sexta-feira, 21 de setembro de 2012

pelo menos através da janela eu consigo ver a luz

Num daqueles papos que costumávamos ter durante a caminhada, o B. nos contou que ele havia galgado sete anos da sua vida em frente ao computador, observando de rabo de olho uma parede verde durante todos os dias, disse que depois de aposentar continuaria vendo aquela mesma parede verde. Eu passei muito tempo em frente ao computador, dentro do meu cubículo que às vezes costuma atender por quarto, mantendo uma relação equivalente - e até meio sórdida -, com a janela. Aliás, ela sempre assumiu a forma do atalho imaginário que eu escolhia pros meus problemas. Colocaria minha bunda branca ali, jogaria o corpo pra frente e pronto. 
Nunca o fiz, claro. Sobretudo porque não acho que seja a hora, talvez uma bigorna me atinja antes que eu crie coragem de me impulsionar pra fora do parapeito ou qualquer coisa assim, não sei. Só tenho medo de que tanto um acidente quanto um salto fatídico me ocorram ou tarde demais ou cedo demais. Então encerraria minha participação patética no mundo ou como um talento prematuramente desperdiçado ou como uma fracassada suicida. Ainda não determinei qual será o momento exato em que deverei sair de cena, a idéia é algo como quando um jogador decide que vai deixar os gramados no seu auge, ao passo em que outros insistem e acabam cagando com tudo. Ou como a Amy Winehouse que se foi antes que virasse uma Whitney Huston. Tanto faz. Por isso entenda que quero perder as chatices dos coquetéis mas também não quero comer restos no lixo. Portanto, o que me falta mesmo é o timing.
Considerando que abri mão de ser diplomada, a ácida realidade é que não irei desfrutar de um emprego em banco recebendo um salário generoso, não irei me relacionar com milionários e sequer receberei cem paus por um rolo de papel higiênico. Todavia, não é isso o que eu priorizo, muito embora tenha sido precisamente isso o que considerava ser felicidade há uns sete anos atrás. A típica felicidade de merda, traduzida em objetos que decorariam uma casa fria e estúpida, com alguns quadros de algum pintor da moda pra quebrar todo aquele gelo e distanciamento, aonde eu receberia meus amigos igualmente estúpidos e frios com suas conversas repletas de certezas, cotações e problemas conjugais ou triunfos financeiros e conquistas tão baldadas quanto a própria vida deles. De modo que não haveria outros meios disponíveis pra me tornar ainda mais ôca.
Minha objeção às convenções e regras é insistente pra que eu não me torne vazia de vontade própria. Objetivamente, não há vantagem alguma em estar atrelado a um estilo de vida imposto por algum babaca montado na grana e que, obviamente, só intenciona perpetuar a ilusão do seu status. Aliás, não existe diferença entre um animal de tração com antolhos e uma pessoa que se devota à escravidão mental, exceto pelo fato de que um ser humano, normalmente, o faz com voluntariedade.
E bem, confesso que por essa minha total inclinação à contravenção, as minhas perspectivas não são nem um pouco animadoras, contudo, no que concerne a anulação de si mesmo, as minhas chances de seguir a vida como uma vaca de presépio são menores do que as dele. Além disso, a janela permanecerá ali: solícita, gratuita e à espera. Porque tudo espera até mesmo a janela, essa ou qualquer outra em qualquer outro lugar. Ao contrário de uma parede verde, que não permite que nada entre, que nada saia e, menos ainda, é capaz de eventualmente resolver os problemas de alguém.

Nenhum comentário: