domingo, 23 de março de 2008

enfiando o pé na jaca

Todo santo dia é a mesma coisa. Mal chego na faculdade e já pronta pra mais uma bebedeira. A agitação começa antes do final das últimas aulas. Todo dia é dia, é só chamar que eu vou.
Recrutamos o contingente com uma habilidade de persuasão indescritível. E quando eu me dei conta da situação, já havia até negociado o preço da breja com o dono do estabelecimento. "Poxa André, universitário é fodido". Papinho de cachaceiro.
Mas eu continuava ali sentada. Dividindo as cervejas com mais umas 7 pessoas. Um absurdo! Queria tudo pra mim. E a cada vez que eu piscava, notava o engradado cada vez mais cheio.
Tudo muito barulhento. Milhões de assuntos. Milhões de risadas. E ainda tinha a música, Cássia Eller e a merda do seu segundo sol, que tocava baixinho.
Entrei em uma espécie de torpor. Parecia que eu sonhava. Que coisa boa é ficar sozinha. Mas eu não estava propriamente só. Todos os meus colegas estavam ali. Fiquei profundamente incomodada. Então levantei. Cocei minha barriga cheia de cerveja e saí pra urinar.
O banheiro é o melhor refúgio pra quem enche a cara e tem trocentos problemas atravessados na goela. É lá que vem o milagroso lapso de lucidez, e rola de voltar sem aquela necessidade insana de cuspir todas as cagadas da vida nos outros.
E toda vez que eu ia ao banheiro me ocorria uma idéia mais ridícula do que a outra e eu falava sozinha, como se eu tivesse que provar pra todo mundo que eu não sou 70% das coisas que todo mundo fala por aí.
Dei lições de moral pro meu alter-ego. Mas que moral, meu Deus do céu? Quem me dera ter alguma moral. Eu já fui moralista. E o mais engraçado, eu até já tive a porra da moral. Até que um belo dia ela saiu pra comprar cigarros e nunca mais voltou.
São nesses momentos, reforçados pela minha persistência nesse meu comportamento de aspirante à alcoólatra, que eu me decido cada vez mais inescrupulosa.
Pra ser sincera, se não fossem certas convenções sociais, à aquela altura eu já estaria com a garrafa na boca, bebendo feito louca. Eu pediria um Whisky cowboy. Tomaria 3 doses. Seguidas de uma Cuba. E no auge da embriaguez, chamaria a moçada pra um vira-vira só pra cantar um brinde russo que eu aprendi com um conhecido amplamente entorpecido em um acampamento há alguns anos.
Eu me conheço bem. Não tenho auto-controle. Não tenho educação. Principalmente pra bebida. Tem álcool esguichando até pela orelha e eu ainda insisto em "só mais um golinho". E nesse só mais um golinho vão mais 4 garrafas. A palavrinha "casa" desaparece do meu vocabulário. E eu não quero ir embora nunca mais.
Eu lembro que já não tenho muito o que perder. Que a minha reputação tá no lixo há milênios. Que metade da cidade me odeia e a outra metade, provavelmente, pensa que eu sou retardada. Que meus pais são dois ogros. Que eu não sei bem o que eu quero da minha vida. Fui outra vez ao banheiro. E dá-lhe que discursa sozinha!
Voltei e tomei mais cerveja. Olhava a minha volta e via gente de papel, gente de vidro. Puta merda! Tava mesmo bêbada. Contive-me apenas à cerveja. Bebi mais um pouco. E depois mais.
De repente a porta abriu de supetão. Assustei. Mais com o sol forte na minha cara do que com a porta escancarada. Já era dia e a minha mãe me olhava com desgosto.

terça-feira, 11 de março de 2008

feminismo de cu é rola

Hoje eu tô tão cansada que não estou nem um pouco a fim de ter que sair de casa com esse puta sol na cabeça pra ir a faculdade. Quero ficar em casa ouvindo minhas músicas, cantando até. Tudo menos ter que sair, engatar uma primeira e botar o cérebro pra funcionar.
Eu fico pensando, a vida das nossas avós era uma maravilha. Elas passavam o dia bordando, trocando receitas com as amigas, segredos de remédios e temperos, iam a saraus e óperas, liam os bons livros das bibliotecas e dos maridos, criavam e educavam as crianças. Enfim, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária.
Até que uma fulaninha, que não gostava de sutiã e muito menos de espartilho, teve a infeliz idéia de "vamos conquistar nosso espaço?".
Porra, mas que espaço minha filha? Vocês já tinham a casa toda, o bairro todo, vocês tinham o mundo aos seus pés! Detinham poder absoluto sobre todos. Os homens dependiam de vocês pra fazer qualquer coisa, pra comer, pra vestir, pra exibir pros amigos, mas que merda de direitos requerer?
Agora eles estão aí, todos confusos. Já não sabem que papéis desempenhar na sociedade. E o pior, fogem de nós como o diabo foge da cruz! Essa palhaçada só gerou confusão e nos condenou à solteirice aguda.
Tava na cara que essa brincadeirinha não ia funcionar! Queria saber quem foi a matriz das feministas inconseqüentes e porque ela fez isso conosco que nascemos depois dela.
Não agüento mais ter que me submeter ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratante, escolher que roupa vestir, que sapatos e acessórios usar, ou qual perfume combina com meu humor. Ter que sair desesperada rua afora pra não me atrasar, correndo o risco de ser atropelada, assaltada e passar o dia corcunda na frente do computador ou resolvendo 500 exercícios lá da Engenharia.
É tudo culpa dessas malditas feministas de merda!
Somos cobradas por nós mesmas pra estar sempre em forma(leia-se anoréxica), linda, sorridente, sem estrias, depilada, cheirosa, com unhas feitas, sem falar nos currículos pra lá de dramáticos, repletos de mestrados, doutorados, pós-doutorados e especializações.
PUTA QUE PARIU!
Não era muito melhor ter ficado na cadeira de balanço fazendo tricô ?

segunda-feira, 10 de março de 2008

um rivotril, por favor

Faz uns 3 meses que eu já não quero absolutamente nada. Não tenho vontades, como se eu mesma não fosse da minha conta. Perdi o sonho. O desejo. O apetite (é óbvio que isso não é verdade... mas fica a idéia).
E depois de tanto tempo de férias, os últimos dias agora me parecem como se tivessem vindo de um universo paralelo. O mundo está estranho, as pessoas estão diferentes. São faces sem rostos no meio da multidão.
Até a brisa parece trazer um ventinho diferente, mais pesado, mais solitário... tudo está diferente e, principalmente... EU.
Estou deprimida? Tudo bem, me desleixei por completo durante esses 3 meses que se arrastaram penosamente, devo ter engordado uns 10kg sem sequer mudar a minha alimentação e bem... isso pode ser um sintoma.
Mas não sou capaz de me deprimir, aliás, sempre enfrentei todas as adversidades de frente sem reclamar tanto pelos cantos pra toda gente. O passado é passado e a vida tem que ser vivida sem remorsos... ou pelo menos, era assim que eu costumava pensar.
Não, não estou deprimida, já disse que não sou de me deprimir. Devo estar, antes de mais nada, farta. Farta da rotina e de ver sempre as mesmas caras, farta de situações e emoções simultâneas e passageiras.
Tenho saudades da espontaneidade, da criatividade, do maravilhar-se com qualquer bobeira, feito criança mesmo.
Se calhar, tenho saudade de ser eu. Verdadeiramente, sem máscaras nem moldes, sem adaptações ou subterfúgios...
Onde estou? Ou melhor, onde me perdi? Ou ainda melhor, onde perdi a minha faísca? Até ia à minha procura, mas não é da minha conta mesmo...