domingo, 1 de julho de 2012

a verdade nos olhos dos outros é refresco

Você é uma puta!, o cara esgoelou no meio da multidão quando dela ouviu um não. Era uma loira de cabelos curtos e bem cortados, alta, esguia, com tudo no lugar, usando um batom vermelho e um vestido azul marinho não muito curto. Estava bonita e aquela atitude não passava de despeito. Ela o fitou de cima a baixo cinicamente. O sujeito era uma gracinha mas fodia mal, tiveram um caso de uma noite só tempos atrás. Sem pestanejar, retribuiu com desprezo mas você não soube me comer, seu merda!, em som uníssono e a fim de que todos os amigos dele a ouvissem. Riram, eram igualmente previsíveis.

O problema de quem se superestima e se leva a sério demais é justamente este. Quando as crenças são deitadas abaixo, o que resta são os escombros daquilo que já fora catedrático. Por esta razão, quase ninguém gosta da verdade, aliás, a verdade só é admitida até certo ponto, somente até aonde não se é afetado por ela porque ridiculariza em níveis que o ego não suporta. Muito embora a consciência agradeça, mesmo que ela pouco importe no pesar da balança. Consciência é desnecessário quando se veste uma roupa legal. Mais ainda quando você, com sua roupa legal, pode arrumar alguém para foder. Para o inferno com a consciência se o teatralismo te rende uma gozada numa noite aleatória. Consciência e verdade são atraentes apenas à distância. As pessoas as colocariam em prática caso ambas não as arreganhassem e as tornassem criaturas tão estúpidas.

Consternado com o que acabara de ouvir, num ímpeto tipicamente masculino de auto-afirmação, pegou no saco dizendo que ela havia gostado, primeira vez que diziam que seu desempenho era lastimável. Meu filho, isso que você tá segurando não é uma barra de ouro, não vale porra nenhuma, pode soltar. Queria cobrir aquela vagabunda de porrada ali mesmo, queria quebrar seus dentes e quem sabe ela pagaria um boquete melhor do que aquele que recebera. Agrediu-a mentalmente de todas as maneiras possíveis porque não tinha culhões para botar em prática, especialmente com dois seguranças trogloditas por perto, que acabaram precipitando o encolhimento da personalidade de machão dele.

Nunca entendi a aversão das pessoas à verdade, principalmente porque com ou sem ela continuamos um bando de idiotas. A diferença é que sem a verdade se é um idiota pretensioso e arrogante. Está bem ser um idiota à sua maneira, nisto não há problema algum - eu mesma o sou - contanto que se assuma idiota ao invés de esconder atrás de frases retardadas e motivacionais para aparentar ser algo maior do que é. Ame o próximo, seja pacífico, faça o bem, eles ladram por aí à medida que excluem, fingem, fofocam, enganam e dissimulam. E este é um recurso à altura de quem o pratica, coisa de gente pequena e pobre de espírito.
Por isto, passei a admirar os idiotas convictos porque, apesar de tudo, eles têm algo próximo à coragem neles. E eu gosto de coragem. Ao passo em que a mentira sempre andou de mãos dadas com a covardia. É o medo desta qualquer coisa, que apenas quem mente sabe o que é, que motiva a farsa e, normalmente, se revela algo débil no final das contas. Afligir-se pela reação alheia é meio ridículo. Obviamente, se você disser que acha tal troço uma bosta, ninguém irá enfiar um pedaço de madeira no seu cu. Portanto, não há o que temer.


Ela deu de ombros e nunca mais tocou no assunto. Ele remoeu por meses. E toda vez em que ia comer alguém, aquele pensamento aterrador de que, talvez, a mulher fosse pensar a mesma coisa estava o consumindo. Passou a dormir mal porque um sonho se repetia durante várias noites da semana: no seu abatedouro, ele arrancava as roupas da mulher, acariciava os peitos e a bunda dela mas seu pau não queria subir de modo algum. Ele acordava transpirando e todo mijado. Levantava da cama e, na ponta dos pés, buscava uma roupa de cama limpa para trocar. Ninguém jamais poderia cogitar que um homem de vinte e cinco anos andava urinando no colchão como se fosse criança.

Somos quem fazemos ser. Contudo, há quem opte pelo caminho mais fácil, que é sempre o que requer pouco esforço mental e implica seguir as regras seculares, ocupando o tempo de forma maníaca para não perceber a inutilidade das ações diárias e olha, esta realidade quando revelada pode levar à loucura. A fórmula é velha e simples: idiotização no lugar da histeria, logo, querendo ou não, torna todo mundo ainda pior. Zumbis conformados, dizendo amém e seguindo o fluxo pois falaram que era assim que tinha que ser. Não foi dada nenhuma justificativa plausível mas não se questiona absolutamente nada. E lá vem de novo aquele silêncio conivente e tão desagradável como a merda grudada na sola do sapato, seguido de sorrisos e gestos subservientes que inoculam o veneno contido neles.
E então eles vêm com aquele papo de "você deve ser agradável sempre", sem apresentar nenhuma razão ou qualquer motivo lógico. Querem que você seja agradável sobre todas as coisas, amável até com uma pedra. Pois eu digo que esta gentileza despropositada é apenas outra mesquinhez social que alimenta comportamentos perversos entre cada um de nós. Incrível como conseguem passar o tempo todo sorrindo como debilóides, acenando mecanicamente, abraçando uns aos outros, de bem com a vida e, mesmo que estejam levando no rabo, continuam a sorrir, a acenar e se abraçar tão forçosamente que já não sei se isto é sadismo ou ambição extrema.
O primordial é manter sempre seus narizes empinados e seus orgulhos intactos. Mesmo que raspem o cu com a unha para economizar papel higiênico, mesmo que sejam motivos de chacota, mesmo que sejam tapados e sem imaginação, nunca o reconhecerão, nunca dirão que é verdade, ao contrário, dirão que quem os questiona, mente. Dirão que quem está a expô-los não passa de um frustrado e amargurado. Esta é a gênese da escravidão mental. E como são medíocres. E pior do que medíocres, são fracos. Fracos de vontade, fracos de princípios, fracos de personalidade, fracos de caráter. Confesso que eu seria capaz de sentir pena se estas pessoas não me irritassem tanto.


A situação virou uma bola de neve e ele foi ficando cada vez mais nervoso, inseguro e ansioso. Já não queria encarar noitadas, evitava beber porque achava que ia brochar, começou a prestar atenção em anúncios na internet sobre como aumentar o pênis. Tomava banho e lavava seu instrumento meticulosamente enquanto murmurava "meu precioso". Cara, você tá ficando paranóico, seu amigo lhe disse certa vez. Virou uma obsessão. Sua vida passou a girar em torno do próprio pinto. O caso era preocupante.
Até que em um dia, o que ele mais receava acabou acontecendo. Uma pobre qualquer, sentindo-se incapaz de excitá-lo, tentou de tudo. Ao cabo de meia hora, ambos desistiram e se sentaram meio distantes. Isso nunca me aconteceu antes, ele disse humilhado. Ela respondeu que aham, tudo bem, sexo não é assim tão importante. Mentira, lógico. Acendeu um cigarro e ficou ali enquanto assumia a função de psicóloga do rapaz. Seus problemas de ereção o levaram a procurar um proctologista que o encaminhou a um terapeuta.

Um comentário:

Pão com òcio. disse...

Vi alguns conhecidos no texto. Ja me alugaram pra contar estas histórias de 4 paredes.POrra, rasgar o cú com a unha foi foda. Eu tomo um banhão mesmo depois de uma cagada deliciosa; quando da vontade e não estou em casa seguro até empedrar, mas dificilmente faço meu "trampo onde não da pra tomar um banhão. Porra, papel higienico mesmo que de qualidade provoca fissuras anais e até hemoroidas meu. Vou adiando o proctologista até onde dá.