terça-feira, 1 de junho de 2010

alguma esperança

A morte é a pior coisa do mundo. Não o digo por medo ou falsos moralismos. A morte é a única coisa do mundo que nos esvazia totalmente de esperança. E viver sem esperança perde todo o sentido. Olhamos para os familiares de doentes em estado vegetativo que ainda acreditam numa recuperação que os médicos garantem que nunca acontecerá, vemos pais que ainda esperam encontrar filhos desparecidos há anos. Mas apenas a morte coloca pontos-finais. Só a morte sentencia. Só ela nos deixa mais solitários que nunca, abalando os alicerces e as fundações de um mundo que dá com uma mão e tira com a outra. E nem as teorias de vida para além da morte nos acalmam e nos reconfortam perante o desespero e o vazio da perda. E perdemos a fé e a esperança.
Mas depois acabamos por recuperar. Lentamente. Vemos no mundo quotidiano pequenas razões que nos fazem acordar a cada dia e querer lutar. Por um significado para a nossa vida. Por alguém que nos é especial. Por um rumo que decidimos tomar. Pela felicidade utópica. E só faz sentido deixar de lutar por isso quando não houver mais esperança nenhuma no mundo e, sobretudo, em mim.
E mesmo que por vezes nos dê aquela vontade esmagadora de mandar tudo à merda e simplesmente seguir em frente, sabemos que não o faremos, simplesmente por ser algo que já está em nós, que é intrínseco. Ou por sermos masoquistas. Ou talvez por termos um ideal psicótico de felicidade que nós foi condicionado quase como um dever civil e que não abdicamos de perseguir. Ou por sermos burros mesmo.
E nem sempre se tem a inteligência superior para se tirar um tempo e respirar fundo, pensar decisões, agir com a cabeça o menos quente possível, porque quando a batata-quente está nas nossas mãos, tudo o que fazemos, dizemos ou até sentimos pode repercutir de maneiras irreparáveis. E não quero me arrepender de nada. Porque, bem lá no fundo, eu sei perfeitamente o que devo fazer, deixem-me só respirar um bocadinho pra que eu possa alimentar novamente a esperança de que há um mundo menos cretino e pessoas menos babacas ali fora...

2 comentários:

Elpydio disse...

Respirar... 1... respirar... 2... uma boa técnica.

Banda Proclame disse...

Não acho que a morte seja a pior coisa do mundo. Também não concordo que a morte nos esvazia totalmente a esperança. E afirmar que só a morte sentencia, é o mesmo que dizer que sua capacidade de escrever belos textos, termina no momento em que o dia nasce, ou quando acaba a última dose de qualquer coisa que você possa ter ingerido. Acredito em vida abundante após a morte. A vida não teria muito sentido se fosse eterna, pois aí sim, a esperança seria algo despresível.
Adoro seus textos, apesar de discordar da maioria!
Beijos