sexta-feira, 20 de novembro de 2009

sonho mau

Era um quarto que se podia devorar em 5 passos. Cinzento de vontade e bafiento de desânimo. Estava muito calor e o chão rangia a castanho esquecido. Sentei no colchão de molas tristes, que me arranhavam a dignidade, e pensei na saudade. Sobretudo, na saudade que tinha de não sentir saudade, pois era essa a primeira carta que caía do meu castelo de sonhos instáveis.
Olhei para a rota de desleixo e chorei. Chorei pela vontade. Senti toda a solidão do mundo de dentro daquele quarto e olhei a paisagem da janela. Era de dia e estava sol, mas os meus olhos só viam escuridão. As paredes aproximavam-se no adensar do desalento e percebi que tinha que sair. Algumas roupas gastas mais tarde, cheirava a cidade no seu interior e caminhava na razão do pensamento.
Segui os caminhos da infância e aproximei todo o resto ao olhar. A cidade corria ao ritmo dos afoitos e o calor encolhia vaidades. Observei todos e cada um, e pensei com inveja onde iriam com tanta certeza, com tanta vontade de lá chegar.
No canto mais fresco da marquise, um monte de merda que não identifiquei escondia um corpo. Dormia de sujidade e esquecimento. Aproximei-me e toquei no que parecia ser um ombro debaixo de roupa velha. Reagindo ao toque, o corpo virou-se e fixou o horror de espanto: era a minha cara que ali estava, debaixo de muito cabelo e imundície!

Acordei transpirando e esticando o fino lençol que já não se via de tanto esticar. Sentei-me na cama de molas ainda tristes e olhei ao redor. Havia voltado sem nunca ter saído.

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