segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

da singeleza e brevidade

Lembrem-se de uma coisa. Sempre. É simples, nada de complicado. É até bastante simples. E é o seguinte... acompanhem-me.
Está calor. Muito calor. Está, portanto, insuportavelmente quente. A vontade de sair é inferior à média brasileira e não consegui dormir.
Há comida de sobra na geladeira, dispensa e nos outros lugares onde se guarda comida. A Sarah, esta que vos escreve, não sabe cozinhar e não tem a menor vontade de fazê-lo. Restou-me pensar e fumar.
Ideia: a idade.
A idade vai comendo a vida. Vai tolhendo o futuro e nós a observarmos. Adormece-se com um dia a menos, acorda-se com um dia a mais. O calendário muda discretamente os corpos. Vai empurrando as costas para a queda ser pequena. Os velhos sabem de cor o chão, como quem tem certeza de que está quase a chegar lá.
Desde que perdi minha madrinha, o meu respeito por quem mora no terceiro andar da idade aumentou exponencialmente. Perde-se para ganhar. E assim foi.
Com a idade, nunca escolhem o meio, escolhem sempre o fim do banco e deixam-se estar. Respiram como podem. Os olhos não procuram mais nada, já viram tudo. Vão guardando o passado em rugas.
Os velhos não vivem, deixam-se viver. Os filhos ingratos já têm a vida deles e não os querem mais. Ninguém quer as doenças cheias da idade. Eles têm de ir viajar ou fazer compras para o jantar solitário, esquecidos num semi anonimato enfastiante.
Os novos choram com o corpo todo, gritam, esperneiam e fazem caras de quem sofre. Os velhos choram só com os olhos, que o resto não se vê. Assim o fazem ao fim de cada telefonema carregado de obrigação ao invés de amor e gratidão, "o pai tá bem? Então tá, um beijo".
As mãos da idade são agora veias cansadas de mostrar o sangue para todo o mundo. As pernas vão perdendo caminho. Os braços deixam de abraçar. O coração começa a falhar, mesmo para quem amou pouco. Vai esquecendo de bater. Até que, em uma noite, desaprende. Desliga os olhos e atira o corpo para o fim.
Lembrem-se de uma coisa. Sempre. É simples, nada de complicado. Emociona-me a brevidade e singeleza da vida.

2 comentários:

Diogo Medina disse...

Bom demais.... adoro seu Blog Sarinha...

Magnum disse...

descobriu a américa! rs
relaxa, a morte faz parte da vida, fumando e pensando se chega mais rápido!