sexta-feira, 13 de julho de 2007

a sabedoria cósmica dos troninhos


- Manhê!, acabei!
Esgoelava pela minha mãe sentada em um troninho de plástico. Sentia o suor frio despontar na testa, o rostinho corar e formigar, todas as sensações de um misto de vergonha e medo. Pudera: não tinha destreza o suficiente para me limpar.
O engraçado é que me recordei disso após ter-me lembrado de uma reportagem no Fantástico sobre a idade ideal para para se começar a praticar esportes. De yoga para bebês à crianças de dois anos jogando tênis. Inventa-se de tudo para tirar todo o dinheiro de todo o mundo hoje em dia. Tudo em nome do bem-estar social e da baixa taxa de marginalidade, é claro. A busca utópica por seres humanos suscetíveis de perfeição.
"Quero fazer do meu filho um Guga", esse foi o pedido de um pai que procurou Batatinha, o instrutor dos pequenos prodígios e que ele, o técnico, reproduzia com veemência e orgulho. Essa foi uma das cenas mais deprimentes que já vi na TV: um jogador de tênis fracassado, cuspindo declarações de amor para crianças sem coordenação motora que, obviamente, não davam a mínima.
O fato é que o tal Batatinha ensinava tênis para crianças havia 8 anos. Há exatamente 8 anos atrás, eu praticava vôlei com o Tidinho. E há longos 17 anos atrás, eu fazia cocô em um troninho de plástico com desenhos simpáticos de girafas.
A questão que me comoveu é que, ainda, não me havia passado pela cabeça a idéia de que houvesse uma linha tênue que aproximasse o esporte, coletivo ou não, do ato de fazer cocô propriamente dito desde os primórdios da vida de um indivíduo. Explico: ambas são ações saudáveis, imprescindíveis e das duas pode-se fazer uma arte, já que a prática leva à perfeição.
Diferentemente do pai da reportagem, não quero que meu varão seja um Guga, talvez ele seja um médico, engenheiro, advogado ou, simplesmente, meu filho afine o ator de defecar e faça dele mais do que uma arte, mas um hobby.
Quem sabe ao chegar em casa, eu encontre um lindo presente de dia das mães esperando por mim no vaso sanitário. Não muito duro, não muito mole: perfeito.
Enfim, como articulava, aprender a limpar a bunda é só o começo, um grande passo na evolução.

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