terça-feira, 7 de julho de 2009

discorrendo por nada

Quando a doçura do meu sono fora violentada pela urgência do novo dia que se impunha, com o inegável fato de que já eram horas de levantar, senti-me sufocada pela circunstância de estar viva e de ser obrigada a existir por mais 24 horas. Há dias em que não sinto vontade de ser.
Meus pés se atropelaram e tropecei na claridade intrusa, caí de cara no chão da realidade que presumia o novo, que de novidade nada tinha. A rotininha aborrecedora constituída de pormenores azedos que, se tomados como um todo, não fazem a menor diferença, porque embora a mesmice diária se difira em detalhes, em suma mantem-se a mesma.
Abri os olhos com dificuldade, devido à quantidade excessiva de remelas, e reparei que o pijama que me abrigava sorria despreocupado das memórias que o conduziam à avenida das consternações, olhando ao redor como um atento expectador de um circo de aberrações, com questionamentos discretos sobre a veracidade daquela atmosfera surreal de que dispunha para entreter-se por um pequeno momento, fazendo-se, assim, algo enorme na terra de diminutas convicções.
Na minha cabeça, comiam quatro atitudes: a dúvida, a certeza, a confiança e a suspeita. Discutiam entre si, entre garfadas gulosas e gargalhadas histéricas, os planos para o futuro e brindavam ébrias às memórias do que depois será, sem considerar o que sempre seria.
E no jardim da minha vida, mangueiras regavam as sementes que plantei numa fúria molhada de arrependimentos. Via afogarem-se as plantações da vida e as suas questões. Ninguém desligava as torneiras e a inutilidade das ações insistia e se repetia em litros de desperdício. Há dias em que não vale à pena ser...

2 comentários:

Unknown disse...

Vc escreve muito bem, parabéns, me lembrou Clarice Lispector. Mas talvez o texto tenha ainda me tocado mais por reconhecer a mim mesmo algum tempo atrás. E sabe que eu só "sarei" quando ocupei meu tempo todo com coisas que exigiam minha concentração, pois então não sobravam tempos para se pensar, aí então a gente olha pra fora que é onde as coisas acontecem. Pena que agora eu não consigo mais escrever coisas que prestem... era só pra isso que minha melancolia servia.

Unknown disse...

se você ficar falando sempre do quanto é amargo, o doce não vai ficar mais doce por causa disso...