um bom e digno desjejum. Sentia uma necessidade vital de tomar uma xícara de café bem forte e larguei-o ali mesmo, desnudo, indefeso, frágil e apaixonado. Deus meu! Precisava me livrar daquilo o quanto antes!
Quando já passava o café, senti um abraço na altura da cintura e aborreci-me ligeiramente, afastei-o e ele então, magoado, foi se sentar na copa, como aquele típico maridão que espera a esposa botar a refeição na mesa enquanto tira algumas ceras do ouvido com o dedo mindinho. Ao me ocorrer aquela imagem, senti uma náusea profunda, pensei que talvez eu devesse sair dali e vomitar em cima dele e nunca mais nos encontraríamos. Resolvi que deixaria meus instintos de lado, ainda que estivesse decepcionada com meu lapso de embriaguez que me propiciara uma companhia logo cedo. Servi-me e levei outra xícara para aquele folgado que tentava de todas as formas manter um diálogo que eu não queria de modo algum, escute aqui, meu bem, não tenho disposição alguma pela manhã, se você puder fechar sua boca só um pouco..., eu queria dizer mas não tinha coragem, ao contrário dele, que se comportava como se fôssemos namorados ou qualquer coisa relacionada à qualquer merda de compromisso que eu, definitivamente, não queria ter.
Após algumas goladas no café, resolvi que podia dar-lhe mais atenção, a vergonha pelo degradante já não me pesava tanto nos ombros como quando o vi ao acordar, respondi frases um pouco maiores e consegui olhá-lo nos olhos. Ele queria falar da noite anterior e em como tinha sido legal me conhecer, eu queria dizer exatamente o oposto porque, simplesmente, não podia aceitar que eu pudesse estar na companhia de alguém tão gentil, aliás, eu sempre tive um faro apurado para idiotas. Ele falava, falava, falava e vendo os seus lábios se moverem rapidamente, a única coisa que tinha vontade de fazer era jogar um pires dali mesmo de onde eu estava para quebrar-lhe alguns dentes. De fato, eu deveria ter saído correndo quando tive a chance para depois voltar arrependida, após reaver toda circunstância, e falar do tempo, ou de música, ou de poesia ou de qualquer coisa amena que não dissesse respeito a nós dois.
O meu maior problema é que saio por aí fazendo burrices sem pensar nas consequências e a maioria delas eu realizo embriagada, sem qualquer indício de bom senso, bons modos e escrúpulos, depois fico lamuriando pelos cantos, lamentando pela imbecil que sou. Faço-as feliz como uma criança que acabou de ganhar um brinquedo novo, a diferença é que crianças não ganham navalhas. Eu me dou conta de mim mesma e da situação, tento sair fora, mas é tarde demais, tarde o suficiente para eu já as ter manejado sem qualquer habilidade. Gostaria de pegar todos os meus fracassos, trancá-los em uma caixa de concreto, despachá-los para bem longe daqui e sem remetente para não correr o risco de devolução.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

divagações

Eu tenho uma mania insuportável de largar as coisas pela metade porque sou adepta da filosofia de vida que diz para nunca fazermos hoje, algo que possa ser feito amanhã. É uma postura que muito me incomoda. Eu sempre tenho idéias brilhantes, desde como foder com todo mundo até alternativas viáveis para a erradicação da miséria na África. Habitualmente, eu as deixo de lado e nunca as coloco em prática, depois fico remoendo o quê poderia ter sido. Sou a pessoa mais preguiçosa desse mundo. As minhas idéias nunca foram as mais originais, mas eu gosto de pensar que sim, de algum modo, faz com que eu me sinta melhor. (*) De qualquer forma, essas minhas idéias sempre encontram a minha indisposição no meio do caminho. Até que sou um bocado espirituosa, mas pra tomar qualquer atitude, mesmo que seja para levantar da cama, preciso estar em um estado de espírito fabuloso, portanto, a ausência de um estado de espírito propício à ação já abre prerrogativa à preguiça. Confesso que esse é o tipo da desculpa estúpida pra se dar.
(*) Quiçá a gente só precise disso mesmo, de alguma coisa boba que nos faça crer que fomos talhados para grandes feitos, que nascemos para mudar a cara do mundo, é um pensamento mesquinho que eleva a auto-estima, mas o grande problema está justamente nessa "alguma coisa que opera mudanças" que eu não sei ao certo o quê é. (**) Aos 16 anos, eu tinha a convicção de que com o coração cheio de amor eu seria capaz de alterar até o sistema solar, no entanto, 4 anos depois, me apaixono pelo menos três vezes ao ano por pelo menos três idiotas diferentes e sem que nenhuma mudança, acerca da minha falta de mudanças, aconteça. É como se todos os meus dias fossem unificados em uma constante, mesmo que todos os dias por mais que se mostrem iguais, não o são. Há muito de uma metafísica inexplicável que os faz persistirem na mesmice rotineira sem que sejam, intrinsecamente, os mesmos. Em cada dia vivido há algo novo, porque nós não somos sempre os mesmos. Salvo a circunstância, não me resta muitas perspectivas senão remoer o meu passado e pensar que ao invés de ser um "era uma vez" deveria ser um "o quê eu gostaria que tivesse sido". Mas agora é apenas um título de redação pra mim.
(**) Tem coisas que são difíceis de compreender, essa indisposição comigo mesma é uma delas. Nunca me vem à cabeça qualquer pensamento claro e prático à respeito do que pode ser feito, até mesmo do que poderia ter sido feito ou, ainda, talvez eu nem tenha parado para pensar realmente, e, por mais que eu sempre tivesse uma avaliação ponderada sobre minhas atitudes, não movi um fio de cabelo que fosse para efetuar qualquer mudança. Estou, na maioria da vezes, a favor da alternativa mais fácil, é aquele velho hábito comodista de "tampar o sol com a peneira", ainda que não costume brincar em serviço, digo isso porque estou sempre pensando em coisas demais em tempo de menos, mas quando se trata de algo que realmente possa fazer a diferença, me bate aquela velha preguiça e então me deprimo. A verdade é que tenho as soluções para todos os problemas alheios, mas quando se trata de mim mesma, a situação muda completamente. Vendo-me dessa forma, acabo sentindo um pouco de pena dessa filha da puta relapsa que sou.

dieta do carboidrato


Estávamos a poucos dias da eleição presidencial que iria ocorrer no primeiro dia do mês de Outubro do ano corrente de 2006. Lula estava ansioso: ele tinha certeza do seu triunfo no primeiro turno.
O curral eleitoral do PT justifica o voto afirmando que, desde a supremacia petista, eles têm comido arroz todo os dias. Além de arroz, eles também têm comido mais macarrão.
Excelente. Carboidrato dá uma tremenda "sustância". Foi uma fachada brilhante para a questão da fome, da má distribuição de renda, do desemprego e da educação precária. Nunca presenciei um engodo político e social mais eficaz. Mataram uma ninhada de coelhos com uma cajadada só.
Eu até poderia concordar com essa argumento se não soubesse que arroz é comida de pobre. O Lula deixou de ser pobre, logo, não come arroz, muito embora ele nunca tenha deixado seus hábitos suburbanos de lado: dá-lhe que come churrasco! E como pobre adora churrasco, tudo é um bom pretexto para o velho churrasco na laje. Ele fez da Granja do Torto a sua laje de luxo.
O povo brasileiro, além de ignorante se contenta com muito pouco. Por exemplo, se ao chegar em casa eu pudesse apreciar um delicioso salmão servido em uma bandeja de prata, com certeza ele teria o meu voto, até por uma questão de inteligência. Mas isso não acontece. Chego em casa e tenho que me contentar com uma lasanha ou, na melhor das hipóteses, com um strogonoff. O quê não impede que eu admire o Lula, porque além de ser o torneiro-mecânico mais bem sucedido da história, mostrou-se, além disso, um nutricionista com credenciais altíssimas para determinar a alimentação de milhões de pessoas.
De fato, pensa-se muito baixo por aqui. Vivemos em meio à uma guerra civil disfarçada não só pela mídia. A política é desmoralizante. O acesso à saúde é decadente. A educação então...! O povo brasileiro nutre um gosto secreto pela dor: é preciso que haja dois mandatos de um Zé da Betoneira para que uma nação inteira perceba a sua incapacidade de gerenciar o país. Foi assim com o governo FHC, agora, com tantas éguas-pocotó, tchutchucas e adjacentes à solta não poderia ter sido diferente. Lula foi reeleito. Enganando os milhões que são subalimentados por ele, que se empanturra de carne de primeira. E mesmo não tendo vencido tão facilmente como ele proclamava, eu não duvidava da sua vitória, mas isso não significa que facilitei as coisas.

terça-feira, 10 de julho de 2007

análise de cerveja I


Curiosa a forma como nossos hábitos comportamentais vão se alterando com o decorrer dos anos ou até mesmo com a tão esperada maturidade e, no meu caso, com a resistência alcoólica.
Quando era mais nova tinha, ainda, uma idéia de paixão idealizada, a hipótese de beijar pelo simples fato de beijar era desgostosa. Assim como, também naquele época, não ingeria unidades alcoólicas com tanta freqüência e ganância.
O tempo e a quantidade de cerveja ingerida, aliados à vexames, pérolas e adjacentes, nos fazem repensar nossos conceitos, pré-conceitos e toda essa chatice.
Acontece é que me peguei pensando de uma forma estúpida na última vez que sentei em um bar pra beber com amigos.
Olhava ao redor e contabilizava: esse aí depois de umas 5 latinhas eu pego, o amigo dele depois de umas 10 mas aquele ali, nem com um engradado.
Meu senso crítico de uns anos pra cá tem se resumido à minha embriaguez, partindo do pressuposto de que minha vida tem sido uma mangüaça sem fim. O que não significa um desagrado da minha parte. No entanto, a única coisa que me incomoda nisso tudo é que já não sei mais se faço as coisas sóbria ou não, e eu acho que as pessoas têm essa mesma impressão...

o começo.

Acordei há uma hora desnorteada. Não sabia onde estava. Não sabia o dia. As horas. Não sabia sequer o meu nome. Pouco a pouco, recobrei a consciência e o peso da existência voltou pesando como nunca. A vergonha da minha existência imunda voltou pesando como nunca. Acordei mais corcunda do que nunca sob os escombros da minha própria existência. De qualquer forma, sentia-me, ainda, aquela pessoa feliz e alienada que optei por ser há alguns meses. Engraçado que tudo, atualmente, remota à esse “há alguns meses atrás”, como um marcador, um divisor de águas e nem me lembro ao certo como se deu, a mudança pelo o quê me consta foi gradual, à prestação, como fascículos semanais em uma banca de jornal.
Mas agradeço à essa mudança, por culpa dela, resolvi criar essa porcaria de blog.
Eis, pois, o meu pleito!
:)