segunda-feira, 3 de setembro de 2007

resignação

Havia um bom tempo que não escrevia coisa alguma, até então, não me tinha ocorrido nenhum lapso poético, e sem algo para fazer nessa tarde quente e melancólica de mais uma segunda-feira que ensaia as segundas-feiras quentes e melancólicas de verão, pus-me a ler as últimas bobagens que arrisquei registrar. Deslizei meus olhos, pensei e cheguei a uma conclusão baldada: preciso sofrer para sentir-me inspirada.
A verdade é que há algum tempo, sentada com um grande amigo a jogar conversa fora, já havia comentado sobre a minha dependência crônica da dor, por mais que tudo isso pareça ter algo a ver com sadismo, insisto em afirmar que não tem nada a ver com sadismo, assemelha-se muito mais com o meu afeto íntimo pelo sabor amargo da vida, o fato é que sofrer sempre me rendeu dúzias de narrativas sonsas sobre minhas mágoas. Aliás, tocando neste ponto, eu passei a crer, desde pouco tempo, que a felicidade coarcta minha capacidade de criação, por isso a dor se tornou o único mecanismo que domino para decodificar a vida que eu levo, o único sentimento que aguça minha percepção do abstrato.
Durante esse tempo todo, enfatizei com maestria as nuances da minha falta de escrúpulos porque sempre me senti na obrigação de tentar justificar, de alguma forma, minhas atitudes mal-avaliadas, talvez por ter me enfastiado dos rótulos que me foram impostos por gente que nem eu mesma sei quem é, essa gente incapaz de ¨ver-além-da-esquina¨ por quem eu não me importo tanto assim e vice-versa, por isso eu escrevi meus textos dirigindo-me a leitores hipotéticos, na esperança de que eles algum dia fossem me admirar e me desculpar por tudo e assim eu teria minha dignidade reavida, mas quem se importa?
Essa gente que lê meus textos contempla a minha dor, compreende a minha dor, saúda a minha dor e meia hora depois já não se lembra mais. Essa gente me diz que sou uma pessoa brilhante, surpreendente e talentosa e meia hora depois meu significado já não significa mais nada, porque ninguém se importa realmente. O meu sofrimento faz com que os outros se sintam mais vivos e corrói a mim mesma, sem que haja uma recíproca justa nessa circunstância de lucros, eu não ganho nada.
A minha dor comove e isso é bem simples, pra ser sincera, tudo isso não passa de uma ótima fachada ao meu fiasco enquanto ser humano: eu continuo errando porque futuramente alguma historinha bacana será escrita. Por hora, basta saber que não há nada definido, escreverei até onde me renderem as palavras ou até me cansar, até que alguém chegue ou até que o mundo acabe.
Quem se importa?

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