sábado, 3 de novembro de 2007

casual

Eu estava suada, levemente alterada, discretamente satisfeita. Acendi um cigarro e virei pro lado como quem diz "não quero papo", com o lençol cobrindo a parte das ancas - a bunda, as coxas e essas coisas -, deixando as pálpebras caírem e ele estirado bem ao meu lado, com uma das mãos apoiadas sobre o meu seio e disposto a se comunicar, porque esse é o novo discurso do homem do século XXI, ele já não vira pro lado e dorme, ele quer discutir paradigmas de butecos, contar piadinhas de salão ou mostrar ser o último romântico a ponto de discorrer por horas sobre o quão espetacular você foi, mesmo que não largue o seu peito. Por essas e outras eu digo: homens bons, são homens calados.
Não havia sido nenhuma maravilha, mas ao menos não estava só, embora a companhia não ultrapassasse o limite do que é tolerável. Burra mesmo é a mulher que pensa "antes só, do que mal acompanhada", meus instintos não só oprimem como suprimem todas essas filosofias de Orkut.
Olhei-o com apatia e descaso, concordei com tudo por pura misantropia e não sei nem ao menos sobre o quê ele falava com tanta euforia. Eu só precisava de uma .44 Magnum para apontar-lhe na testa ou para apontar pra minha testa. Os pingos pesados caíam lá fora mas eu mal podia vê-los porque as janelas estavam suadas e o quarto abafado (ver Titanic).
Ainda bem que a chuva tem lavado as imundícies das ruas, podia aproveitar e carregar pros esgotos o resto do lixo que se locomove por aí, cheio de charme latino e vomitando cantadas ridículas que, estranhamente, sempre funcionam comigo...

Um comentário:

Maiara Zortéa disse...

na verdade eu sempre disse que "homem bom é homem assustado", mas calado também serve.

(e como serve!)