sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

do gozo se vem e pelo gozo se vive

Com uma das mãos ele desceu a alça da camisola de seda dela com a delicadeza que nunca teve, a outra tratou logo de embrenhar pelo occipital menor - aquele trecho que compreende a nuca e a parte atrás da orelha -, enquanto olhava dentro dos seus olhos escuros. Sentiu na pele áspera dele a pele lisa dela e a temperatura baixa daquele corpinho trepidante que poderia retorcer se quisesse. Mas não queria. Toda a gentileza e carinho eram apenas pretextos que dissimulavam a sordidez dos seus pensamentos. Queria comê-la ali mesmo sem se importar com as roupas ou se a camisola entraria junto como uma camisinha. Mas não podia. Amabilidade era o caminho moralmente aceito que o levaria até o par de vulvas que ela tinha entre as coxas.
De longe eram apenas silhuetas safadas no escuro, mas de perto não passavam de duas criaturas patéticas na noite que tentavam, sobretudo, dignificar um pouco essa qualquer coisa animalesca que conduz os seres humanos ao sexo. Pessoas... essas criaturas odiosas e repugnantes que são capazes de ferir e violar por uma gozada. De dizer para depois desdizer por uma gozada. De fingir por uma gozada. De mentir e ludibriar por uma gozada. De deixar um rastro de bosta, de tristeza e de horror por uma gozada. E uma gozada dura 30 segundos.
Acariciou sua bunda redonda, apertou seus peitos como um peão ordenhando uma vaca, ela correspondia com equivalente lassidão, deslizando suas mãos pelo corpo dele em um ciclo que sempre terminava no pinto. E os gestos dela eram como um hamster fazendo trajetos em uma gaiola apertada. Da casinha para a roda, da roda para a plataforma, da plataforma para a escada, da escada para a roda. Do pescoço para o peitoral, do peitoral para as costas, das costas para a bunda, da bunda para o pinto. Aliás, o homem é um pinto e pintos não são espertos.
O mundo está entupido de gente. Gente que se encontra abaixo da linha de pobreza, tem dez filhos e ainda quer uma gozada. Políticos que constrangem suas famílias por uma gozada. Até o PC Farias adormeceu, foi alvejado na cama e morreu de bobeira por uma gozada. O cara vai pra noite por uma gozada. A mulher vai pra noite atrás de uma gozada. E não, não recebem um troféu por isso, nem uma medalha de honra ao mérito ou uma estrelinha dourada no caderno como congratulação. O prêmio é apenas mais uma dúzia de gozadas, o que reduz uma espécie inteira a um grande e melado esporro.
Transaram como bichos. Ao final, ela deu de ombros e acendeu um cigarro. Não queria papo, só queria ver aquela coisa longe dali. Ao perceber isso, ele se mostrou um homem confuso e estúpido, perdido e sem condições de exercer a função secular que lhe foi designada de se sentir a última folha de coca da Colômbia após uma trepada. Pra duas pessoas que buscavam apenas orgasmos, até que estava de bom tamanho. Ela conseguiu e ele, apesar de tudo, se sentiu diminuído e usado. Tudo no seu devido lugar.

Nenhum comentário: