segunda-feira, 12 de maio de 2008

psiconeurose

Ontem, sentada bem aqui nessa minha cadeirinha, sob a luz do monitor iluminando soturna e lateralmente meu corpo, com minhas mãos alvas sustentando meu rosto cansado, olhei através da janela levemente empoeirada e vi que à noite quase todos haviam desfalecido, exceto eu e alguns gatos pingados, atormentada por mais uma crise de insônia que me impediu de dormir por algumas noites consecutivas.
Todos haviam entregado-se ao estado latente, a fim de percorrer os caminhos tortuosos dos sonhos, submergidos em esperanças secretas concretizadas no patamar sublime dos devaneios. Pude ouvir minha respiração docemente branda atenuando a morbidez do silêncio, até apreciei o gosto fúnebre das horas, que corriam em passadas grosseiras, que passavam e não passavam - e passavam e repassavam - construindo um novo futuro que ainda era presente. Futuro do que na verdade ainda é...
Ora! futuro é dia após o outro, eu vejo o futuro do que passou ao despertar, sob a luz da alvorada mansa. Se pouco durmo percebo poucos futuros. Vivencio futuros com menos freqüência do que os demais?

Talvez seja a cafeína em demasia a culpada - a única culpada nessa história.

Futuros que pouco vejo, futuros presentes, futuros pretéritos, futuros futuros. Participo pouco dos futuros por dormir pouco. E deveria ser o oposto, minhas participações nos futuros são ainda maiores do que quando me liberto da vida consciente de quando se está desperto. E então me ocorre: quando não durmo não vejo futuros ou só os vejo durante a insípida madrugada?
Talvez seja eu quem viva em estado latente. Ou não. E então me dizem que ¨é
tudo uma questão de ponto de vista¨. Uma ova! Se não vejo futuros como poderia ter quaisquer pontos de vista sobre eu ter meios-futuros? Pois quero futuros completos! Devia-se vender futuros. Talvez em envelopes de figurinhas, onde vez ou outra se encontra alguma especial. Talvez eu até os encontre em fascículos semanais - nove e noventa está de bom tamanho, não menos para valorizar, afinal, estamos tratando de futuros...! Ou quem sabe em uma loja de departamentos? Um financiamento em parcelas suaves - e sem juros. Mas ainda assim seriam meios-futuros...
Porra! Estou-me nas tintas com essas metades! Esses meios-termos, essas meias-verdades, as meias-horas, meus meios-amigos, minhas meias-paixões e as bostas dos meus meios-futuros. Gostaria de saber onde posso encontrá-los inteiros...

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