terça-feira, 27 de novembro de 2012

reflexões escritas no balcão de uma lanchonete da rodoviária de juiz de fora

Então eu estava ali mofando na rodoviária porque depois de perder o ônibus por dois dias seguidos, não quis correr o risco e acabei exagerando no chegar mais cedo por isso cheguei cedo demais. Duas horas de espera curtindo uma ressaca de leve, aliás, havia tempo que as rebordosas alcoólicas eram tão intensas que um simples desconforto físico já me figurava como motivo de celebração. Pois bem, eu estava sentada pensando sobre a grande escritora que nunca serei, sem protagonizar uma propaganda da Nextel contando minha história de superação na vida, omitindo as cagadas e os podres só pra poder conferir a aura de respeitabilidade do Cristo escorraçado e crucificado, esparramada naquele banquinho e muito puta da vida por ter que gastar dinheiro pra reaver meus pertences, além de ter que olhar no focinho mal esculpido da minha irmã, que pretende me extorquir uma quantia exorbitante considerando o tempo que morei com ela no Rio de Janeiro. O que me incomoda mesmo é ter que vê-la com aquela cara meio estranha aonde só se nota a gengiva superior saliente demais que sorri esguichando peçonha, a testa imensa que começa no meio do crânio como um homem calvo e é enxergar tudo isso de perto sem poder dar um murro, um soco apenas, nada mais e foi quando comecei a me sentir péssima de verdade por querer enfiar a mão no rosto de macho dela. Zaaaaas! Acabou de passar um homenzinho deficiente em um skate, a falta de mobilidade bípede foi suprimida por um par cintilante de luvas verde-bandeira, mentira, nem sei o que é uma cor verde-bandeira, que protegiam as suas mãos durante remadas frenéticas, deslizando pelo piso liso, deixando o rastro no ar do seu Zaaaaas alucinado e aquilo é dotado de uma coragem imensa ou extravagância absurda que não consigo exprimir e me ocorreu que talvez seja ele quem mereça uma propaganda da Nextel ou um programa inteiro em sua homenagem e é mais merecedor disso do que eu. E toda vez que vejo cenas desse naipe, me compadeço e passo a achar o mundo tão lindo como deveria ter achado a vida inteira, ao invés de odiá-lo a cada segundo por toda a minha existência como sempre fiz. E aqui estou eu me perdendo em digressões quando, na verdade, eu só queria contar que senti um perfume misturado ao meu e que os dois juntos formavam precisamente o cheiro ao qual já estou me acostumando de forma arriscada, principalmente porque sou uma pessoa de hábitos perigosos, estúpidos e masoquistas, e o odor algemado às minhas narinas me fez perceber que até gostava daquilo de uma maneira melancólica e insana, como tudo que é próprio de mim, quase senti uma saudade meio doida que já nem sei definir se é carência ou vontade, só sei que vai acabar em merda...

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